Avoantes completam ciclo no Ceará

Crato (Sucursal) — As avoantes estão de volta ao sertão dos Inhamuns. Como a asa branca, que na poesia de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, volta para casa no ronco do primeiro trovão, a avoante, ou ave de arribação, acompanha o ciclo das chuvas para cumprir a fase de reprodução. É o mistério da vida que ocorre em plena caatinga. O pombal, local de postura, bebida e alimentação, está localizado na Serra do Ermo, ou “Sovaco do Catolé”, município de Aiuaba, a 60 quilômetros da Estação Ecológica de Aiuaba.

Segundo cálculo do biólogo Carlos Leal, são mais de 200 mil aves que ocupam uma área de 7 mil hectares, cobrindo os municípios de Campos Sales, Salitre, Parambu, Antonina do Norte e parte do Estado do Piauí. Carlos Leal diz que, este ano, o pombal foi menor do que nos anos anteriores. Essa redução está sendo atribuída a presença de água para bebida em várias regiões do Nordeste.

O processo migratório para a reprodução, conhecido regionalmente como pombal, se inicia em Pernambuco e Piauí, seguindo o ritmo das chuvas e chega ao Ceará no final de fevereiro e início de março.

A partir desta semana, quando os filhotes começam a voar, as arribaçãs se dispersam para várias localidades. A maioria se concentra na região do baixo Jaguaribe. As áreas de reprodução são geralmente de difícil acesso: encostas de serras, chapadas e fundos de vales, cobertos com vegetação fechada.

No período de reprodução, que ocorre no mês de maio, aumenta a perseguição dos caçadores. A avoante tem um importante papel na complementação alimentar do sertanejo, principalmente, nas épocas de seca, quando as condições econômicas das comunidades sertanejas atingem os limites de calamidade. Além da caça de subsistência, ocorre, paralelamente, a caça predatória para comercialização, praticada por grupos urbanos que utilizam equipamentos modernos de caça, transporte e conservação.

Com escassez de comida, o morador da caatinga apela para a caça como forma de complementar a dieta da família. Vereadores de Campos Sales reagiram contra a fiscalização. Um deles, segundo o chefe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Jakson Antero, chegou a sugerir uma cota de 20 avoantes por mês para cada agricultor residente na área.