Mortes por intervenção policial aumentam cinco vezes em 6 anos

Quando comparadas as estatísticas dos anos de 2013 e 2018, o número aumentou 434%. Um dos casos mais emblemáticos aconteceu há seis anos, quando dois jovens foram mortos a tiros durante um Pré-Carnaval

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br

As estatísticas mostram que, com o passar do tempo, as atuações de policiais cearenses vêm resultando em mais mortes. Nos últimos seis anos, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou que 669 pessoas morreram em decorrência de ações que contaram com a intervenção da Polícia. Quando comparado os anos de 2013 a 2018, o número aumentou 434%.

Conforme dados da Pasta, em 2013, foram registradas 41 mortes por intervenção policial. A cada novo balanço anual, o número de mortos aumenta. Em 2014, passou para 53 casos; em 2015, chegou a 86; 2016, a 109; 2017 fechou com 161; até que em 2018 chegasse ao número de 219 ocorrências fatais.

Um dos primeiros casos ocorridos já neste ano de 2019 envolveu o filho do eletricista Roberval Almeida de Meneses. Aos 18 anos, Ezequiel Calebe Gonçalves de Almeida, sem antecedentes criminais, foi alvejado por disparos após não obedecer a uma ordem de parada dada por PMs.

Legenda: A cada novo balanço anual, o número de mortos em ações policiais aumenta. Foram 669 vítimas nos últimos seis anos.
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

A perseguição aconteceu na noite do último dia 24, no bairro Bom Jardim. Segundo a Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), durante patrulhamento de rotina, uma composição avistou uma moto com dois ocupantes em altíssima velocidade. Quando os PMs se aproximaram do veículo, um dos ocupantes da moto sacou uma arma de fogo e começou a disparar contra os policiais.

A fala de Roberval Almeida pontua outra versão acerca do caso. Inconformado com a morte do filho caçula, o eletricista garante que o jovem de 18 anos não estava armado e em nenhum momento fez ação de atirar contra os PMs.

"Eu acho que ele fugiu da abordagem porque era usuário de droga. Não vou mentir dizendo que meu filho era santo, mas matar assim? Não sei por que não atiraram no pneu", questionou Roberval. A SSPDS afirmou que, com os dois suspeitos, foi apreendido um revólver calibre 22.

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Defesa Social (CGD) disse já ter determinado a instauração de investigação preliminar para a apuração na seara administrativa referente ao caso. Já a SSPDS acrescentou que "todas as mortes por intervenção policial resultam na instauração de inquéritos policiais que são submetidos à apreciação do Ministério Público".

Memória

Um dos casos com intervenção de militares que mais repercutiu no Estado do Ceará aconteceu em 2013, e até hoje é lembrado. No dia 26 de janeiro de 2013, dois jovens foram mortos enquanto estavam em uma festa de Pré-Carnaval no Bairro Ellery. Policiais do Ronda do Quarteirão chegaram ao local pedindo para baixar o volume dos paredões de som e, segundo testemunhas, quando proprietários dos veículos se recusaram, os policiais começaram a efetuar disparos.

Na data, morreram Ingrid Mayara Oliveira Lima, de 19 anos, e Igor de Andrade Lima, 16. Há dois dias, amigos e familiares das vítimas promoveram um ato em memória e Justiça para os jovens. No fim de 2017, os ex-policiais militares Raimundo Vieira da Costa e José Raphael Olegário França, acusados pelo duplo homicídio, foram absolvidos em primeira instância. O Ministério Público recorreu da sentença.

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