Um soldado espanhol passou parte da vida enxergando o mundo ao contrário, após levar um tiro na cabeça. Conhecido como paciente M, o homem foi atingido durante a guerra civil da Espanha, em 1938.
Após duas semanas inconsciente, o soldado de 25 anos acordou e se deparou com uma nova forma de enxergar. O caso foi documentado pelo médico de guerra Justo Gonzalo, segundo reportagem especial do jornal El País.
O paciente M e Gonzalo sobreviveram a guerra e continuaram a se ver por mais de cinquenta anos. Mas o caso clínico do soldado só foi divulgado pela filha do médico, Isabel Gonzalo.
Professora da Universidade de Madrid e física, Isabel conheceu o paciente M e detalhou o caso em artigo publicado na revista científica Neurologia. A partir da análise clínicao, Gonzalo propôs a teoria da dinâmica cerebral, apontando que o órgão tem funções distribuídas em gradientes.
Sequela
Após ser baleado na cabeça, o paciente M precisou conviver com uma nova forma de enxergar. A visão foi voltando ao normal com o tempo, mas o soldado ainda precisou lidar com alterações na percepção.
Quando estava relaxado, sem grandes estímulos, o homem via os objetos com tamanho triplicado e na cor verde. A audição e a percepção tátil do soldado também foram impactadas, de modo que sons e toques apareciam no lado oposto de sua mente.
Para ver as horas, ele precisava olhar o relógio de pulso de qualquer direção, segundo Isabel. O paciente conseguiu seguir a vida sem problemas, algo atribuído ao desenvolvimento inconsciente de estratégias de enfrentamento.
A sequela se deu porque a bala atingiu a região parieto-occipital esquerda do cérebro do paciente M. Até então, cientistas acreditavam que o cérebro era composto por regiões distintas, mas o caso do soldado contrariou a tese.