Galinhas criadas na capoeira

Escrito por Redação ,
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Galinhas criadas soltas, em condições de bem-estar, apresentam vantagens sobre o produto de granja

Barbalha. Galinhas rústicas ou simplesmente caipiras, ponto de equilíbrio entre o passado e o futuro, entre a rusticidade e produtividade, voltam a despertas o interesse de pequenos produtores, atentos às novas demandas de consumidores que não gostam mais do frango de granja, criado preso em gaiolas.

A velha galinha chamada vulgarmente de "pé-duro", ou carijó, criada no fundo do quintal, ou solta nas capoeiras de pequenas propriedades do sertão, tem sabor inigualável. As condições de bem-estar nas quais são criadas é um dos fatores determinantes para a qualidade do produto.

Ao contrário dos frangos de granja, a galinha caipira pode desenvolver suas aptidões naturais, como conviver em grupo,ter espaço para se movimentar, abrir as asas e pastar à vontade. Como fica solta no terreiro, as condições sanitárias devem ser observadas no que se refere à vacinação e vermifugação.

No Cariri, em municípios como Barbalha, a atividade é uma alternativa de complementação de renda para os pequenos produtores da região.

O exemplo vem da Associação dos Pequenos Produtores do Sítio Melo, em Barbalha, que participou de um curso sobre criação de galinhas caipiras, promovido pelo Serviço de Aprendizagem Rural (Senar) em parceria com a Prefeitura Municipal, que distribuiu 500 pintos com os pequenos produtores. Além da capacitação, as comunidades foram beneficiadas com infraestrutura para a criação das aves soltas.

A principio, os pintos foram criados em regime de semi-confinamento, com espaço suficiente para se locomover e levar sol. Com um mês, foram soltos no quintal da casa com direito a percorrer todo o terreno.

Tranquilidade

Porém, os criadores ainda acham o preço da ração elevado. O pequeno produtor Francisco Carlos de Oliveira, justificou que o chamado "caipirão" come demais. O jeito foi misturá-los com o frango pé duro.

Hoje, as aves vivem harmoniosamente, com tranquilidade e segurança, protegidos dos predadores externos e das intempéries da natureza como ventos fortes ou chuvas.

"Elas são criadas assim, soltas. Livres no quintal, pastando, comem tudo o que vêm pela frente. Só param quando o sol está quente. Se escondem na sombra e deitam para fugir do calor", diz Francisco Carlos, esclarecendo que o sistema de criação não é nenhuma novidade. "Era assim que minha avó criava as galinhas", lembra. "Aqui não há uso de anabolizantes e antibióticos. Como a alimentação tem itens naturais, as aves são mais resistentes", afirma.

De acordo com as orientações repassadas pelo Senar aos produtores para criação de galinhas soltas, é necessária a construção de um galinheiro, mesmo que seja rústico, para abrigá-las durante a noite ou nos dias chuvosos. Esse galinheiro deve ser fechado com tela de arame e serve, também, para prender as galinhas, todos os dias, pelo menos até as 10 ou 11 horas da manhã, para que a maior parte delas bote os ovos dentro dos ninhos organizados no local.

Segundo a orientação dada no curso do Senar, quando esses procedimentos não são adotados, as aves fazem seus próprios ninhos no mato, sendo muitas vezes, difíceis de encontrá-los. Quando são localizados, os ovos já estão velhos ou estragados, a galinha já está chocando ou já há pintinhos nascidos.

"No entanto, por falta de recursos, alguns criadores ainda ficam no sistema antigo. Daí a produção de ovos é reduzida, mas, em compensação, os gastos também são menores", diz Francisco Carlos, acrescentando que, mesmo assim, nenhuma ave morreu.

Segurança dos cachorros

No Cariri, havia experiências onde as aves ficavam junto com os bodes e estes espantavam as raposas, maiores inimigas das galinhas. "Agora são os cachorros que não deixam ninguém chegar perto", diz o criador.

