Cruz da Baixa Rasa atrai romaria

Escrito por Redação ,
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Paulo Ernesto Arrais
especial para o Regional


Em todos os anos, no mês de janeiro, a cultura popular sobe a Serra do Araripe para a festa da Cruz da Baixa Rasa. São grupos folclóricos, vaqueiros e cristãos que preservam uma tradição secular: Uma romaria para um antigo cemitério, hoje desativado, mas onde pairam histórias trágicas que remetem ao sofrimento do sertanejo nordestino.

A mais conhecida história da Baixa Rasa poderia até fazer parte de romances sertanistas. Os mais velhos contam que por volta de 1870, morreram um vaqueiro e um cavalo de fome e sede, perdidos entre os 39 mil hectares da Floresta Nacional do Araripe. Eles teriam sido encontrados debaixo de um tronco de pequizeiro. Foram enterrados e uma cruz foi erguida no ponto onde eles morreram. Até hoje as pessoas fazem romaria à Baixa Rasa, num misto de solidariedade e comoção com a história de sofrimento do vaqueiro e de seu animal.

Francisco Barreto, aos 85 anos, participa da romaria há quatro décadas. Ele sobe a serra em procissão entre os mais de 200 vaqueiros devotos da Cruz da Baixa Rasa. Diz que ficou comovido com a história que escutou dos pais dele e entre os pedidos que faz ao chegar no local está o de ter saúde para montar o cavalo e vir todos os anos à festa. “Enquanto Deus me der saúde estarei aqui para rezar pela alma do vaqueiro e do cavalo que morreram aqui”.

Aos pés da Cruz da Baixa Rasa estão muitos ex-votos que se acumulam a cada romaria. São peças de madeira e barro que representam graças alcançadas pelos devotos. José Oliveira Reinaldo deixa no local uma cabeça esculpida em madeira. Pagou a promessa que fez para a sogra dele que sentia dores na cabeça. “Vários médicos consultaram a minha sogra, dona Cícera. Ela nunca ficou curada. Desde que fiz a promessa, no ano passado, ela não toma remédios e nunca mais sentiu dores de cabeça”, garante o pedreiro.

São muitos os milagres atribuídos à Cruz da Baixa Rasa e, por isso, antigamente muitos cristãos eram enterrados no local. Maria das Graças Fernandes tem a avó, a mãe, uma irmã e uma filha sepultadas no local. “Hoje não é permitido enterros na Baixa Rasa mas eu queria descansar aqui”, diz a dona-de-casa.

A festa da Baixa Rasa já está no calendário de datas comemorativas do município. Mas quem participa da festa tem um sonho ainda maior: a construção de uma capela. Sonho que pode fazer parte de um futuro próximo. A chefe da Floresta Nacional do Araripe, Verônica Figueiredo, diz que está analisando a proposta. “O local, considerado de interesse público, poderia ser mais um atrativo turístico para cidade, um espaço permanente ideal para aulas de educação ambiental.