Mãe de jovem morto durante motim de PMs pede Justiça um ano após o caso; inquérito segue aberto

"Meu filho estava com medo de sair de casa", disse a mãe da vítima relatando o pavor que a família tinha de andar em via pública devido à ausência de parte da Polícia

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br

Um ano após o assassinato do jovem José Erbete Rocha Cassiano da Costa, de 19 anos, a família da vítima pede Justiça para o caso, que segue com inquérito em andamento. Erberte foi uma das 321 vítimas mortas em 2020, precisamente durante o motim de parte da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Com o policiamento ostensivo defasado nas ruas, o Estado chegou ao ápice da violência durante as quase duas semanas do movimento.

A dona de casa Vânia Dark, mãe da vítima. diz que ainda não sabe quem matou o filho, na manhã de 20 de fevereiro de 2020. A ausência do jovem e a falta de respostas por parte das autoridades aflinge a matriarca. Vânia conta que no inquérito do caso consta a Polícia dizendo não ter feito uma "varredura" no entorno do local do crime para buscar criminosos responsáveis porque naquele dia não havia viatura disponível.

"Naquele dia meu filho estava com medo de sair de casa. Ele tinha comentado como um amigo que não queria sair para trabalhar fazendo entregas, preferia ficar no serviço da portaria, porque com a Polícia parada o pessoal se aproveitava para fazer maldade no mundo. E foi o que aconteceu", contou a dona de casa.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), em julho de 2020 o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) deflagrou uma operação que resultou no cumprimento de mandados de prisão contra um grupo investigado em cerca de 20 inquéritos policiais, dentre eles três suspeitos identificados como autores da morte de José Erbete.

A SSPDS afirma que os cumprimentos de mandados de prisão preventiva e temporária ocorreram no Conjunto São Miguel e no bairro Dias Macedo. Os nomes dos presos não foram divulgados pela Pasta, que afirmou:  "em razão de os trabalhos policiais ainda estarem em andamento e por medida de segurança, os nomes dos autores não foram repassados para não comprometer a apuração da Polícia Civil".

Disparos

José Erberte saiu em sua motocicleta, para realizar entregas no bairro Santa Maria. Quando chegou na BR-116, por volta das 11h30, foi atingido nas costas com o primeiro disparo de arma de fogo. Vânia diz que testemunhas contaram a ela que o jovem tentou se levantar, quando foi atingido pela segunda vez nas costas. A moto caiu por cima dele, e então os criminosos, que estavam em um veículo de cor cinza, efetuaram terceiro disparo, desta vez acertando a cabeça da vítima.

12 meses depois, a dona de casa diz ainda não saber ao certo porquê o filho foi executado. Vânia conta que Erbert utilizava tornozeleira eletrônica e vinha sendo investigado "porque se meteu em uma confusão da irmã e do cunhado, mas nunca foi para o presídio". A mulher ainda disse ter pensado que foram PMs os autores dos disparos, só porque viram o jovem com o aparelho de monitoramento.

Vânia ainda recorda que só se deu conta que o filho estava morto quando chegou ao velório. "Eu fiquei em estado de choque. A família briga para eu não ir mais atrás de mexer nessa história, mas eu sou mãe. Eu fico na janela esperando ele voltar. Ele não foi morto em um terreno baldio, foi morto na BR. Tem câmera. E onde estão essas imagens? Eu não consigo entender essa demora", questiona a mulher.

Investigação

A Polícia Civil afirmou que José Erbete era conhecido como 'Serrinha' e  respondia criminalmente por um latrocínio, que também foi investigado pelo DHPP. Segundo nota da PC, a família da vítima já foi "cientificada sobre o andamento das investigações e também sobre a autoria do crime".

A mãe da vítima nega envolvimento do filho com crimes de maior potencial ofensivo. "Ele nunca teve envolvimento com coisa de facção, não matou ninguém. Depois me disseram que ele foi morto porque passou de um bairro para o outro, tipo aquela coisa de território rival de onde moramos. Passou um ano e eu não sei de nada. Me disseram que naquele mesmo dia essas pessoas mataram mais gente pela Grande Messejana", disse Vânia.

Motim

De acordo com o promotor da Justiça Militar do Ceará, Sebastião Brasilino, em um ano, pelo menos 130 militares foram denunciados pro participar direta ou indiretamente do motim ocorrido em 2020. 22 deles são acusados de revolta militar em tempo de paz, o crime de maior potencial ofensivo apurado no episódio da paralisação.

 

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