Pesquisadores voltam a estudar efeitos do 'microplástico' em Jericoacoara

A Unidade de Conservação Federal foi reaberta no último dia 8, após mais de cinco meses fechada. Com isso, os estudos científicos foram reiniciados

Escrito por Rodrigo Rodrigues , regiao@svm.com.br
Legenda: O Ecomangue, do IFCE de Acaraú, estuda a presença de microplásticos na faixa de praia da Unidade de Conservação.
Foto: Arquivo Pessoa/Karina Dutra

O Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara, Unidade de Conservação (UC) federal no litoral cearense, voltou a receber, na primeira semana de reabertura, pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Manguezais (Ecomangue), que avaliam os impactos ambientais na região. O Parna foi reaberto no último dia 8, após quase seis meses fechado como medida protetiva contra o novo coronavírus.

O Ecomangue é um laboratório do campus de Acaraú, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), e tem  levantado dados científicos no Parna para subsidiar estruturas de conservação ambiental local. “O foco das pesquisas realizadas é a ecologia e conservação de manguezais e áreas adjacentes, o que inclui a Praia de Jericoacoara”, ressalta a professora Rafaela Maia, coordenadora do Ecomangue.

Ao todo, três pesquisadoras atuam diretamente na pesquisa, mas toda a equipe do laboratório “ajuda nos procedimentos de campo, conservação e triagem das amostras”, pontua Maia.

O atual projeto desenvolvido tem por objetivo verificar a presença de microplásticos na faixa de praia da Unidade de Conservação. “Esse é um problema ambiental que vem sendo muito discutido nos últimos anos por conta de sua gravidade”, destaca Rafaela. Os microplásticos são partículas plásticas com medidas inferiores a cinco milímetros.

“Uma vez no ambiente, esses polímeros podem ser dispersados facilmente pelo vento, e quando ingeridos por animais causam o adoecimento e/ou mortalidade”.

Legenda: Após a coleta no Parque Nacional, as amostras de mangue são analisadas no IFCE, em Acaraú.
Foto: Arquivo Pessoal/Rafaela Maia

Reabertura

A restrição de acesso ao interior do Parque Nacional foi determinada por Portaria do Governo Federal, publicada em março. Com isso, ficou proibido o acesso de expedições de campo e demais atividades de ensino e pesquisa. “Nosso trabalho foi suspenso. Com a reabertura do Parque, atualizamos nosso cronograma de coleta e adaptamos a equipe de pesquisa a  nova realidade”, explica Maia. 

“O procedimento de campo é mensal. Vamos processar as amostras no laboratório em Acaraú”.

Unidades de Conservação no Ceará (Sema):

  • Total: 91 - 7,7% do território cearense
  • Particulares: 38 (15.900,35 ha)
  • Estaduais: 28 (119.537,01 ha)
  • Municipais: 13 (46.468,39)
  • Federais: 12 (976.131,63 ha)

As coletas do Ecomangue no Parque Nacional começaram ainda em 2020, antes da pandemia, mas precisaram ser interrompidas pelo fechamento da unidade.

Na última semana, no entanto, a bolsista Karina Dutra já conseguiu realizar a última coleta de seu projeto de conclusão de curso, que busca avaliar a presença de microplástico na UC. A equipe de coleta utilizou máscaras para proteção e realizou a higienização das mãos com álcool em gel - uma nova realidade das pesquisas de campo no contexto de pandemia. 

No retorno, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável legal pelo Parque Nacional, pede que sejam tomadas precauções como o uso obrigatório de máscara de proteção facial, higienização das mãos álcool em gel 70% e sabão.

Ecomangue

O Parque Nacional de Jericoacoara é uma Unidade de Conservação federal e as atividades desenvolvidas no local estão sujeitas ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). “O modelo possibilita a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”, explica Maia.

“As atividades precisam estar em consonância com o Plano de Manejo da Unidade e dependem de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade”. 

A professora pontua que Jericoacoara tem grande potencial turístico e recebe um grande número de visitantes diariamente, “o que pode levar a diferentes impactos negativos de origem antrópica”. O objetivo do Ecomangue na região, protegida por legislação ambiental para preservação, é levantar informações sobre a dimensão e natureza desses impactos.

Veja:

Com os dados obtidos, o laboratório propõe desenvolver projetos de intervenção para sensibilizar a população sobre atitudes simples e cotidianas que podem diminuir o impacto ambiental causado pelo microplástico.

Parque Nacional

A Unidade de Conservação Federal, gerenciada pelo ICMBio, está localizada nos municípios de Jijoca de Jericoacoara, Cruz e Camocim.

O Parque Nacional de Jericoacoara foi criado em fevereiro de 2002 e possui grande beleza cênica, além de importantes mecanismos ecossistêmicos. O objetivo da unidade é proteger amostras dos ecossistemas costeiros, assegurar a preservação de recursos naturais e proporcionar um espaço de pesquisas científicas, educação ambiental e o turismo ecológico.

 

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