Intercâmbio Brasil-Portugal

Escrito por Redação ,
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Distrito de Espinho, do município de Limoeiro do Norte é ´geminado´ com cidade portuguesa de mesmo nome

Limoeiro do Norte. A pretexto de possuírem nomes comuns, dois pequenos lugares de Brasil e de Portugal declaram-se irmãos e dão início a um pretensioso intercâmbio histórico, político e cultural. Uma herança portuguesa, o nome da localidade Espinho, em Limoeiro do Norte, tem a mesma denominação de uma cidade de Portugal. Tal como já ocorreu em vários lugares do mundo, foi dado início ao processo de geminação entre Espinho – na zona rural de Limoeiro do Norte – e o município de Espinho, no oeste de Portugal, na União Européia.

A historicidade da geminação conceitua o termo como um processo que objetiva criar relações e mecanismos protocolares, essencialmente em nível econômico e cultural, através dos quais cidades ou vilas de áreas geográficas ou políticas distintas, estabelecem laços de cooperação. Mais do que a evidência no nome, a maioria das geminações de cidades segue o viés cultural – o “encontro” dos povos terá ocorrido em algum momento histórico.

Todos os anos existem mais de 20 pedidos de geminação de municípios brasileiros com homônimos em Portugal, nossa ex-metrópole e de onde vieram muitos dos descendentes que hoje moram nas brasileiras geminadas. Carta régia portugesa do ano de 1762 – época das capitanias hereditárias – determinava que os colonos portugueses adotassem nas áreas ocupadas de sesmarias os homônimos da terra natal. A homenagem vai além da denominação e busca a essência cultural que une – pela ancestralidade - diferentes povos.

Dessa forma, Crato e Aquiraz, no Ceará, adotaram esses nomes de cidades homônimas de Portugal – por sinal, as duas já foram “geminadas”. Todos os anos mais de 20 cidades brasileiras realizam pedido de geminação com cidades de portugal. Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo e outras 19 cidades de diferentes países são geminadas com Lisboa, capital de Portugal.

Espinho

A cidade de Espinho é antiga de história e influência na região litorânea do Norte de Portugal, mas é nova – há apenas 35 anos foi elevada à categoria de município. As comemorações alusivas ao Dia do Espinho ocorreram no último dia 16 de junho. Lá esteve Gilmar Chaves, escritor e Secretário da Cultura de Limoeiro do Norte, além de idealizador da geminação em processo. Foi recebido pelo presidente da Câmara Municipal José Mota, administrador da cidade.

Sem qualquer pretensão de assistencialismo entre o Espinho da ex-colônia e o Espinho da ex-metrópole, a nova geminação cearense estreita laços culturais e favorece a permuta de oportunidades, notadamente nos aspectos culturais – Espinho tem uma das Casas de Música mais conceituadas na região portuguesa; a comunidade de Espinho de Limoeiro do Norte tem uma das maiores festas religiosas do Vale do Jaguaribe, em homenagem à padroeira Santa Luzia. São diferentes valores e símbolos entre duas localidades ligadas pela história. A geminação assume o caráter da diplomacia internacional, mas ao nível local, valorizando as singularidades.

Conforme Gilmar Chaves, o convênio entre a cidade portuguesa de Espinho e a cearense Limoeiro do Norte se dará por meio de regimento, “propostas de ações”. Para o Secretário da Cultura, a geminação aproxima povos oriundos de uma mesma ancestralidade, possibilita o intercâmbio. Da mesma forma que aproxima brasileiros e portugueses, leva ao conhecimento destes os valores culturais como a religiosidade popular, por exemplo.

“O Espinho português é uma cidade deslumbrante, repleta de belezas específicas, de um povo acolhedor, empreendedor, muito bem representada pelo seu Presidente da Câmara Dr. José Barbosa Mota, detentor de grande capacidade administrativa e profundamente comprometido com a construção da cidadania do Espinho”, afirma Gilmar Chaves. Espinho já é geminada com a cidade Brunoy, na França, e Rio de Janeiro, sendo Limoeiro do Norte a segunda cidade brasileira a participar desse tipo de intercâmbio. Um reconhecimento para os dois países e, principalmente para Limoeiro.

