Após pressões, Canal do Panamá rompe acordo com a China e nega exigências dos EUA de direitos preferenciais

A decisão ocorreu após pressões dos Estados Unidos para reduzir a influência chinesa

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José Raúl Mulino é um homem idoso de cabelo grisalho
Legenda: O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, foi quem anunciou o cancelamento do acordo econômico da Rota da Seda com a China
Foto: Handout / PANAMA'S PRESIDENCY PRESS OFFICE / AFP

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou, nesta quinta-feira (6), o cancelamento do acordo econômico da Rota da Seda com a China, após pressões dos Estados Unidos para reduzir a influência chinesa no Canal do Panamá.

Mulino garantiu que a embaixada do Panamá em Pequim "apresentou o documento correspondente" para "anunciar o cancelamento com 90 dias de antecedência", como estabelece o acordo. "Essa é uma decisão que tomei", acrescentou o presidente em coletiva de imprensa.

O anúncio ocorre quatro dias após a visita do secretário de Estado americano, Marco Rubio, que viajou com a missão de contrabalançar uma suposta ingerência da China no canal interoceânico, que o presidente Donald Trump ameaça retomar.

O acordo da Iniciativa Cinturão e Rota contempla o financiamento de projetos de infraestrutura com fundos chineses para impulsionar o comércio e a conectividade na Ásia, na África e na América Latina. Mais de uma centena de países aderiram o acordo, um projeto emblemático do governo de Xi Jinping, lançado em 2013.

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Acordo

Após se reunir com Rubio no último domingo (2), Mulino havia antecipado que deixaria expirar o acordo assinado pelo Panamá em 2017 pelo então presidente Juan Carlos Varela (2014-2019). Segundo a carta de entendimento, o acordo é renovado a cada três anos de forma automática — a próxima seria em 2026 —, mas contempla que "pode ser rescindido por qualquer uma das partes" notificando a outra com três meses de antecedência.

"O que isso trouxe para o Panamá em todos estes anos? Quais são as grandes coisas? O que essa 'Belt and Road Initiative' trouxe para o país?", questionou o presidente.

Na segunda-feira (3), Rubio qualificou como um "grande passo" para fortalecer as relações com Washington a decisão do Panamá de não renovar este acordo. Os EUA consideram que a iniciativa busca a influência de Pequim em todo o mundo e é um perigo para a segurança.

"A cooperação entre a China e o Panamá no marco da Iniciativa Cinturão e Rota está se desenvolvendo com normalidade e vem obtendo resultados frutíferos", declarou nessa quarta-feira (5) o porta-voz da chancelaria chinesa, Lin Jian. O funcionário havia dito que esperava que os panamenhos resistissem "às interferências externas".

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O governo panamenho também disse que é "falsidade absoluta" o anúncio do governo dos Estados Unidos de que seus navios não pagarão para transitar pelo Canal do Panamá. Em entrevista coletiva, o presidente Mulino expressou "rejeição" absoluta ao comunicado feito pelo Departamento de Estado.

"Isso é intolerável, simplesmente intolerável", disse Mulino. Ele deve telefonar para Trump para trata do assunto nesta sexta-feira (7).

Na rede social X, o Departamento de Estado afirmou que o governo panamenho concordou em "não cobrar mais tarifas dos navios do governo dos Estados Unidos", o que representaria uma "economia" de milhões de dólares. No entanto, a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), um organismo independente do governo criado para administrar essa via estratégica, desmentiu o anúncio, explicando que não ajustou nenhuma tarifa.

Contudo, embora tenha desmentido Washington, a ACP assegurou estar disposta a dialogar com os Estados Unidos "a respeito do trânsito de navios de guerra".

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