Delações na Lava-Jato levam à suposta corrupção em banco estatal

Ex-diretor do Banco do Nordeste é suspeito de receber propina de R$ 200 mil, em Fortaleza. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos pela Polícia Federal nas capitais cearense e paulista, ontem, para aprofundar apuração

Escrito por Redação , seguranca@svm.com.br
Legenda: Material apreendido em uma residência de Fortaleza foi levado à sede da Polícia Federal
Foto: FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

As delações de dois funcionários de uma construtora, protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Lava-Jato, revelaram o pagamento de uma suposta propina, no valor de R$ 200 mil, a um ex-diretor do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em Fortaleza. Para aprofundar as investigações do caso, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Suitcase, ontem.

Os dois delatores vieram à capital cearense com um proprietário de uma empresa de terraplanagem de Pernambuco para efetuar o pagamento, em espécie, no quarto de um grande hotel, em outubro de 2012. O dinheiro estava dentro de uma mala - o que inspirou o nome da Operação ("mala de viagem", em inglês).

"Esse pagamento teria sido determinado pelo (ex) diretor dessa construtora. Apura-se, então, os crimes de corrupção ativa e passiva", revela o delegado federal Cláudio Carvalho, da Delegacia de Combate à Corrupção (Delecor).

A Operação objetiva descobrir a motivação da propina. "Esse diretor era importante dentro do Banco. Ele ocupava fazia parte de alta hierarquia e tinha potencialmente condições de determinar benefícios, nem sempre legais, nem sempre devidos, para essa construtora. Como foram muitas as operações do Banco que envolveram essa construtora, nós estamos tentando determinar especificamente a que se deu esse pagamento", completa o delegado.

Segundo ele, "dentro do Banco do Nordeste, apura-se um amplo esquema de corrupção, que envolve também crime financeiro. Muitas operações bancárias e financiamentos foram detectados pelo próprio Banco e por outros órgãos de controle, tal como a CGU (Controladoria-Geral da União) e o TCU (Tribunal de Contas da União), como tendo ocorrido práticas fraudulentas".

Banco

"Quando os escândalos de corrupção vieram à tona, esse então diretor solicitou a exoneração do Banco. Também porque foi nomeado para ocupar a presidência de um Instituto, que na época era público e posteriormente foi privatizado", detalha Carvalho.

Em nota de esclarecimento, o Banco do Nordeste do Brasil afirmou que não é alvo da Operação Suitcase e "não foi procurado pela Polícia Federal e que tem conhecimento da referida operação, envolvendo um ex-diretor dessa instituição, pela imprensa".

"Dessa forma, permanece à disposição das autoridades competentes para, se necessário, prestar quaisquer informações e/ou colaboração. A atual diretoria da instituição reafirma seu compromisso com todas as regras de conformidade, compliance e melhores práticas de governança dos recursos públicos", completa o órgão.

Alvos

A PF cumpriu, ontem, quatro mandados de busca e apreensão, decretados pela 11ª Vara da Justiça Federal no Ceará. Uma ordem foi cumprida em um apartamento de Fortaleza, pertencente ao ex-diretor do BNB. Enquanto os outros três endereços ficam em São Paulo (capital): o apartamento onde o ex-diretor do Banco reside; o escritório onde o mesmo trabalhava; e a residência do ex-diretor da construtora.

De acordo com o delegado Cláudio Carvalho, todos os imóveis alvos da Operação são luxuosos. A Polícia Federal suspeita que o dinheiro da propina tenha sido "lavado" na compra de bens. "A própria característica de pagamento, com dinheiro em espécie, revela indícios dos crimes de caixa 2 e lavagem de dinheiro", conclui.

Ninguém foi preso, nem a Polícia solicitou pela detenção. Os nomes dos investigados não foram revelados pela PF. Na ação, foram apreendidos computadores, aparelhos celulares e documentos, que serão analisados pelos investigadores.

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