Chuva e seca contrastam realidades no Interior

Escrito por Redação ,
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A chuva registrada no Cariri, na madrugada de ontem, serviu para aliviar os produtores rurais da região e fortalecer a esperança de que este ano seja de fartura no campo. No Sertão Central e parte dos Inhamuns, o dia amanheceu nublado. Mesmo assim, se o quadro de seca persistir, os agricultores ameaçam invadir as sedes municipais em busca de comida. O Centro-Sul também amarga a estiagem que começa a provocar perdas de plantio e a colocar o rebanho em perigo por falta de pasto.

Juazeiro do Norte (Sucursal) – Uma chuva média de 30 milímetros banhou vários municípios da região do Cariri na madrugada de ontem. A mudança nas condições climáticas animou os agricultores que estavam preocupados com o prolongamento da estiagem. Muitos se puseram no caminho da roça e outros foram até a sede da Ematerce em busca de sementes selecionadas. É o caso do produtor João Vicente da Silva, residente no Sítio Betolândia, que foi em busca de milho e feijão para plantar numa área de 2,5 hectares.

Ele recebeu o comprovante para pagar R$ 47,50 na agência dos Correios e só depois voltaria para apanhar as sementes. O dinheiro eqüivale aos 10 quilos de sementes de feijão e 20 quilos de milho que Vicente utilizou no ano passado. “Deu quase nada. Produzi apenas o suficiente para comer durante alguns meses”, diz o agricultor responsabilizando a falta de chuvas. Em Juazeiro do Norte, estão sendo distribuídos 12.890 quilos de sementes de milho, feijão arroz e de caju anão precoce. O técnico da Ematerce, Dácio Pinheiro Carvalho, estima que já foram distribuídas 70% do total.

Ele avisa que os comprovantes para pagar já estão disponíveis desde outubro na Ematerce, “mas muitos só vão apanhar com a chegada do inverno”. A chuva da madrugada de ontem na “Terra de Padre Cícero” foi de 36 milímetros — no mês de janeiro foram 22 milímetros. No distrito de Cariutaba, em Farias Brito, os pluviômetros assinalaram 84mm. A maior do período, segundo a Funceme. O agricultor Pedro Firmino Gonzaga, de 72 anos, amanheceu o dia na roça limpando o plantio de batata doce e macaxeira para plantar sementes de milho e feijão.

“Aqui é terra de fartura e ninguém morre de fome”, afirma enquanto trabalha recordando que a frase teria sido dita pelo Padre Cícero Romão Batista ao seu pai. Procedente de Palmeira dos Índios (AL), ele desembarcou em Juazeiro em 1932 quando tinha dois anos de idade, junto com a família atraída pela fé no sacerdote. Seu Pedro jamais esqueceu os conselhos do pai ouvidos do “Padim” e sempre teve confiança na agricultura, apesar de muitos insucessos. Só este ano, ele já perdeu dois plantios de feijão e milho por conta da estiagem.

Ele trabalha em terras alheias e mora numa casa de taipa no Sítio Salgadinho há poucos quilômetros do Centro da cidade. Pedro Firmino não conseguiu se aposentar e vive da agricultura de subsistência. “O homem do campo precisa ter muita fé e acreditar que vai dar certo”, aconselha. No Sindicato dos Trabalhadores Rurais são muitas as queixas em relação ao atraso no pagamento das cinco parcelas de R$ 110,00 do Seguro Safra 2005. Muitos produtores alegam falta de dinheiro para pagar as sementes selecionadas adquiridas ano passado ou mesmo comprar grãos.