Dono de rede de apostas acusado de 'lavar dinheiro' para familiares de Marcola no Ceará tem pedido de liberdade negado
A defesa pediu que o cliente fosse transferido para prisão domiciliar para tratar sequelas de um AVC. Porém, o presídio de São Paulo respondeu que oferece o apoio médico necessário ao detento

Geomá Pereira de Almeida, proprietário de uma rede de casas de apostas no Ceará e acusado de realizar lavagem de dinheiro para familiares de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola - número 1 da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) - deve seguir preso preventivamente, decidiu a Justiça Estadual. Ele foi um dos 22 presos na Operação Primma Migratio, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco/CE) em abril do ano passado.
As investigações da Ficco apontaram que Geomá Pereira é um integrante do PCC especialista em jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e outros jogos, que veio de São Paulo para o Ceará, para instalar um esquema criminoso de lavagem de dinheiro da facção, através de uma rede de apostas que atua em território cearense. Ele seria o representante da família de 'Marcola' no esquema.
A Vara de Delitos de Organizações Criminosas rejeitou um pedido da defesa de Geomá Pereira para converter a prisão preventiva em prisão domiciliar, no dia 14 de fevereiro último. A decisão foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico (DJE) da última sexta-feira (7).
No pedido, a defesa de Geomá alegou que o cliente "sofreu um acidente cerebral vascular isquêmico (AVC) recentemente, motivo pelo qual tem que ser submetido a exames clínicos e laboratoriais, bem como a consultas com um médico neurologista com regularidade" e afirmou que a Penitenciária de Presidente Venceslau II, em São Paulo, onde o acusado está preso, "não adotou nenhuma das providências necessárias para a mantença da vida do peticionário".
A Unidade Penitenciária respondeu à Justiça do Ceará que o detento "está sob responsabilidade do médico desta Penitenciária, vem sendo atendido sempre que solicita atendimento e medicado conforme cada sintomatologia". Segundo o ofício, Geomá passou por duas consultas médicas, nos dias 28 de janeiro e 7 de fevereiro deste ano, e aguarda a marcação de exames médicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O Ministério Público do Ceará (MPCE), por sua vez, se posicionou contrário ao pedido da defesa e justificou que o preso, "fora do sistema penitenciário, dificilmente teria acesso a um tratamento tão eficiente, que contempla o agendamento de todos os procedimentos necessários, a realização dos exames e consultas, além do fornecimento de transporte para deslocamento".
Na decisão, o colegiado de juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas considerou que "é dever do Estado a prestação de assistência médica aqueles que se encontram sob custódia. Desse modo, espera-se que o Poder Público tenha a sua disposição as ferramentas mínimas e necessárias para tanto, o que vislumbro que esteja sendo adotado no presente caso, sobretudo, em virtude dos esclarecimentos prestados pelo profissional de medicina responsável pela equipe de saúde médica do estabelecimento prisional, não havendo omissão do estabelecimento no tratamento das enfermidades do réu".
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Familiares de 'Marcola' presos
Familiares de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, foram presos na Operação Primma Migratio, no dia 24 de abril de 2024, por liderarem um esquema criminoso de jogo do bicho e lavagem de dinheiro com apostas, que teria movimentado mais de R$ 300 milhões no Ceará. Dois policiais militares também foram detidos por integrarem a quadrilha - entre eles um tenente que atuou na Casa Militar do Estado do Ceará e agora está na Reserva Remunerada.
mandados de prisão preventiva foram cumpridos. Policiais percorreram endereços situados nos Estados do Ceará, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, para também cumprir 36 mandados de busca e apreensão e o sequestro de 42 veículos atribuídos aos investigados.
O principal alvo da Operação foi a esposa de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o 'Marcolinha', e a cunhada de 'Marcola'. Francisca Alves da Silva foi presa em um condomínio de luxo no Arujá, em São Paulo. Ela morou por um tempo na Argentina, motivo pelo qual a Polícia Federal (PF) pediu a inclusão do seu nome na lista da Difusão Vermelha, da Interpol (Polícia Internacional), antes da suspeita ser localizada no Brasil.
Os irmãos 'Marcola' e 'Marcolinha' estão detidos em presídios federais de segurança máxima. Alejandro Juvenal já morou no Ceará, quando comandou um acordo de "pacificação" entre facções. A investigação da Ficco sobre a quadrilha apontou que, mesmo após a prisão do marido, Francisca Alves continuou a comandar uma cédula da facção paulista no Ceará, que se especializou no jogo do bicho.
A organização criminosa também é suspeita de praticar tráfico de drogas e de armas no Ceará. Entretanto, o jogo do bicho foi a forma mais rentável e segura que a quadrilha encontrou para continuar lucrando no Estado, segundo as investigações policiais.
Para isso, o grupo criminoso contou com Geomá Pereira Almeida, integrante da facção especialista em jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e outros jogos, que veio de São Paulo para o Ceará, para instalar o esquema criminoso. Ele foi preso na Vila Mariana, em São Paulo.
O sobrinho de 'Marcola', filho de 'Marcolinha' e enteado de Francisca Alves da Silva também foi preso, no Município de Itajaí, em Santa Catarina. Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho é apontado como um operador do esquema criminoso chefiado pela sua madrasta e como proprietário de uma casa de apostas esportivas na internet, que também seria utilizada para a lavagem de dinheiro do PCC.
A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará é composta pela Polícia Federal (PF), Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado do Ceará (SAP).