Reportagem sobre Moreno e Duvina repercute em Brejo Santo

Escrito por Redação ,
Legenda: JOÃO INÁCIO reuniu a família para ler e comentar a reportagem sobre o casal de cangaceiros
Foto: Antônio Vicelmo
Brejo Santo (Sucursal/Crato) — A edição do último domingo do Diário do Nordeste esgotou em menos de 30 minutos. A população amanheceu o dia na porta da “Caldeira do Inferno”, onde o jornal é distribuído, querendo saber a história de Moreno e Duvina, o casal de cangaceiros que aterrorizou o Cariri, na década de 30, e foi localizado na periferia de Belo Horizonte, depois de 70 anos de silêncio em torno de sua participação no cangaço como um dos integrantes do bando de Lampião.

O comerciante aposentado Antônio Felinto, que conheceu Moreno, disse que vai guardar a reportagem como uma relíquia. “Apesar de Moreno ter sido amigo de meu pai, todos o temiam”, afirma. A imagem do cangaceiro ainda está presente nas ruas e sítios de Brejo Santo, onde ele se escondia.

O primo de Moreno, João Inácio da Silva, reuniu a família — a mulher e duas irmãs — para ler, emocionado, a reportagem do Diário do Nordeste. No fim, telefonou para Duvina, mulher de Moreno e disse: “nós estamos felizes com a localização de vocês. Para mim, parente é quem tem o mesmo sangue nas veias: não importa que seja bandido, padre ou doutor”.

O desabafo de João era uma resposta a Duvina que pedia perdão por ter saído de Brejo Santo corrida. Ela lembrou que, em 1938, esteve em Brejo Santo, à noite, fugindo da polícia. Mesmo assim, naquela mesma noite falou com o pai de João, major Sé Francisco, e com duas irmãs que, segundo afirmou, eram muito boas para ela. No telefonema, João lembrou que o prefeito de Brejo Santo, Arônio Lucena, ofereceu duas passagens de avião para o casal visitar o município.

Duvina disse que estava quase cega e com artrite, enquanto Moreno, com 96 anos, talvez não tivesse condições de viajar, mas garantia que sua filha Neli, que passou o final de semana em Paulo Afonso, revendo os familiares dela, tinha muita vontade de conhecer a “parentada” do Ceará.

Depois do telefonema, João ressaltou a amizade que Moreno tinha com seu pai, major Zé Francisco, relatando que uma vez um chefe político da região ameaçou saquear sua loja no comércio velho de Brejo Santo. No dia marcado para o saque, Moreno e seu irmão Jacaré esperaram os saqueadores na entrada da cidade, na localidade denominada Nascença. Quando o grupo de saqueadores se aproximou, os dois cangaceiros tomaram as armas dos “cabras” e mandaram um recado para o chefe político: “voltem e digam para o seu chefe que mande uns homens mais valentes, porque vocês são uns mela-bota”.

Mais uma vez, João Inácio negou a participação de Jacaré na morte de Delmiro Gouveia, mostrando um recorte do jornal A Tarde, de Alagoas, noticiando que a Justiça alagoana reconheceu um dos maiores erros judiciários do Estado. O Tribunal de Justiça do Estado, durante uma reunião que durou seis horas, absolveu os dois ex-cangaceiros Róseo Morais do Nascimento e José Inácio Pia, conhecido por Jacaré, acusados da morte de Delmiro Gouveia. O médico e pesquisador da história do cangaço, Magérbio de Lucena, também não acredita na participação de Jacaré neste crime. Róseo e Jacaré morreram dizendo que eram inocentes.