O governo dos Estados Unidos emitiu um alerta à Europa indicando que o aumento de forças militares nas fronteiras da Rússia com a Ucrânia pode sinalizar uma invasão de Moscou ao país vizinho.
O problema se dá em meio a uma disputa com a União Europeia (UE) que envolve sanções e milhares de refugiados. Na contenda, o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, ameaçou cortar o fluxo de gasodutos russos que passam pelo território gerido por ele. Isso poderia deixar milhões de europeus sem gás natural.
"Estamos aquecendo a Europa, por que estão nos ameaçando dizendo que vão fechar a fronteira? E se nós fecharmos o fornecimento de gás para lá [Europa]?", declarou Lukashenko durante uma reunião ministerial. "Eu recomendo aos líderes da Polônia, Lituânia e outras pessoas sem cabeça que pensem antes de falar".
Uma redução no volume de gás que chega à Alemanha por meio do gasoduto Yamal-Europa foi detectada desde a semana passada. O fluxo, porém, foi normalizado após o presidente russo, Vladimir Putin, intervir. A redução no fornecimento à Europa, que passa por alta nos preços da energia ligada ao aumento da demanda, não foi detalhada.
Acusações
A Bielorrússia é acusada de conduzir grupos de imigrantes oriundos da África e do Oriente Médio a áreas de fronteira com a Polônia, forçando-os a tentar passagem ao país vizinho e, consequentemente, entrando na União Europeia. As autoridades polonesas, porém, têm se recusado a receber os imigrantes ou sequer aceitar pedidos de asilo.
Dado o impasse, o clima severo na região e a existência de violência por parte das forças de seguranças dos dois lados, diversas pessoas estão adoecendo. Ao menos dez pessoas, incluindo crianças, morreram em razão dessas circunstâncias.
O representante do governo do Curdistão iraquiano na Rússia, Hoshavi Babakr, tratou do assunto à agência RIA. "Eles estão passando frio na floresta, estamos falando de pessoas morrendo. Se não fizermos nada, pessoas podem morrer", destacou.
Apesar da mobilização de autoridades iraquianas para o retorno dos imigrantes, a maioria se recusa a voltar ao país.
Resposta da Polônia
Em resposta, a Polônia enviou mais de 15 mil militares à área fronteiriça, com o intuito de impedir a passagem dos imigrantes, majoritariamente iraquianos. Após alguns confrontos, o vice-chanceler, Pawel Jablonski, afirmou ao jornal La Stampa que a crise é “a maior ameaça enfrentada pela Polônia nos últimos 30 anos”.
Além da Polônia, a Lituânia e a Ucrânia, que também fazem divisa com a Bielorrússia, reforçaram a segurança em áreas de fronteira.
Crise humanitária
Lideranças europeias acreditam que Lukashenko intenta criar uma crise humanitária nas fronteiras do bloco em retaliação a sanções impostas contra o país. As medidas são relativas a denúncias de violações dos Direitos Humanos.
Uma das questões diz respeito ao papel do governo na eleição presidencial de 2020 — o presidente foi reeleito para um sexto mandato em uma votação com supostas fraudes.
A repressão de forças de segurança, que prenderam milhares de pessoas e cometeram agressões graves, provocou isolamento da Bielorrússia após diversos pacotes de medidas. Assim, o país passou a contar apenas com o apoio de Moscou e suas linhas de ajuda financeira.
Com a crise migratória, Lukashenko tenta responder a Bruxelas, embora a manobra possa acentuar o isolamento. "Lukashenko está fazendo uma jogada desumana com as pessoas", avaliou Olaf Scholz, ministro das Finanças da Alemanha que deve ser o novo chanceler do país.
A atual chanceler, Angela Merkel, conversou com Putin e acusou Lukashenko de fazer um "ataque híbrido" contra a UE usando pessoas indefesas.
Até o momento, Putin e Lukashenko têm discursos alinhados, criticando as sanções e a forma que a UE tem para impedir a entrada de imigrantes no bloco. O russo afirmou que Bruxelas deve dialogar diretamente com Lukashenko se quiser resolver a crise.
Testes de sistemas de defesa
Os bombardeiros russos Tupolev Tu-22M3 sobrevoaram o território bielorrusso na quarta (10), o que seria oficialmente uma manobra de testagem dos sistemas de defesa aérea do país. Nessa quinta (11), outros dois bombardeiros Tupolev Tu-160 fizeram o mesmo.
O presidente bielorrusso não esconde mais que tais sobrevoos representam um recado à UE, o que indica que Moscou é aliada dele. "Temos que monitorar a situação na fronteira sempre. Que chiem e gritem. Sim, esses bombardeiros são capazes de levar armas nucleares. Mas não temos outras opções. Temos que ver o que estão fazendo além das fronteiras".
Pressão
Além da crise com a Bielorrússia, Merkel pressionou Putin sobre a ampliação da presença militar na fronteira da Rússia com a Ucrânia, o que poderia sinalizar invasão por parte de Moscou.
Uma das queixas da Rússia é o crescente uso de drones do Exército da Ucrânia em ataques contra forças separatistas pró-Moscou no leste do país, em conflito existente desde 2014.
Apesar de não reconhecer apoio a milícias, o governo russo rejeita acusações de preparar uma invasão e indica que o uso dos TB2 Bayratkar, fabricados na Turquia, pode “desestabilizar” a situação na linha de frente.
De acordo com integrantes do governo norte-americano, ouvidos pela agência de notícias Bloomberg, os sinais são similares aos vistos antes da anexação da Península da Crimeia, em 2014, o que mostra que a Rússia tem um plano para responder a eventuais "provocações" vindas de Kiev.
Recentemente, Vladimir Putin advertiu que o governo dela poderia perceber um maior engajamento entre Ucrânia e Otan como uma "linha vermelha".
No começo deste ano, as forças russas realizaram movimentação semelhante, o que ocorreu antes de uma reunião entre o presidente russo e o norte-americano, Joe Biden.
Já o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, pontuou que não se deixaria intimidar pela Rússia. "Espero que agora todo o mundo veja quem quer paz e quem está concentrando 100 mil homens na nossa fronteira. A pressão psicológica da Rússia não nos afeta, nossa inteligência tem toda a informação, e nosso Exército está pronto para agir em qualquer hora e lugar", ressaltou o líder ucraniano.