Já são quase três meses desde as prisões de três policiais militares denunciados por extorsão mediante sequestro e associação criminosa em Itapipoca, no Interior do Ceará. Nessa segunda-feira (28), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) comunicou ter instaurado conselho de disciplina para apurar as transgressões dos agentes e os afastou preventivamente das suas funções.
O cabo Marcos Aurélio Costa da Silva e os soldados Francisco de Assis Castro Martins Filho e Daênio Morais Rodrigues foram formalmente acusados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) no último mês de janeiro. A denúncia foi recebida pela Justiça por meio do magistrado da Vara Única Criminal de Itapipoca e o trio agora está na condição de réu.
Junto a eles também foram denunciados os socioeducadores Admilton José de Castro lima e Danilo Felício Chaves, além de Jéssica Ribeiro da Silva.
O juiz decidiu que os servidores públicos devem permanecer presos, porque a colocação em liberdade para quem é acusado de delito dessa natureza "semearia o sentimento de impunidade da sociedade de uma maneira imensurável".
"A prisão cautelar também se funda como forma de evitar o risco à instrução processual, uma vez que a vítima e seus familiares poderiam ser ameaçados por aquele que parece demonstrar com seu agir grande destemor e sentimento de intocabilidade por ser um agente do estado. É bastante provável e até esperado que aquele que a quem se imputa a audácia de se deslocar mais de uma centena de quilômetros até Itapipoca para arrebatar uma vítima, para depois extorquir seus familiares por dinheiro, venha a ameaçá-los futuramente, com vistas a tumultuar a instrução criminal", ponderou o o juiz Gonçalo Benício de Melo Neto.
Para complementar a investigação criminal, foi autorizado o afastamento do sigilo de dados eletrônicos nos equipamentos apreendidos
A CGD afirma que deve ser apurada a incapacidade moral dos policiais de permanecerem nos quadros da Polícia Militar do Ceará. Enquanto isso, eles foram afastados preventivamente por 120 dias e ficam à disposição dos Recursos Humanos. Deve ser retida a identificação funcional, arma de fogo, algema e qualquer outro instrumento de caráter funcional que ainda esteja em posse dos militares.
VÍTIMA FOI ARREBATADA DE DENTRO DE CASA
Os sequestradores agiram em dezembro do ano passado. Consta na denúncia do MPCE que os acusados arrebataram a vítima de dentro de casa. Ela ficou sob domínio dos acusados por, pelo menos, 12 horas.
De acordo com as investigações iniciais do caso, três criminosos desceram do veículo encapuzados e armados, arrombaram a porta e sequestraram o homem, que estava com a esposa e a filha. Ele já saiu da residência algemado e depois teve a cabeça coberta.
Inicialmente, o grupo empreendeu fuga em um veículo Cerato e passou a efetuar diversas ligações para a esposa da vítima. Eles começaram exigindo quantia de R$ 350 mil como preço do resgate. As autoridades tomaram conhecimento do fato e passaram a investigar o caso para desvendar o que estava acontecendo.
Posteriormente, o valor exigido para soltar a vítima baixou para R$ 200 mil. O homem informou que não tinha esse dinheiro e, em contato com a esposa, mandou a mesma vender a casa, o carro, uma motocicleta e outros pertences. Ela teria conseguido R$ 50 mil, até o sequestro ser frustrado pela Polícia.
COMO OS SEQUESTRADORES FORAM DESCOBERTOS
Conforme documentos que a reportagem teve acesso, um dano na lateral esquerda do para-choque dianteiro do veículo Kia Cerato ajudou os policiais a localizarem o automóvel. As investigações descobriram também que um Volkswagen Fox prata dava apoio à ação criminosa. O soldado Daênio conduzia o Fox. O veículo é registrado em nome da sogra dele.
Os dois veículos terminaram localizados em Fortaleza e foram abordados. Com o grupo, a Polícia afirma terem sido encontrados quatro armas de fogo (três pistolas e um revólver), munições e balaclavas. Os suspeitos foram autuados pelos crimes de extorsão mediante sequestro e associação criminosa.