Farsa de ex-militar preso pela PF após 17 anos já era conhecida pelas autoridades cearenses; entenda

O cearense é acusado de cometer um homicídio no Rio de Janeiro e, depois de fugir, forjar a própria morte

Um cearense ex-militar da Marinha do Brasil foi preso pela Polícia Federal (PF) por um homicídio ocorrido no Rio de Janeiro há 17 anos. Durante esse período, ele forjou a própria morte e assumiu uma identidade falsa, no Paraná. A história foi reportada pelo programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (1º).

Entretanto, as autoridades cearenses já sabiam, há 16 anos, que Odilon Wagner Vlasak Filho era, na verdade, Francisco Wagner França de Alcântara, nascido em 1980 em Ubajara, na Região Norte do Ceará.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, em fevereiro de 2007, Francisco Wagner foi preso em flagrante pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE), no Município de Ibiapina, no Interior do Estado, na posse de documentos falsos - inclusive uma carteira de tenente da Marinha, sendo que ele era cabo.

Em abril de 2008, o Ministério Público do Ceará (MPCE) o denunciou pelos crimes de falsificação de documento público, falsificação de documento particular, falsidade ideológica e uso de documento falso.

A ação penal segue em tramitação na Justiça do Ceará, após 15 anos. Ao receber a comunicação da prisão de Francisco Wagner em Foz do Iguaçu, no Paraná, no último dia 21 de setembro, pela Polícia Federal, a Vara Única da Comarca de Ibiapina abriu vistas dos autos, no dia seguinte, para o MPCE se manifestar e dar andamento ao processo.

Homicídio no Rio de Janeiro, fuga e farsa

O cearense Francisco Wagner França de Alcântara, ex-militar da Marinha, é suspeito de matar o garçom Ozeas Santos Mendonça, no Rio de Janeiro, em 2006. A motivação do crime seria um relacionamento extraconjugal que Wagner tinha com a esposa de Ozeas.

De acordo com informações da reportagem do 'Fantástico', o ex-militar passou alguns dias preso, mas foi solto em seguida, para responder ao processo criminal em liberdade.

Francisco Wagner sumiu e não compareceu aos autos processuais nos anos seguintes. Em 2019, surgiu no processo uma Certidão de Óbito de Francisco Wagner França de Alcântara, supostamente emitida em um cartório de Fortaleza.

A reportagem do 'Fantástico' procurou o cartório, que negou ter emitido a Certidão. O advogado Glauco Mota Filho, que representa o Hospital Fernandes Távora (que teria atestado o óbito), disse ao Diário do Nordeste que "a pessoa chamada Francisco Wagner França de Alcântara nunca esteve internada no Hospital. E, da mesma forma, o médico que atesta o óbito nunca trabalhou aqui no Hospital".

Vida nova no Paraná e prisão

Com uma certidão de nascimento falsa, no nome de Odilon Wagner Vlasak Filho, o suspeito também conseguiu obter uma identidade e outros documentos pessoais. E se mudou para Foz do Iguaçu, no Paraná, para levar uma "nova vida". No outro Estado, ele trabalhou como segurança armado e, depois, abriu uma empresa, casou-se e teve uma filha.

Mas, neste ano, a Polícia Federal no Rio de Janeiro e órgãos de identificação estaduais selaram um acordo de cooperação, que reuniu bancos de dados das instituições e permitiu a descoberta da farsa de Francisco Wagner. O foragido, com o nome de Odilon, retirou um passaporte e registrou o porte de armas de fogo, na PF.

A Polícia Federal convocou o suspeito para, supostamente, tirar dúvidas sobre o porte das armas de fogo. E, depois de algumas perguntas, realizaram a prisão em flagrante de Francisco Wagner por falsificação de documentos, além de cumprir o mandado de prisão preventiva por homicídio.

Na residência do cearense em Foz do Iguaçu, a Polícia apreendeu dois fuzis, cinco pistolas e munições. Ao ser transferido para o Rio de Janeiro, ele afirmou, à reportagem, que "isso não passa de um equívoco, tudo vai ser esclarecido".