Curso forma jovens para atuar no campo de forma sustentável

O evento teve como objetivo despertar nos jovens a troca de experiências, formação cidadã e o acesso às tecnologias sociais, na perspectiva de estimular a produção na zona rural de forma sustentável

Escrito por Antonio Carlos Alves ,

O curso do Programa Nacional de Inclusão Produtiva da Juventude Rural com Formação Cidadã e Agroecológica foi encerrado neste sábado, em Canindé, Itapipoca e Crateús. O evento teve como objetivo despertar nos jovens a troca de experiências, formação cidadã e o acesso às tecnologias sociais, na perspectiva de estimular a produção na zona rural de forma sustentável e as práticas de geração de renda agrícola e não agrícola para fortalecer as condições necessárias para permanência dos jovens no campo.

Idealizado pela Universidade de Brasília, o projeto chegou ao Ceará numa parceria entre o Ministério da Educação, Secretaria Nacional da Juventude, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Universidade Estadual do Ceará (Uece) e Universidade Federal do Ceará (UFC).

O curso formou 300 jovens divididos em dois grupos de 150 integrantes que foram distribuídos em cinco turmas, nos territórios dos Sertões de Canindé, Itapipoca e Sertões de Cratéus. A carga horária de 300 horas foi repassada ao longo de noves meses, com atividades em sala de aula e no campo, desenvolvidas através de módulos denominados "Formação Cidadã e Participação Social", "Coletivos de Auto-organização", "Capacitação para Trabalho e Renda", "Tecnologias de Comunicação e Informação" e "Elaboração de Projetos Coletivos de Emprego e Renda".

Participação de todos

O curso possibilitou aos jovens conhecerem metodologias participativas de planejamento territorial e se tornarem aptos a elaborar projetos produtivos coletivos, com a participação de todos nas comunidades onde moram, áreas de assentamentos, sempre na perspectiva do desenvolvimento de uma agricultura de base ecológica.

Para o professor Ribamar Furtado, da Unilab, UFC e Uece, "segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um milhão dos que emigram são jovens do campo. Dos 50 milhões de jovens brasileiros, aproximadamente 8 milhões, entre 15 e 29 anos, vivem nos sertões. Eles representam 27%  da população rural e 15,1% dos jovens do Brasil. Essa situação requer um olhar diferenciado por parte do governo, não só no sentido de oferecer oportunidades reais para essas pessoas exercerem sua cidadania,  como no que diz respeito a uma preocupação cada vez mais presente, hoje, nas famílias e naqueles que atuam no campo, que é a questão da sucessão rural".

Segundo ele, o grande diferencial é desenvolver um processo de formação e capacitação dos jovens do Semiárido cearense buscando gerar renda. "Temos dois projetos pilotos da Secretaria Nacional da Juventude, um em Brasília, com a UBN, e outro no Ceará. Vale ressaltar que todos os 196 projetos produtivos, que foram elaborados pelos próprios jovens, estão voltados para o bioma Caatinga, para a agricultura camponesa, baseados no contexto ecológico. Estamos entregando uma política pública elaborada pelos jovens rurais. O que nós queremos é um novo campo, um novo meio rural, uma nova realidade, uma nova perspectiva para todos que ainda vivem no pedaço de chão" enfatizou o professor Ribamar.

Formam o leque de parceiros o Movimento dos Sem Terra, Pastoral da Juventude Rural e Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Ceará.

Na opinião do facilitador do curso nos Sertões de Canindé,  Davi Felipe, o fortalecimento da agricultura no Semiárido cearense é um trabalho, um marco histórico, tanto pela democratização do conhecimento quanto pela parceria entre as universidades e os movimentos sociais.

Pensamento semelhante tem Ellen Rúbia, de apenas 15 anos do distrito de Salitre, em Canindé. "O curso significa a garantia dos direitos dos jovens camponeses à educação para mudar o atual modelo, que é baseado na exclusão. Tenho hoje uma visão diferente de tudo que via antes e não ligava".

Dionísio Ferreira Alves, 62 anos, pai de um dos participantes do curso, Francisco Valdinei Pinto Alves, contou que, na sua vida de agricultor, nunca tinha visto uma coisa tão importante para mudança de vida dos jovens. "Meu filho já aprendeu nesse período o que ele nunca imaginava. É bom, porque ganha uma nova vida".

Projetos
 

O Ceará tem 82% de clima Semiárido e, sabendo que o bioma Caatinga é predominante, o trabalho de geração e renda foi contextualizado nesse fato. Dentre os projetos apresentados, destacamos:

1- Sistema agloflorestal: trata-se da do manejo sustentável da produção agrícola e florestal, que segue um modelo de um roçado ecológico envolvendo plantio de fruteiras nativas, espécies nativas forrageiras e culturas anuais;

2- Quintal produtivo: envolve nove projetos para sustentabilidade da atividade, como meliponicultura, avicultura caipira, hortifruticultura, beneficiamento hortifrutícola, hidroponia, minhocário, composteira e infraestrutura hídrica;

3- Criação de ovinos e caprinos: a finalidade é de construir instalações e promover a aquisição de animais de alta linhagem para crescimento dos planteis; manejo da Caatinga garantirá banco de proteínas, a partir da leucena e gliricídia e mais 20 hectares de Caatinga enriquecida. Nessa área, está prevista a construção de duas unidades de abate animal:

4- Práticas de recuperação de áreas degradadas: construção de barragens de contenção de sedimentos, subterrânea e de enxurrada.

Vida digna

"O crescimento das cidades e da violência, a dificuldade de emprego e obtenção de renda no campo levou a juventude a abandonar seus locais de nascimento, em busca de uma qualidade de vida que cada vez mais se comprova inacessível para essa população. Este quadro  parece estar mudando  diante da qualificação cada vez maior, que vem sendo galgada pelos jovens e da oferta de se propiciar uma vida digna no campo, com trabalho e renda, fruto das atividades agrícolas e não agrícolas sustentáveis. O produto esta pronto, falta apenas os governantes fazerem sua parte", destacouo professor Ribamar Furtado.