Local do ‘Forró do Gago’ agora é ocupado por uma igreja

A localidade de Cajazeiras mudou desde o dia de uma das maiores tragédias já registradas no Estado do Ceará. Segundo delegado que atua na região, quantitativo de crimes reduziu na comunidade

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , seguranca@verdesmares.com.br

Quem passa pela primeira vez em frente ao número 210 da Rua Madre Tereza de Calcutá, hoje, não consegue imaginar que, há um ano, prédio e arredores estavam abarrotados por sangue. Onde por anos foi o ‘Forró do Gago’ agora é a igreja ‘Santuário da Palavra de Deus’. Foi preciso a tragédia para que a casa de show, ponto de encontro de muitos jovens, se tornasse um templo.

As marcas da chacina saíram do chão e das paredes do edifício, mas não tiveram como ser arrancadas do imaginário da vizinhança. No entorno do número 210, populares contam que a vida seguiu, mas lembram de cada morador que vivia ali e foi brutalmente assassinado. Recordam também dos minutos com dezenas de estampidos ouvidos quando os criminosos chegaram para atacar. 

“Foi muito tempo de tiro. Fiquei escondido em casa. Nos primeiros dias, muita gente curiosa veio aqui na rua. O tempo passou e a movimentação ficou mais tranquila. A gente sabe que a briga das facções continua, mas nessa rua do forró, especificamente, depois que virou a igreja ficou calmo”, disse um morador da Cajazeiras sem se identificar. 

O pastor Júnior Mendes, há oito meses responsável pelas celebrações no ‘Santuário da Palavra de Deus’, conta que, quando chegou ao local, o ambiente era outro: “Aqui era muito pesado. Depois as pessoas foram chegando, frequentando. Sinto que Deus trouxe conforto para esse local”, contou. 

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A tese de populares, de que foi preciso uma chacina para apaziguar a briga entre facções criminosas no local, é comprovada na rotina de trabalho do delegado titular do 13º Distrito Policial (DP), Hélio Marques. Segundo o policial civil que atua na região que engloba a Cajazeiras, o trabalho investigativo feito no caso influenciou para que os criminosos se afastassem do espaço. 

Decisão 

Fechar as portas do ‘Forró do Gago’ foi algo prometido por José Clediano Girão Nobre, logo na semana seguinte da matança. Clediano era proprietário do estabelecimento desde que assumiu a herança da família. O empresário não foi detido pela Polícia como suspeito de participar dos homicídios, mas teve de ir à delegacia prestar esclarecimentos sobre o local ser possivelmente um ponto de encontro de membros da facção criminosa Comando Vermelho (CV). 
No dia 1º de fevereiro de 2018, Clediano esteve no 13º DP acompanhado pelo advogado de defesa. Segundo Hélio Marques, o homem chegou à delegacia aterrorizado, temendo pela própria vida. 

“Ele disse que terceirizava o espaço alugando com uma pessoa conhecida como Maicon. Estava apavorado e, depois do depoimento, foi liberado. Aqui nós ficamos com a parte do crime ambiental devido ao volume do som do local. Fizemos o inquérito e remetemos ao Poder Judiciário”, disse Marques recordando que naquele dia já houve a promessa de ali fundar uma igreja. 

De acordo com o registro nos autos, em abril de 2018, o Ministério Público do Ceará (MPCE) ofereceu denúncia contra o proprietário do ‘Forró do Gago’ pelo crime de poluição ambiental. Em maio, a Justiça recebeu a denúncia.

Três meses depois, em agosto do ano passado, Clediano ainda não havia sido encontrado por oficial de Justiça para receber a notificação. O endereço do empresário segue como desconhecido e ele, que também morava nos arredores da casa de show, nunca mais foi visto pelos vizinhos. 
 

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