Mais informações:
Secretaria Municipal da Cultura de Limoeiro do Norte
Rua Célio Santiago, s/n
Centro
(88) 3423.1965

GEMINAÇÃO
Câmara de Espinho assina protocolo em Limoeiro

Limoeiro do Norte. No próximo dia 30 de agosto, o presidente da Câmara Municipal de Espinho, em Portugal, José Barbosa Mota, estará em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, para assinar o protocolo de geminação com a cidade cearense. No mês de outubro será a vez do prefeito de Limoeiro do Norte, João Dilmar da Silva, retribuir a visita e também assinar o protocolo em Portugal.

“A geminação é muito importante para o povo de Limoeiro do Norte, principalmente do Espinho, este abençoado pela padroeira Santa Luzia, a ‘Santa dos Olhos’, simbologia que nos revela a importância de enxergarmos longe. Tenho certeza de que a aproximação entre a comunidade de Espinho e a cidade portuguesa de Espinho é catalisadora de um grande intercâmbio da educação, da cultura, e de várias outras áreas do desenvolvimento”, defende João Dilmar.

Situada no distrito de Aveiro, região Norte e sub-região do Grande Porto, em Portugal, Espinho é uma cidade pequena, mas muito desenvolvida. A ocupação dessa localidade litorânea tem origem no estabelecimento de vários grupos de pescadores. Qual o Espinho em Limoeiro do Norte, a igreja principal homenageia uma “Nossa Senhora” – aos portugueses, a Nossa Senhora da Ajuda. A cidade ainda é famosa pela centenária feira popular – considerada uma das maiores da Península Ibérica -, pela gastronomia e opções de lazer. Até o dia 30 deste mês acontece o “Festival Internacional de Música de Espinho”.

A geminação está mexendo com as duas cidades separadas pelo oceano atlântico. O retrato intercambiável da história se propõe um toma lá dá cá de conhecimento entre duas irmãs que já se conheceram adultas.

De presente para Limoeiro do Norte, o poeta português Edgar Carneiro entrega “Depois de Amanhã”, um de seus livros de poesia: “Memórias são painéis/do encantamento/comovida lembrança/ de quanto era beleza/com paisagens que falam/ E gentes a mostrar o seu contento. Relembrar é sentir as mudanças directas,/paraíso perdido/ que buscamos por veredas estreitas/ onde os anjos caminham de muletas. A intenção é que também outras visões de mundo sejam dialogadas entre brasileiros e portugueses, para estreitar laços.

MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador

A OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Uma terra de sonhos

Gilmar Chaves
Escritor e Secretário da Cultura de Limoeiro do Norte
secult-ln@hotmail.com

Somos nascente da bravura do povo português. Três rios perenes cingem carinhosamente nossa cidade. São três abençoadas artérias que bombeiam com vigor a seiva que alimenta a terra. De suas águas milagrosas, como a do rio Douro, brota a prosperidade que tem levado muito longe o nome de nosso município. Não somos exatamente uma Canaã, mas o leite e o mel também correm abundantes por lá. A agricultura de exportação e a apicultura são algumas de nossas riquezas, e Limoeiro lidera a produção do nosso Estado nesse segundo setor. Limoeiro é um pólo educacional de referência no Estado. Somos o berço de professores, poetas, prosadores, compositores, cantores, repentistas, instrumentistas e de tantos outros artesãos da cultura nas suas mais diversas formas. A comunidade de Espinho é um desses nossos oásis rurais. Com modos de jovem camponesa, mas dotada do espírito sobranceiro da cidade. O Espinho é um de nossos mais tradicionais povoados. Foi das primeiras terras a serem regadas com o suor do rosto português nas duras labutas da criação de gado. Foi ali que os metais das raças se fundiram para formar essa liga comum da gente brasileira, resistente às intempéries históricas das revoluções e revoltas, das turbulências políticas, das pestes, das epidemias, das secas desesperadoras e das enchentes silenciosas, que surpreendiam os homens nas calmarias das madrugadas. O Espinho não nos une a Portugal por um vínculo meramente lexical. Ele é, no primeiro momento, uma extensão do esforço português nas terras de ultramar; uma continuação de sangue, de trabalho e de sonhos.