Artesão transforma flandre em peças diferenciadas

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
Maurício Flandeiro, mestre da cultura, hoje se destaca como artista que possui peças em vários países

Cada peça criada é uma alegria. Os grandes e detalhados navios, oratórios, castelos, lampiões, aviões, estrelas, luas em suas fases mais belas, o sol em sua magnitude são belos e originais fotos: Elizângela Santos

Maurício dos Santos ficou conhecido, desde o final dos anos 70 quando começou a desenvolver as peças

Juazeiro do Norte Transformar flandre em arte passou a ser a principal atividade de José Maurício dos Santos. Era a forma de aliviar a dor do conflito psíquico para não retornar à loucura que viveu por algum tempo num hospital do Rio de Janeiro. Maurício Flandeiro ficou conhecido desde o final dos anos 70, quando começou a desenvolver peças diferentes e inspiradas. Investiu nos cortes especiais das folhas de zinco, para chegar a uma lamparina inédita, tendo como combustível a água. Os astros inspiravam o artista, que passava noites em claro para chegar às novas invenções. As peças do artista hoje estão presentes em museus do Estado e em vários países do mundo.

Em 1978, a conselhos médicos, quando saía do hospital psiquiátrico, Maurício decidiu vir para Juazeiro do Norte, sua terra natal. O lugar, para ele mesmo, não valorizou muito o seu trabalho. Hoje, numa humilde casa, no Bairro Frei Damião, na periferia da cidade, o mestre da cultura popular inspira cuidados médicos. Aguarda há meses uma oportunidade do posto de seu bairro, para tratar de um braço dormente, que não permite muito esforço, pelos efeitos dolorosos causados pelo desconhecido sintoma de provável doença.

Extinção

A arte dos flandeiros do Cariri está quase extinta. São homens, que por meio do lúdico transformam sonhos de criança numa grande arte do brincar adulto. Cada peça criada, uma alegria sem par para Maurício. Os grandes e detalhados navios, oratórios, castelos, lampiões, aviões, estrelas, luas em suas fases mais belas, o sol em sua magnitude. Todos esses cuidados especiais vinham de visões, pedidos feitos ao Padre Cícero Romão Batista e à mãe das Dores para que a criatividade chegasse.

Inspiração

Mas, ao criador sem limites de peças únicas, pela sua simplicidade, Maurício Flandeiro leva para o trabalho a vida de brincante. E lá estão as coroas de reis e rainhas. A figura do Mateus, personagem que faz no reisado, é fonte de inspiração para as suas peças de zinco. Chegou a ser mestre também na dança de reis.

Os ouvidos apurados para as músicas românticas do passado inspiram o seu coração nas quentes tardes de novembro. Na calçada de casa escuta Altemar Dutra, paginando uma pasta com fotos antigas dos seus trabalhos, que nem sabe mesmo onde se encontra. "Está tudo por aí, no mundo", diz ele. Muitas de suas peças se encontram hoje na Europa e nos Estados Unidos.

Exposição

Em 2009, alguns trabalhos de Maurício Flandeiro foram disponibilizados no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), na exposição organizada pelo historiador Titus Riedl, sociólogo, pesquisador e nascido na Alemanha, denominada Arte Bruta do Cariri. O artista ainda guarda várias fotografias de navios e barcos. Os meninos da rua ficam impressionados com a habilidade de Flandeiro e desafiam o artista a fazer as peças, que são os modelos de navios. "Para mim não tem a menor dificuldade, não fosse esse problema de saúde", diz. Impaciente com o seu estado, e quase desesperançado da saúde que o poder público oferece.

Há mais de um ano sem poder trabalhar, Maurício já passou por Acidente Vascular Cerebral (AVC), e mesmo assim, depois dos exames e do tratamento, quando chegar, reiniciará suas atividade de criador de coisas novas. Ele apresenta com alegria as fotos da sala feita em sua homenagem no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, além das peças em outro museu de São Paulo. "Foi uma grande surpresa que me proporcionaram", lembra.

Sonhos

Aos 61 anos, a enfermidade física e a preocupação constante, aos cuidados constantes à base dos medicamentos, Maurício Flandeiro está com a mente cheia de sonhos de continuar suas atividades. A principal inspiração vem de Deus. A maioria das pessoas que batem na sua porta para conhecer o trabalho vem de fora. De outros países até. Aqui, Flandeiro se considera um ser anônimo. Na oficina de frente a sua casa tem apenas uma fruteira de peça de zinco. Lembra que há outra especialidade sua que são os jarros de flores, os beija-flores, pássaros que dão asas à sua imaginação. Essa não tem freio. Cria a todo instante em busca da liberdade do fazer.

