Imagem de São Francisco é reverenciada por mais de 30 mil fiéis em Codó, no Maranhão

Pela primeira vez, a imagem de São Francisco das Chagas deixou Canindé desde 1775. Ela foi ao encontro dos fiéis que foram barrados nas estradas nordestinas e não puderam comparecer à festa acontecida em outubro último

Escrito por Redação ,

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FOTO: Antônio Carlos Alves

A peregrinação de São Francisco das Chagas de Canindé em Codó, no Maranhão, no último sábado, arrastou uma multidão de 30 mil fieis pelas ruas da cidade maranhense. Pela primeira, vez desde 1775, a imagem do santo deixou Canindé para ser reverenciada em outro local. A decisão foi tomada depois que diversas caravanas que se dirigiam para a procissão em louvor ao santo, no último mês de outubro, foram barradas no meio do caminho, pois estavam em desacordo com a legislação do trânsito, principalmente os tradicionais caminhões paus de arara.

A cidade de Codó, que tem 118.072 habitantes, 81.045 dos quais residindo na zona urbana, segundo o censo de 2010 do IBGE,  se tornou pequena para tanta gente. Desde cedo, milhares de fieis  disputavam espaços, à espera da passagem do santo peregrino.

A berlinda chegou ao Aeroporto Magalhães de Almeida às 18 horas, depois de 13 horas de viagem do Santuário de Canindé, onde foi recepcionada por autoridades religiosas e políticas de quatro estados, depois de participar de uma carreata de 17 quilômetros da entrada de Codó até o local da celebração da  missa presidida pelo pároco e reitor do Santuário de Canindé, frei João Amilton dos Santos, com a presença de mais seis padres e o guardião do Convento de Santo Antonio do Brasil em Canindé frei Jean de Sousa.

Durante o trajeto de 5,6 km percorridos a pé pelos devotos, a imagem peregrina de São Francisco das Chagas  recebeu homenagens de católicos. A multidão caminhava em direção à igreja de São Francisco, que fica no Centro comercial da cidade. Um coro de milhares de fiéis fazia referências e rezas em forma de cânticos em homenagem a São Francisco. A união das famílias para aproveitar a passagem do cortejo pelo corredor religioso que se formou ao longo do trajeto para pedir graças e pagar dívidas gerou comoção.

Tendo como tema "Francisco, aclamemos a paz", os romeiros agradeceram às graças alcançadas e pediram a intercessão ao santo mais popular do mundo, em causas consideradas impossíveis. Quem tocou na imagem   não se conteve foi as lágrimas.

A devota Benedita Alves dos Santos, 90 anos, natural de Codó, era uma das romeiras que estava numa das 14 carretas barradas na Ponta Nova, no bairro do Dirceu, zona Sudeste de Teresina, que liga o município de Timon, no Maranhão, ao Piauí. Ela participou da caminhada vestida de marrom, imitando São Francisco, pagando uma promessa de seu neto que enfrentou sérios problemas de saúde.

“Meu neto tem 10 anos, com quatro foi diagnosticado com sopro cardíaco. O médico disse que ele precisava fazer uma cirurgia para colocar uma prótese, pois a válvula dele era deformada. Quando eu saí do hospital, fiz um pedido a São Francisco de Canindé. Fiz a promessa para que ele intercedesse. Pedi para que tudo fosse bem ou até mesmo, pela minha fé, para que ele ficasse curado e não fosse preciso fazer a cirurgia. Hoje, está com seis anos e curado".

São inúmeros os milagres atribuídos pelos cristãos a São Francisco. O primeiro conhecido no mundo e relatado por historiadores, data da construção do templo, em 1775, quando o pedreiro Antônio Maciel, ao descuidar-se por um momento de seu trabalho, despencou de um andaime e, ao se valer do santo, ficou pendurado, preso à ponta de uma tábua, mesmo com uma camisa velha e surrada. Acabou se salvando.

Como agradecimento de alguns desses milagres, a romaria ao santo cresceu ao ponto de ser hoje a segunda maior  do mundo, perdendo apenas para Assis na Itália, terra natal de Francisco. Leonardo Braga, de Belém do Pará, que veio acompanhado de seu patrão, Sérgio Garcia disse que, para ele, "o importante é ajudar outras pessoas a cumprirem suas promessas. Ele veio acompanhando um senhor identificado por Raimundo do Mercado, que tinha o sonho de conhecer São Francisco. ‘’Ele é cearense de Boa Viagem e foi embora ainda criança. Não tem condições de viajar sozinho para Canindé. Aproveitamos a oportunidade e, como meu patrão também é cearense, de Fortaleza, trouxemos seu João para ver de perto São Francisco. É como se a promessa dele fosse minha também. Quando a gente ajuda às pessoas, a gente se sente melhor".

Durante o trajeto pelas ruas de Codó, São Francisco recebeu várias homenagens, como queima de fogos e bandeiras com a imagem do santo. Homens das polícias Civil e Militar, equipes de trânsito, Corpo de Bombeiros e seguranças particulares trabalharam para garantir a tranquilidade dos romeiros desde os primeiros instantes da romaria. De acordo com o coordenador da peregrinação João Neto, tudo ocorreu dentro do programado.

Francisco Carlos de Oliveira,conhecido como  Chiquinho do Codó, não escondia a sua emoção: ‘’Vai ficar na história do Maranhão a procissão realizada no dia 06 de dezembro em Codó’.

Padre Francineulton dos Santos, da paróquia de São Francisco em Codó, disse ser algo ímpar, esse encontro de Francisco com os fiéis. É a renovação da fé dos romeiros na sua própria terra natal’’, frisou.