Droga antiviral reduz tempo de Covid-19 em pacientes fora de hospitais, aponta pesquisa

Resultados da droga peginterferon-lambda foram publicados em revista científica. Quebra na cadeia de transmissão do coronavírus também foi noticiada

Legenda: Indivíduos que receberam uma única injeção de peginterferon-lambda tiveram quatro vezes mais chance de recuperação da Covid-19 nos sete dias seguintes em comparação com os pacientes que receberam o placebo, diz pesquisa.
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A ação de uma droga antiviral experimental em acelerar a recuperação de pacientes não hospitalizados com Covid-19 e potencialmente diminuir a infecção comunitária foi apontada em nova pesquisa. O estudo indica que o medicamento é responsável por cortar a transmissão dos contaminados para seus contatos.

O tratamento pode ter a vantagem de diminuir a necessidade de atendimento hospitalar e, consequentemente, diminuir a carga dos sistemas de saúde ao redor do planeta. Mesmo que a vacinação já tenha começado em mais de 70 países, vários contam com atrasos e lacunas na disponibilidade de doses.

A droga, chamada peginterferon-lambda, é feita a partir de uma proteína produzida pelo corpo diante de uma infecção viral, da mesma classe que os interferons. A função dessa enzima é ativar alguns mecanismos celulares responsáveis por matar o vírus, que agem impedindo a replicação viral.

Para verificar sua ação, os pesquisadores do Centro de Doenças do Fígado de Toronto, ligado à Universidade Health Network (UHN), conduziram um estudo clínico randomizado e duplo-cego de fase 2 com a droga, que foi administrada a 30 pacientes. Outros 30 pacientes receberam placebo e foram monitorados durante a pesquisa.

Os resultados foram publicados no início do mês na revista especializada Lancet Respiratory Medicine, do grupo The Lancet, a mais prestigiada revista científica da área médica.

Resultados da pesquisa

Dentre os participantes do estudo, cinco necessitaram de atendimento hospitalar com sintomas respiratórios, dos quais quatro receberam o placebo e apenas um recebeu a droga. Ainda de acordo com o estudo, os indivíduos que receberam uma única injeção de peginterferon-lambda tiveram quatro vezes mais chance de recuperação da Covid-19 nos sete dias seguintes, em comparação ao grupo placebo.

A quebra na cadeia de transmissão do vírus também foi reportada: oito em cada dez (79%) dos pacientes com alta carga viral — mais de 1 milhão de cópias do vírus por mililitro (ml) — se recuperaram da Covid-19 após receber o tratamento, em comparação a dois em cada cinco (38%) daqueles que receberam o placebo.

"Os pacientes que foram tratados com o peginterferon-lambda eliminaram o vírus rapidamente, e o efeito foi mais pronunciado naqueles com alta carga viral. Nós também vimos uma tendência de melhora mais rápida dos sintomas respiratórios no grupo da intervenção", explica o especialista em doença de fígado e primeiro autor do estudo, Jordan Feld.

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Uma das principais causas de morte pelo coronavírus é a chamada tempestade de citocinas, causada por uma reação exacerbada do sistema imune que ataca o próprio organismo, e não o Sars-CoV-2. A peginterferon-lambda redireciona o sistema de defesa do corpo para atacar o vírus, e não os próprios órgãos.

Embora seja uma droga experimental e o seu acesso seja limitado, os resultados são muito promissores, pois não há, até o momento, nenhum tratamento para Covid-19 para pessoas que não necessitam de internação hospitalar, apenas drogas usadas durante o atendimento nas unidades de terapia intensiva que podem ajudar na recuperação dos pacientes.

As vacinas são a única ferramenta eficaz para proteger a doença daqueles que ainda não se contaminaram e podem desenvolver Covid-19 assintomática ou com sintomas leves a moderados. Por isso, Feld acredita que o potencial do peginterferon-lambda é alto, em um momento em que surgem novas variantes potencialmente mais infecciosas do vírus ou que possuem alguma vantagem sobre as vacinas e anticorpos monoclonais.

A equipe agora irá conduzir mais estudos para comprovar sua eficácia. A droga é também investigada simultaneamente em outros centros de pesquisa, como a Universidade de Harvard, a Johns Hopkins University e o Centro Médico da Universidade de Soroka, em Israel.