A região Norte registrou na primeira quinzena deste mês, 66 mortes por decorrência da Covid-19, além de 3.686 infecções. O número de óbitos é o mais alto - quando analisado sempre o recorte dos primeiros 15 dias - desde setembro do ano passado, quando o Estado vivia ainda a primeira onda da pandemia. Entre os dias 1º a 15 de setembro foram contabilizados 76 mortes e 3.553 casos. Os números são da plataforma IntegraSus, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
A cidade de Sobral concentra sozinha quase a metade de todos esses óbitos. Em 15 dias, já foram 26 vidas perdidas, média de quase duas mortes a cada 24 horas. Somente no dia 8 de março não houve registro de óbitos. Neste intervalo quinzenal, o dia 10 foi o mais dramático, com 4 mortes confirmadas em somente 24 horas.
O Município enfrenta hoje um agravamento do cenário epidemiológico. Desde o início deste ano, já são 2.853 casos confirmados e 51 óbitos. Com a crescente exponencial dos casos, a taxa de ocupação de leitos exclusivos ao tratamento de pacientes com Covid-19 está próximo de colapsar.
Atualmente, todos os 102 leitos UTI-Covid do Hospital Regional Norte (HRN) estão ocupados, assim como todos os 20 leitos do hospital de campanha Dr. Francisco Alves. Só há duas vagas (de 20) na Santa Casa de Misericórdia.
A lotação no maior e mais importante hospital da região, o HRN, tem dificultado o acesso de alguns pacientes à UTI. Sem vagas imediatas, muitos ficam na fila de espera, o que pode ser fatal. "Minha avó ficou esperando vaga no Regional e não conseguiu", lamenta Gabriel Pernambuco.
Ele é neto de Maria Zilda Andrade Pernambuco, de 78 anos. A idosa morreu, em Sobral, no último dia 5 de março, "após esperar por mais de duas horas por ma vaga de UTI dentro de uma ambulância em frente ao HRN". Gabriel acrescenta que a avó se internou no dia 1º de março, em Santa Quitéria - cidade natal da idosa - e, após quatro dias, seu quadro clínico se agravou.
"Os profissionais do hospital de campanha nos disseram que não tinha mais nada que pudesse ser feito por ela e sugeriram a imediata transferência para o Hospital Regional Norte. Então ela foi entubada e ficou mais de duas horas esperando UTI. No mesmo dia que ela se internou em Santa Quitéria, no começo do mês, ela já tinha entrado na lista de espera do HRN. Foram cinco dias e nada de conseguir leito. Ela teve duas paradas cardíacas e morreu dentro da ambulância do Samu",
Dona Maria Zilda foi enterrada em Santa Quitéria. Ela era casada há 59 anos e deixa 10 filhos, 10 netos e dois bisnetos. A história da idosa não é um caso isolado. Jubetânia de Souza perdeu ontem (17) sua mãe vítima da Covid-19. Antonia Francisca de Sousa, de 70 anos, morreu também no Hospital Regional Norte (HRN) após ficar quatro dias a espera de um leito de UTI.
"Minha mãe foi internada, em Coreaú, no último dia 11. Dois dias depois, no sábado, ela piorou e foi transferida para Sobral. Imediatamente foi colocada no capacete Elmo e depois entubada e então ficou na semi-uti esperando um leito de UTI, mas não tinha vaga. Ontem, minha mãe perdeu essa luta", lamenta a filha.
Agravantes
A epidemiologista da Associação Brasileira de Epidemiologistas de Campo (ProEpi), Daniele Queiroz, explica que esse aumento no número de óbitos, bem como o aumento nos casos graves da doença, "pode estar relacionado com a nova cepa" em circulação em várias parte do País. A especialista acrescenta que "a nova variante acaba reduzindo a imunidade de rebanho e isso impacta em mais casos".
Ainda conforme Daniele, diante da simultaneidade das infecções verificada em todas as cidades do Estado nesta segunda onda, "menos leitos estão disponíveis e isso impacta no número de mortes e pacientes graves. A velocidade da transmissão está bem superior à velocidade de abertura de novos leitos, por isso é tão importante que a população faça adoção das medidas de segurança. É preciso que o lockdown seja respeitado para que a gente quebre algumas cadeias e tenhamos queda na velocidade de transmissão".
Daniele, que também é professora universitária, pontua ainda que, além da cepa ser mais grave e letal, "o tempo de internação dos pacientes está mais prolongado, que vai de 20 a 30 dias. Desta forma, o leito de UTI passa a ser ocupado por mais tempo. O reflexo são filas mais longas".
Cenário estadual
A Secretaria da Saúde do Estado divide o Ceará em cinco superintendências (ou regiões) de saúde: Fortaleza, Sobral (região Norte), Cariri, Sertão Central e Litoral leste/Jaguaribe. Destas, a situação mais delicada atualmente é a de Fortaleza. A soma dos casos de infecção nas cidades que compõem essa superintendência já superou o montante total da primeira onda.
Entre março a setembro, foram 114.458 casos confirmados, com 5.977 mortes, cuja taxa de letalidade ficou em 5,2. Já entre outubro a 16 de março (ontem), o número de infectados já era 123.869, aumento de 8,22%. Contudo, as mortes tiveram sensível redução: 1.892 (taxa de letalidade 1,8).
A região Litoral Leste/Jaguaribe também apresenta rápida evolução dos casos. Na primeira onda, a Sesa registrou 18.102 infecções e, entre outubro a março de deste ano, já são pouco mais de 15 mil casos confirmados. Assim como a superintendência de Fortaleza, o Litoral Leste/Jaguaribe também registra queda nos óbitos: 374 contra 191.
Na região do Cariri, foram 50.019 pessoas infectadas entre março a setembro, das quais 991 morreram. Na segunda onda da pandemia os números já chegam a 29.674, com 541 mortes. No Sertão Central, 18.134 pessoas foram contaminadas pela Covid-19 na primeira onda, com 504 óbitos. Agora, entre outubro a março, são 9.117 e 189 mortes.
Já no Norte, foram 66.689 casos e 1.457 mortes por decorrência da Covid-19 na primeira onda da pandemia. Entre outubro a março deste ano, a Sesa soma 28.272 infecções e 350 óbitos. Quando unificado todas as regiões, o Estado já tem, nesta segunda onda, 77% de todos os casos registrados na primeira onda: são 210.127 casos contra 270.935 entre março a setembro do ano passado.