Mais informações:

Rua Geraldo Galdino, Frei Damião
Cidade de Juazeiro do Norte
Região do Cariri
Telefone: (88) 8819.6491

Inventor do Sertão inaugura museu em Potengi

Algumas exposições com os objetos produzidos por Françulí já foram feitas em Fortaleza, também na região do Cariri e na sua própria cidade. O inventor desde criança projeta aviões e outros instrumentos

Potengi O zinco em busca de asas. A imaginação passa a não ter limites quando o assunto é arte. Prestes a inaugurar o museu que leva o nome que o fez se tornar conhecido, Inventor do Sertão, Francisco Dantas de Oliveira, de 71 anos, o seu Françuli para todas as gerações que o admiram nas ruas de Potengi, o sonho fica cada vez mais próximo. Já está tudo montado.

Uma nova pintura, com os aviões desenhados nas paredes do lado de fora do museu, num pequeno beco estreito que só cabe o lugar, e por isso ganhou o nome de "beco de Françuli", enfeita a parede. Outro grande sonhador, como Maurício Flandeiro, que reconhece em Françuli um artista do zinco. São eles dois na região, que projetaram as suas atividades. São diversos modelos de lamparinas pelo chão do museu, dividindo espaço com os aviões estilizados, em tamanhos variados. Balões, dirigíveis, ultraleves.

Françuli busca soluções, como desejo transformador, de criar equipamentos até para facilitar a captação de água. Desenvolveu as custas de muito esforço mental, um equipamento para retirar água do subterrâneo, e encher as latas do líquido para matar a sede dos de casa em tempos de seca no sertão. Só não patenteou a invenção. Amostras da engrenagem estão presentes no espaço cumprido e de um só vão, com dezenas de peças expostas, e que já se tornou uma atração à parte para a pequena cidade de pouco mais de 10 mil habitantes.

Mas o sonho de transformar com o flandre veio a partir da primeira aparição de um avião sobre o céu de Françuli. Desse período por diante, depois dos 6 anos, a finalidade era só fazer igualzinho ao que viu passar sobre sua cabeça. E depois vieram barcos, navios, mais e mais lamparinas, pássaros, e o sonho de voar constantemente na memória. No museu, o agricultor de hábitos simples, que se criou trabalhando na roça, há um boneco feito em sua homenagem. Com um avião na mão. Tudo que voa neste mundo chama a sua atenção. Em qualquer lugar que se encontre, tem que haver por perto uma de suas criações, seja um pássaro de zinco recortado ou um avião. Todos os dias, praticamente, Françuli sai de seu sítio, no Monte Belo, em Araripe, percorrendo um trajeto de 20 quilômetros até Potengi. Um percurso comum feito com um transporte projetado por ele. Uma moto, a Tex de 50 quilômetros, que lhe rende uma boa economia de combustível. O artesão do zinco de Potengi é admirado por Maurício Flandeiro. "Somos, que eu me recorde, os únicos a fazerem esse trabalho com o flandre", diz ele. O material mais utilizado para o trabalho é o zinco, por pegar menos ferrugem. A prática de ambos aperfeiçoou o ofício. Mas o juazeirense afirma que não é algo feito do dia para a noite. Construir os grandes navios requer mesmo é paciência.

Tempo

Cada pecinha montada, com a solda para fixar, exige tempo. Um tempo que Françuli se dispõe em sua oficina ao lado do museu, onde contempla suas criações e aguarda apoio suficiente para tocar o seu museu, em Potengi.

São cerca de 12 modelos de aviões distribuídos no salão do museu. Com incentivo do amigo, o historiador alemão Titus Riedl, decidiu concretizar um desejo, que era a criação do museu. A tentativa de fazer um ultraleve alçar voo não foi frustrante de um todo. Chegou a dar um pequeno rasante. Não foi mais longe por falta de dinheiro para comprar um motor garantido. Os detalhes para se chegar à proeza de tirar do chão os seus aviões assumem nuances minuciosamente estudadas.

Mais informações:

Museu Inventor do Sertão
Rua: Beco de Françulí
Cidade de Potengi - CE
Telefone: (88) 3538.1225
Região do Cariri

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER