Abertura de convenção republicana reforça conservadorismo e pouco amplia base de Trump

Na cerimônia de oficialização do candidato à reeleição, discursaram líderes republicanos, integrantes da família Trump e ativistas que ficaram conhecidos por confrontar manifestantes antirracistas, além do próprio presidente

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Donald Trump
Foto: AFP

O primeiro dia da convenção republicana foi marcado por um leque de oradores que reforçou a mensagem do conservadorismo dos Estados Unidos e pouco ampliou a base de apoio de Donald Trump para as eleições de novembro.

Para esta segunda-feira (24), quando o presidente foi oficializado candidato à reeleição, foram escalados para discursar líderes republicanos, integrantes da família Trump e ativistas que ficaram conhecidos por confrontar manifestantes antirracistas, além do próprio presidente, que decidiu monopolizar o evento com aparições em todos os dias até o encerramento, na quinta-feira (27).

O objetivo era tentar mostrar diversidade em apoio à Casa Branca no momento em que Trump aparece atrás do democrata Joe Biden em todas as pesquisas. Mas o que se viu foi uma esmagadora maioria de pessoas brancas que, em estética nacionalista, reproduziu a mesma retórica que tem dominado os últimos meses de governo: os EUA serão mergulhados no socialismo caso Biden seja eleito em novembro.

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O ex-vice de Barack Obama, por sua vez, faz parte do establishment de seu partido e tem conduzido uma campanha considerada centrista.

Entre as pelo menos duas dezenas de oradores desta segunda, quatro eram negros e dois, de origem latina.

A abertura da convenção celebrou ainda resultados econômicos no país antes da pandemia, o discurso da lei e da ordem frente aos protestos antirracismo, e espalhou medo e informações falsas nos habituais ataques à imigração, à China e à imprensa.

O roteiro é direcionado para a base de eleitores do presidente, mas também serve para tentar amedrontar os moderados que têm flertado com Biden.

Sob o mote "Honrando a histórica estadunidense", falaram na abertura do evento republicano desde vozes mais tradicionais do partido, como Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU, até Tim Scott, único senador negro da sigla - ele atua pelo estado da Carolina do Sul.

Considerado uma das estrelas da noite, o filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., teve a missão de fazer alguns dos ataques mais pesados a Biden e resumir a mensagem do primeiro dia da convenção, focando suas críticas na China e na ameaça que, segundo ele, Biden pode levar à classe trabalhadora dos EUA.

"Biden quer trazer imigrantes para tirar os empregos dos estadunidenses", disse Trump Jr. "Na verdade, se você pensar bem, toda a plataforma econômica de Joe Biden parece projetada para esmagar o homem e a mulher trabalhadores."

A imagem de um Biden de esquerda radical que ameaça os valores estadunidenses já havia sido explorada pelo próprio Trump em sua primeira aparição na convenção, no início da tarde desta segunda. Após ser oficializado candidato, Trump apostou na guerra cultural – que tanto agrada a seus eleitores – para dizer que a eleição do ex-vice de Obama poderia "matar o sonho estadunidense".

Nikki Haley, por sua vez, disse que Trump pode fazer pela economia o que estava fazendo "antes de o vírus chegar da China" e rechaçou que os EUA sejam um país racista – outra mensagem que ecoou repetidamente nesta segunda. Para ela, todas as vidas importam, "inclusive aquelas roubadas pela violência nas ruas".

Entre os estadunidenses comuns convidados para falar do mesmo tema estavam Andrew Pollack, pai de uma menina morta durante um ataque a tiros em um escola na Flórida, em 2018, e Mark e Patricia McCloskey, casal que saiu armado de sua casa e ameaçou manifestantes durante protestos antirracismo em St. Louis, no Missouri.

Os McCloskey defenderam o direito ao porte de arma –  garantido na Constituição estadunidense – como forma de se proteger de criminosos e sugeriram que os democratas, que apoiam os protestos contra o racismo, vão mergulhar o país no caos e insegurança caso voltem ao poder".

Não cometa erros, onde quer que você viva, sua família não estará segura sob o governo de esquerda radical democrata", disse Patricia.

Na semana passada, a convenção democrata apostou na ideia de que basta ser anti-Trump para apoiar Biden e levou ao evento, além de lideranças de todas as alas do partido, figurões republicanos, como o ex-governador de Ohio John Kasich e ex-secretário de Estado do governo Bush Colin Powell.

A convenção republicana, por sua vez, não terá nomes de peso do partido, como o ex-presidente George W. Bucsh, que se recusa a apoiar Trump.

O atual presidente quer mostrar que seu partido está unido e que essa dissidência não tem efeitos práticos no cenário eleitoral.

Para tentar neutralizar esse quadro e também acenar ao eleitorado negro – cerca de 80% apoia Biden –, Vernon Jones, um deputado estadual democrata da Geórgia, também falou nesta segunda na convenção republicana.

"Somos pessoas livres com mentes livres. Faço parte de um segmento grande e crescente da comunidade negra que são pensadores independentes e acreditamos que Donald Trump é o presidente de que os EUA precisam para nos levar adiante."

A popularidade de Trump caiu dez pontos percentuais em meio à pandemia que já matou mais de 177 mil pessoas no país, mas o presidente segue com cerca de 40% de popularidade e sabe performar para sua base, como tem feito desde 2016.

A estratégia de focar em nichos específicos durante a campanha – no caso de Trump, homens brancos e conservadores – é eficaz no sistema indireto de Colégio Eleitoral, em que os estados-chave, com maior número de delegados, são os mais importantes para a vitória.

Em 2016, foi justamente a economia que mobilizou eleitores brancos e pouco escolarizados do Meio-Oeste estadunidense a escolher Trump depois de terem votado duas vezes em Obama. Biden não fez grandes acenos a esse eleitor durante a convenção democrata, na semana passada, e deixou o caminho aberto a Trump.

O presidente não precisa necessariamente atrair esse grupo, basta afastá-lo de Biden, como fez com Hillary há quatro anos.

Trump apareceu duas vezes durante a noite, conversando com eleitores de dentro da Casa Branca.

O formato, que tentava mostrar empatia do presidente com profissionais da linha de frente da pandemia, seguiu o que Biden fez durante a convenção democrata, mas de maneira remota, e não ao vivo como fez o republicano -nem ele nem os convidados usavam máscaras na sede do governo.

Os republicanos realizam uma convenção presidencial em proporções reduzidas em Charlotte, na Carolina do Norte.