Testemunhas de defesa e acusação devem depor no Judiciário no processo que apura o caso da auxiliar de creche na Aldeota, em Fortaleza, ré por abuso sexual contra crianças de três anos. O Diário do Nordeste apurou que a audiência está agendada para acontecer no próximo dia 17 de dezembro, às 10h, no Fórum Clóvis Beviláqua.
Na sessão, devem ser ouvidas 11 testemunhas de acusação e sete de defesa. Quase sete meses após as denúncias dos pais das vítimas contra Fladilane Pereira Lopes, a acusada ainda não foi ouvida em juízo. A reportagem ouviu familiares das vítimas que dizem aguardar Justiça.
“A expectativa das famílias é a de que o crime seja elucidado completamente o quanto antes. Pois essa audiência é uma significativa etapa nessa árdua jornada em que vivemos desde o final de maio, quando descobrimos os fatos e tivemos nossas vidas dilaceradas", disse uma das mães.
ACUSADA SEGUE SOLTA
Fradilane prestou depoimento apenas na delegacia, onde negou os crimes sexuais, e nunca foi presa. A defesa da acusada não foi localizada pela reportagem. Os autos desta ação penal seguem em segredo de Justiça e, segundo o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), "por isso, não podem ser repassadas informações a respeito".
Outra mãe disse à reportagem que "são meses de sofrimento, revolta e a sensação de que crimes como esses não dão em nada. Em algumas falas que chegaram até nós, foi dito até que esse caso teria sido arquivado. Nesse tempo, lutamos de toda forma para que esse caso não seja esquecido e que outros casos sejam evitados".
"As crianças hoje estão sendo acompanhadas por psicólogos pra tentar amenizar um trauma que no futuro pode gerar consequências ainda maiores. No nosso caso, foram traumas físicos e psicológicos, tanto da criança, como da gente que somos pais. Nossa vida mudou completamente e a dela continuou 'normal'".
DENÚNCIA DO MP
A auxiliar de professora foi denunciada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e se tornou ré no último mês de julho. Na época, o MP não representou pela prisão da mulher.
Os casos de abuso sexual em que Fladilane aparece como acusada foram denunciados à Polícia Civil do Ceará (PCCE) no fim do último mês de maio. Os Boletins de Ocorrência (B.Os.) indicam que, pelo menos, sete crianças de 3 anos, cada, teriam sido vítimas de abusos por parte da auxiliar da professora.
O caso foi divulgado em primeira mão pelo Diário do Nordeste.
Ainda no mês de junho, a diretora e proprietária do estabelecimento foi ouvida na delegacia e confirmou ter demitido a suspeita. Dentre as vítimas há duas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma delas tem condição não-verbal e ao ouvir o nome da 'tia do colégio' já teria associado à mulher ao ato de tirar a fralda e pegar nas partes íntimas.
Outra criança da mesma sala chegou a passar por exame de corpo de delito, que deu positivo para 'ato libidinoso'. A reportagem entrou em contato com mães de três vítimas, que confirmaram as denúncias dos abusos e pedem "apuração rigorosa" acerca das ocorrências.
DEPOIMENTOS
A mãe de outro menino que consta nos boletins enquanto vítima disse: "meu filho contou que ela brincava de casinha com ele. Quando perguntei como era a brincadeira, ele pegou no pintinho".
A proprietária e diretora da escola prestou depoimento na Dceca e disse que ao saber das denúncias decidiu "desligar a auxiliar". Ela disse à Polícia que de 2009 a 2014 esta mesma mulher já foi funcionária da creche e que nunca havia recebido reclamações dela.
A diretora falou às autoridades que após os relatos, 18 alunos foram desmatriculados da instituição e que ela não tinha anteriormente informado os órgãos de proteção sobre os supostos abusos, porque uma mãe pediu sigilo.