Professores intimados vão à PF depor sobre denúncia de supostos atos antifascistas na Uece

Ainda nesta semana, outros professores e alunos da Universidade Estadual do Ceará devem depor na PF

Escrito por Redação , seguranca@svm.com.br
depoimentos professores uece
Legenda: Dois professores foram à PF nesta segunda-feira (14) depor
Foto: Fabiane de Paula

Os professores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) intimados a prestarem esclarecimentos sobre uma ação que apura supostos "atos antifascistas", “organização de polícia ideológica” e “perseguição" a grupos cristãos e com determinados ideais políticos começaram a depor nesta segunda-feira (14), na sede da Superintendência da Polícia Federal no Ceará. A reportagem apurou que dois docentes foram ouvidos nesta segunda, outros dois professores devem depor nesta terça-feira (15) e um estudante universitário na próxima quarta-feira (16).

Os supostos atos teriam acontecido no ano de 2018, durante período eleitoral. Luciano Teixeira Filho, professor de Filosofia, foi um dos intimados que já depôs na PF. Conforme Luciano, o depoimento transcorreu com tranquilidade e ele foi informado pela delegada que vinha sendo acusado por crime eleitoral.

"A denúncia não para em pé. A narrativa é que, supostamente, uma organização de polícia ideológica de cunho antifascista teria promovido essa perseguição, essa violência ou grave ameaça para alunos. Na oitiva de um dos acusadores ele mesmo diz que pessoalmente nenhuma dessas pessoas que são acusadas o perseguiu, ameaçou ou fez algo contra ele. A única coisa que tem contra é que um dos professores denunciados reprovou o aluno. Então, se um professor não puder reprovar o aluno, não sei mais o que o professor pode fazer. É basicamente isso. A denúncia é periclitante", afirmou o professor.

"O que houve foi uma aula sobre fascismo. Aula que foi no pátio. E os alunos que denunciaram afirmaram que se sentiram ameaçados. Bem... Isso foge do nosso controle"
Luciano Teixeira
Professor universitário

Posicionamentos

De acordo com a Uece, quatro professores e cinco alunos foram intimados a depor na PF. Para a Universidade, não houve perseguição, e sim livre debate de ideias. "O Ministério Público Federal já afirmou não existir viabilidade na acusação. No entanto, o inquérito ainda não foi arquivado. Nesse contexto, a Uece manifesta incondicional apoio institucional aos professores e aos estudantes que estão sendo alvo dessa intimação que fere a liberdade de expressão e de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber", segundo trecho da nota divulgada pela Universidade.
 
Já os advogados representantes dos intimados disseram ter dito acesso aos autos e destacaram que as acusações partem de ex-alunos da Uece. As alegações, conforme os advogados, é que os docentes e os discentes integrariam uma  “Organização antifa” e fariam ações de “polícia ideológica antifascista” com, supostamentem intuito de perseguir, através de aulas e palestras, os simpatizantes do atual presidente Bolsonaro e cristãos do curso de Filosofia.

"Na verdade, se trata, como temos tristemente nos habituado a ver, de inversão completa, aos moldes do “escola sem partido”, da situação de fato experimentada no colegiado de Filosofia da Uece, caracterizada historicamente pelo pluralismo de visões que estruturam a atividade acadêmica, pois ato de polícia ideológica é precisamente o que realizam os denunciantes ao atentar à liberdade de cátedra, de pensamento, de expressão e mais radicalmente, ao caluniar (acusando-os de perseguição) professores que em seus currículos têm compromissos claros e precisos com o antifascismo como indissociável da liberdade de pensamento, liberdade que orienta a própria noção de Universidade", disseram professores e alunos indiciados por meio de uma nota enviada pelos advogados.

Na sexta-feira, a PF emitiu nota informando que intimou professores e alunos acerca de um "inquérito policial que apura crime eleitoral, instaurado por requisição do Ministério Público Federal (MPF) e sob controle externo da Justiça Eleitoral - 80ª Zona Eleitoral em Fortaleza/CE e do Ministério Público Eleitoral".

"A requisição do Ministério Público decorreu de notícia de estudantes da Universidade Estadual do Ceara (Uece), informando que estariam sendo vítimas de intimidações no interior da Universidade, o que pode configurar crime previsto no artigo 301 do Código Eleitoral"
Polícia Federal

Ainda conforme a Polícia, a oitiva dos envolvimentos "é fundamental ao esclarecimento dos fatos e encaminhamento do inquérito Policial à Justiça Eleitoral".

 

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