Após reviravolta, Polícia Civil foca em estupro ocorrido na UFC

Investigação apura a autoria de estupro dentro do Campus do Pici, na Capital, há quase sete meses. Estudante que estava preso foi liberado após farsa sobre outro caso de estupro, fora da Universidade, ser descoberta

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Estudantes procuraram o DHPP para denunciar crimes sexuais dentro e fora da UFC
Foto: FOTO: EMANOELA CAMPELO DE MELO

Três jovens procuraram a Polícia Civil, no fim de outubro, para acusar um universitário de estupro e importunação sexual. Com as investigações, descobriu-se uma farsa. Uma delas forjou a narrativa de estupro, e Gisleudo de Oliveira Félix foi solto após passar seis dias preso. Agora, os esforços da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) se concentram em identificar os responsáveis pelo único caso considerado verídico no momento, ocorrido em abril, dentro do Campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O fato ocorreu no dia 15 de abril deste ano, mas foi registrado apenas em maio, por Boletim de Ocorrência (B.O.), no 17º DP (Vila Velha). A vítima relatou que três homens a abordaram e a pressionaram contra uma parede. Enquanto dois deles a seguraram, o terceiro levantou o vestido dela e cometeu o ato. Segundo a titular da 12ª Delegacia, delegada Arlete Silveira, as investigações seguem para encontrar os verdadeiros autores.

Nesse tempo, fotos de Gisleudo Félix circularam em, pelo menos, dois grupos de alunas da UFC, nas redes sociais. "Quando reinquirimos a vítima de abril, acompanhada por psicólogos para não se revitimizar uma dor que é real, ela foi perguntada: 'o que você vê é a imagem do agressor do dia 15 de abril ou da que circulou nas redes sociais?'. Ela não hesitou em dizer que foi a que circulou nas redes", explicou a delegada.

Segundo Arlete, a jovem pode ter se confundido tanto pelo longo período de tempo entre o ato e o reconhecimento como pelo trauma e pelo "estado de pânico" gerado nas redes sociais. "A apuração não pode ser feita à margem da Polícia, como foi feito. O que se criou foi um tribunal de apuração e de julgamento nas redes sociais", critica Arlete.

Linchamento virtual

A delegada afirma que Gisleudo Félix foi vítima de um "linchamento virtual". O estudante de Agronomia foi utilizado como bode expiatório para uma "vingança", mas não contra ele, conforme a delegada. "Elas relataram outras situações de violência do passado, mas que não justificam de forma nenhuma execrar outra pessoa. O rapaz não tem nada a ver com a história. Foi uma vingança porque ele representou toda uma dor, um caos coletivo", explica, considerando que as jovens "prestaram um desserviço às mulheres".

Gisleudo foi indicado pelas duas estudantes porque as teria importunado durante uma festa de São João, no dia 28 de junho último, no Campus do Pici, ao se oferecer para acompanhá-las até um banheiro. Quatro meses depois, no dia 23 de outubro, uma delas indicou o jovem como autor de um estupro ocorrido no dia anterior. A adolescente é aluna de um cursinho preparatório, mas informou à Polícia Civil que o estupro teria ocorrido fora da Universidade.

A jovem criou duas contas falsas em uma rede social e passou a enviar ameaças para ela mesma, mas atribuiu a Gisleudo. "Cansei de brincadeira. Se eu te pegar sozinha pelo Pici, não vai ter perdão, eu vou fazer o que eu sempre quis com você", dizia uma das mensagens. Conforme a delegada, a perícia não encontrou rastro nos aparelhos eletrônicos do rapaz. Nos dela, sim.

Ela irá responder por ato infracional análogo ao crime de denunciação caluniosa, na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Quanto ao jovem liberado, Arlete Silveira assegura que a Polícia "tem a missão de protegê-lo".

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