Resta hoje uma semana para o 3 de novembro, data marcada para a votação que escolherá o próximo ocupante da Casa Branca. Os resultados apontados pelas pesquisas feitas até o momento mostram um cenário desfavorável para Donald Trump, que tenta a reeleição, o que tende a impactar todos os países, principalmente os governos alinhados ideologicamente com a política externa do atual presidente dos EUA, segundo analistas. A eleição do republicano em 2016 representou um momento de ascensão de governantes identificados com a direita e com uma postura populista.
O pesquisador do Observatório das Nacionalidades da Universidade Estadual do Ceará, Gustavo Guerreiro, lembra que a vitória de Donald Trump naquele ano representou a consequência de um aumento da força de lideranças e movimentos identificados com a direita em outros países. "É um movimento estrutural. Sempre que há um momento de crise no capitalismo, existe essa tendência de ascensão das forças da direita no mundo", argumenta.
Devido à importância dos Estados Unidos, contudo, a eleição de Trump consolidou este movimento há quatro anos. Portanto, uma eventual derrota em 2020 representa um estremecimento para os governos identificados com o republicano. "A derrota do Trump significaria uma derrota de uma corrente política de direita. É um ideário que sofre uma derrota, o que pode influenciar outros países, inclusive o Brasil", ressalta o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Pio Penna Filho.
Ele aponta ainda que esse resultado pode favorecer a eleição de governantes moderados - nem identificados com a direita mais extremista nem tão pouco com as pautas da esquerda. "A derrota do Trump traria como grande impacto a moderação (nos futuros governantes), com lideranças mais ao centro", indica.
O democrata Joe Biden prossegue à frente nas pesquisas eleitorais realizadas nos EUA, principalmente em estados considerados chaves para a eleição - aqueles que não têm uma tendência histórica de votar nos republicanos ou nos democratas. Trump segue realizando uma série de viagens em busca de converter votos e conquistar todos os delegados eleitorais dessas regiões.
Contudo, esta tem sido uma eleição atípica. Com a pandemia de Covid-19, mais de 50 milhões de eleitores dos EUA optaram por votar antecipadamente - número recorde. Em 2016, haviam sido 46 milhões.
Pio Penna Filho explica, entretanto, que eventual vitória de Biden deve resultar em pequenas mudanças na diplomacia feita pelos EUA.
O pesquisador afirma que existe uma estabilidade na conduta do país internacionalmente, independentemente do governante que ocupe a Casa Branca, a partir de janeiro.
"Eles têm uma noção de continuidade na política externa que não se rompe facilmente com a mudança de governo", argumenta. Por conta disso, as alterações não devem ser radicais, mas devem ter consequências. "São mudanças pequenas, mais sensíveis", ressalta Penna.
Gustavo Guerreiro aponta que estas mudanças devem ocorrer principalmente em alguns assuntos específicos, que tiveram a influência direta de Trump.
"Uma possível saída dele da presidência deve provocar uma reviravolta na política protecionista que os EUA adotaram durante o seu Governo. O Biden tende a retomar um caráter menos reacionário em relação aos organismos internacionais", detalha.
Multilateralismo
Crítico do multilateralismo, Trump tem sido responsável pelo enfraquecimento desse sistema nestes quatro anos no comando dos EUA. Entre os alvos do republicano estão a Organização Mundial do Comércio (OMC) e, mais recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS). "A derrota de Trump, se ocorrer, tende a frear essa contestação do multilateralismo. É possível, inclusive, que eles voltem a colaborar com a OMS e com algumas instituições internacionais. Contudo, se ele ganhar, a situação ficará pior", acrescenta Pio Penna.
Outras mudanças que devem ocorrer na diplomacia dos EUA é a conduta adotada em dois temas centrais no discurso trumpista: a mudança climática e a crise migratória.
Brasil
As relações com outros países também devem ser impactada pelo resultados da eleição americana. Alguns - como Reino Unido, Canadá, Austrália - têm uma relação consolidada com os EUA e tendem a sofrer poucas consequências com uma eventual mudança no comando do país.
Existe, por exemplo, uma alteração na relação com duas potências: Rússia e China. Caso Biden vença a disputa presidencial, a tendência é de que a relação com a Rússia piore, na mesma medida em que a relação com a China - com a qual Trump tem travado uma guerra comercial - melhore.
Na América Latina, dois países devem ser os mais impactados por uma vitória democrata: Brasil e Colômbia. "Os dois vêm sendo usados como contenção da influência chinesa na região", explica Guerreiro.
Para os pesquisadores, o impacto para o Brasil se deve, principalmente, ao alinhamento do Governo de Jair Bolsonaro (sem partido) ao presidente Trump.
"Se Trump perder lá, o que vamos fazer? O Brasil vai ficar órfão, porque a política externa do Governo até agora tem sido seguir a do Trump", ressalta Pio Penna. "Um vitória do Biden pode isolar o Brasil no cenário internacional", concorda Gustavo Guerreiro.
Ele explica de que forma esse isolamento pode influenciar na vida dos brasileiros. "Existe a possibilidade de perda de negócios. Perdendo negócios, o País se aprofunda na crise econômica. Entre as implicações, pode ocorrer o aumento do desemprego ou mesmo o aumento de preço das mercadorias", detalha.
Nomeação
O Senado dos EUA confirmou, ontem (26), a nomeação para a Suprema Corte de uma juíza indicada por Trump, que assim poderá se gabar, a sete dias da eleição, por ter consolidado a maioria conservadora na maior instância judicial do país.