Mais de 1.400 golfinhos-de-laterais-brancas foram mortos no domingo (12) durante uma caça tradicional nas Ilhas de Faroé, Dinamarca. As imagens dos mamíferos sangrando na faixa de areia na praia geraram muitas críticas. Nesta terça-feira (14), o governo local defendeu a tradição.
"Não há dúvida de que a caça de cetáceos nas ilhas Faroé é um espetáculo dramático para aqueles pouco acostumados a caçar e matar mamíferos. No entanto, estas caças são bem organizadas e totalmente reguladas", disse à AFP um porta-voz do governo de Torshavn.
O "grind" ou "grindadrap", costume ancestral anual do arquipélago, consiste em encurralar com barcos um grupo de pequenos cetáceos — mamíferos exclusivamente aquáticos representados pelas baleias, botos e golfinhos — em uma baía. Assim, os animais ficam ao alcance de pescadores que ficaram em terra, que os abatem a golpes de faca.
Os habitantes locais costumam caçar baleias-piloto, mas no domingo foram 1.423 golfinhos-de-laterais-brancas, cuja caça também está autorizada. O massacre ocorreu em um fiorde perto de Skala, no centro do arquipélago nórdico.
"Não temos tradição de caçar estes mamíferos, costuma haver alguns na caça, mas não costumamos matar tantos", explicou um jornalista da TV pública local KVF, Hallur av Rana.
Segundo ele, uma captura desta magnitude nunca tinha sido realizada. Informações do portal G1 indicam que em 2020, 35 golfinhos foram mortos em comparação com os quase 1.500 animais deste ano.
O chefe de um grupo que caça baleias-piloto no centro das Ilhas Faroé, Heri Petersen, relatou ao portal in.fo. que na ocasião havia muitos golfinhos e poucas pessoas na praia para matá-los.
"Parece bastante extremo [o número desta edição, mas] faltou tempo para matar a todos quando geralmente é bastante rápido", acrescentou o jornalista, que afirma que 53% da população do arquipélago é contrário à pesca desta espécie.
A caça nas ilhas do Atlântico Norte é liberada e não visa fins comerciais, conforme o G1, mas ainda motiva crítica dos ativistas ambientais, que alegam ser algo cruel. A caça aos golfinhos e baleia faz parte de uma tradição criada no século XVI. O produto da pesca não é comercializado, mas a carne é utilizada.
O Ministro das Pescas das Ilhas Faroé, Jacob Vestergaard, disse à emissora de rádio local Kringvarp Foeroya que tudo foi feito conforme as regras da caça aos golfinhos.
Segundo estimativas locais, há cerca de 100.000 baleias-piloto nas águas ao redor deste arquipélago de cerca de 50.000 habitantes.
Organização diz que prática foi ilegal
A ONG ambientalista Sea Sheperd considera o "grind" uma "prática bárbara", mas as autoridades das ilhas Feroé sustentam ser um sistema de caça sustentável.
Segundo a instituição, moradores locais afirmaram que essa caçada violou várias leis que regulamentam o grind. Conforme os relatos, o capataz do distrito nunca foi informado e, logo, nunca autorizou a caça. Em vez disso, foi o capataz de outro distrito que liberou a prática deste ano sem a autoridade adequada.
Outra irregularidade apontada foi que muitos participantes da caça não possuíam licença, algo é exigido no arquipélago, pois envolve treinamento específico sobre como matar rapidamente baleias-piloto e golfinhos. No entanto, segundo a ONG, nas imagens enviadas pelos habitantes mostram que muitos dos animais ainda estavam vivos e se movendo, mesmo após serem jogados na costa com o resto do casulo morto.