Era 29 de dezembro de 2005. O clima de Fortaleza já era de fim de ano, com expectativas para os festejos de Réveillon. Porém, para três famílias e para a corporação militar do Ceará, também foi um dia de choque. Naquela data, a queda de um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) deixou três tripulantes mortos e mais dois gravemente feridos.
O caso foi investigado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), responsável por apurar as causas de sinistros do tipo para evitar novas ocorrências. O relatório final data de agosto de 2007.
Segundo o documento, a aeronave decolou da área patrimonial da Base Aérea de Fortaleza, por volta de 15h, para um voo local de patrulhamento. O acidente ocorreu no retorno, a cerca de 150 pés (45 metros). O veículo “perdeu altura” e caiu em um matagal.
Apesar de não ter acontecido uma explosão, o helicóptero batizado de ‘Águia 04’ ficou completamente destruído. Na ocasião, morreram:
- o major PM Lindemberg Antônio Austregésilo de Andrade (piloto);
- a major Rosana Buson Pompeu (co-piloto), do Corpo de Bombeiros;
- o soldado PM Roberto Pacheco da Costa (tripulante).
Ficaram gravemente feridos o sargento PM Burton Deyves Gomes de Araújo (que hoje é subtenente e ainda atua na Ciopaer, como mecânico de helicópteros) e o soldado BM José Júnior Lopes da Silva (falecido em 2008 por sequelas do acidente).
Na manhã daquele mesmo dia, a equipe do major Lindemberg havia perseguido pelo ar uma quadrilha de assaltantes na Região do Maciço de Baturité, conseguindo prendê-la em apoio às patrulhas terrestres.
Homenagens póstumas
A tragédia inesperada - porque não “havia condições operacionais, obstáculos no terreno ou condições meteorológicas”, segundo o relatório do acidente - chocou as forças militares estaduais e levou milhares de pessoas a acompanharem os sepultamentos, que ocorreram no penúltimo dia daquele ano.
Logo após o acidente, em janeiro de 2006, a major do CBM foi homenageada dando nome ao Núcleo de Busca e Salvamento (NBS), localizado na Avenida Leste-Oeste.
À época, ela foi a primeira militar estadual do Brasil a concluir o curso de piloto de aeronave. Conforme o relatório do Cenipa, aquele era o último voo dela antes de um período de licença por gravidez. Era o primeiro filho de Rosana.
Já o piloto deu nome a um Posto de Observação do Batalhão Policial Militar Ambiental (BPMA), no Parque Ecológico do Rio Cocó.
Meses após a tragédia, as famílias cobravam a apuração das causas. Uma viúva chegou a declarar que a aeronave já havia apresentado problemas mecânicos em ocasiões anteriores e, na véspera do acidente, tinha saído de uma revisão programada.
Causas do acidente
No entanto, o relatório final do Cenipa descartou qualquer falha mecânica do equipamento: levantou que ele estava com seu certificado de aeronavegabilidade válido, e as cadernetas de voo estavam atualizadas.
Por isso, o corpo técnico da entidade concluiu que o acidente foi causado por falha humana, tanto por “excesso de confiança” quanto por “aspectos inadequados de gerenciamento das atividades aéreas”, “em função da falta de acompanhamento e controle no desempenho das tripulações, propiciando comportamentos não padronizados e a inserção de uma cultura informal e não participativa no trato de assuntos de segurança de voo”.
A soma dos fatores teria levado à perda de controle do voo já próximo ao solo.
Cinco meses antes de perder a vida no desastre, o major Lindemberg, de 39 anos, havia sido agraciado com uma medalha de reconhecimento por ter completado 3 mil horas de voo. Piloto habilidoso, segundo companheiros de profissão, realizava pousos em locais considerados de extrema dificuldade e também era instrutor de novos pilotos.
A análise do Centro também chamou atenção para a falta de supervisão nas operações. O Cenipa enviou à Ciopaer, em agosto de 2006, diversas recomendações para segurança de voo, incluindo a atualização do plano de formação de novos pilotos e a implementação de sistemas eficazes de supervisão para as atividades.
O relatório final ressalta que trabalha com hipóteses, sem recorrer a “procedimentos de prova para apuração de responsabilidade civil ou criminal”, e busca tão somente a prevenção de futuros acidentes.