"Outro inimigo dos pintos é o gavião. De vez em quando aparece um por aqui, comendo pinto", diz a presidente da Associação dos Pequenos Produtores do Sítio Melo, Francisca Lucirene Pereira. Enquanto falava para a reportagem, um gavião deu um vôo rasante do terreiro de sua casa, no Sítio Romualdo, na tentativa de pegar um pinto. Errou o bote, mas ficou na espreita numa árvore em frente à casa. "O cassaco e o teú também ameaçam as galinhas e os ovos", afirma ela.

Lucirene lembra que a galinha caipira tem mercado certo. Uma ave, com dois meses é vendida por R$ 15,00, enquanto o frango de granja é vendido a R$ 3,70 o quilo. Uma dúzia de ovos custa R$ 3,50, mais caro que os ovos de granja.

Os produtores confirmam que a galinha de capoeira está conquistando o gosto do consumidor por causa de suas propriedades nutricionais. O sabor da carne e o baixo teor de gordura mantêm as mesmas características das galinhas de capoeira do tempo da vovó.


Enquete
Vantagens


"As galinhas são criadas assim soltas. Livres no quintal, pastando à vontade. Só param quando o sol está quente."
Francisco Carlos da Silva
Pequeno produtor de Barbalha

"A galinha caipira tem mercado certo. Uma ave, com dois meses, é R$ 15,00. Já o frango de granja é R$ 3,70 o quilo."
Lucirene Pereira
Pres. da Assoc. dos Prod. do Sítio Melo


CARDÁPIO REGIONAL
Ave conquista a preferência dos consumidores no Cariri

O manejo no terreiro permite uma alimentação basicamente natural, com capim picado e pasto

Barbalha. Em termos de comercialização de produtos oriundos da atividade agrícola familiar, torna-se relevante que os agricultores estejam organizados em associações comunitárias. Tal fato não só permite a redução dos custos operacionais com mão-de-obra e transporte, como também, a manutenção de uma oferta regular, escalonada e competitiva dos produtos. Além disso, a adoção de todos os cuidados recomendados tanto na criação, como no abate das aves, permite que o produto final atenda às exigências do consumidor, facilitando a obtenção de marcas comerciais que possibilitem a sua venda em outros locais.

Assada, cozida, grelhada ou cozida, e combinada com uma grande variedade de ervas e especiarias, a galinha possibilita uma refeição saborosa e nutritiva. Apresenta-se como a principal fonte mundial de proteína animal e uma alternativa saudável à carne vermelha. No Cariri, são comuns os restaurantes especializados em galinha caipira. O famoso pirão de galinha do restaurante "Pau do Guarda" conquistou a região quando o assunto é comida regional.

Uma das receitas mais tradicionais do Nordeste brasileiro é a galinha à cabidela, ou galinha ao molho pardo. Para prepará-la é preciso inicialmente guisar a galinha - ou seja, cozinhar no caldo que a ave vai soltando durante o cozimento - para depois adicionar o sangue colhido durante o abate. O molho é feito também separado para ser misturado com o arroz.

Alimento natural

Ave capoeira é aquela proveniente de uma criação cuja alimentação deve ser suprida basicamente por alimentos naturais como pasto, capim picado, insetos, minhocas, etc. Este conceito permanece inalterado. Esse tipo de galinha é aquela que é quase sempre criada solta no fundo do quintal do sítio. São de várias cores, podendo apresentar penas pretas, brancas, vermelhas ou marrons. Algumas aves possuem o pescoço pelado.

Por incrível que pareça, a ave é parente dos répteis, ou seja, das cobras e lagartos. Ao observar a perna de uma galinha, é fácil perceber que ela possuí escamas como um lagarto.

A primeira galinha foi criada na Ásia e até hoje acredita-se que todas as raças que vivem no mundo são parentes das galinhas que viviam por lá. No Brasil, a galinha chegou em uma das caravelas de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. Até então, não existiam galinhas no País.

Antônio Vicelmo
Repórter