Oferta de oxigênio hospitalar cresce, mas manutenção de estoque ainda é um desafio, diz Aprece

Logística e aumento na demanda são os principais fatores que agravam a situação no Ceará, segundo a associação

O acesso ao oxigênio hospitalar no Ceará ainda tem sido um gargalo enfrentado por várias prefeituras durante a pandemia da Covid-19. Apesar da melhora apresentada nos últimos dias, a Associação dos Municípios do Ceará (Aprece) revela que ainda há cidades que enfrentam problemas para obtenção do insumo. O órgão, no entanto, não detalha quais e quantas, mas o vice-presidente da Aprece, Zé Hélder, confirma que há “dificuldade de logística para distribuição dos cilindros com o gás para os municípios”. 

O promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (Caocidadania) do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), Enéas Romero, também reconhece que nas últimas semanas houve ampliação na oferta do insumo, mas pontua que “além do [problema de] transporte, alguns municípios trabalham com cilindros com capacidade baixa de armazenamento” e isso acaba refletindo em um maior tempo gasto na operação de distribuição e reposição. “Encher um cilindro demora muito”, ilustra. 

A soma desses fatores, ainda segundo o promotor, pode acarretar “escassez em alguns municípios”. Para afastar o risco de colapso, o MPCE já recomendou a "adoção de medidas necessárias para garantir o abastecimento de oxigênio" nas unidades de saúde de 93 municípios cearenses, segundo o último levantamento do Caocidadania, atualizado na tarde desta quarta-feira (31). Confira lista completa no fim desta matéria.   

Nas recomendações, direcionadas a prefeitos, secretários da Saúde e diretores de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e de hospitais, o MPCE requer garantia no estoque de oxigênio para no mínimo dez dias de consumo subsequentes. O órgão também sugeriu que seja elaborado plano de contingência em caso de escassez de oxigênio e insumos, conforme o crescimento da demanda.  

Alerta permanente  

O cenário é análogo ao de uma gangorra. Há momentos em baixa, que preocupam, e intervalos em alta, cujo estoque se encontra satisfatório. Essa falta de linearidade é justamente a razão pela qual Aprece e MPCE sugerem não "existir uma situação confortável". 

Em março, os dois momentos já foram observados. Após uma melhora atestada nos “últimos 20 dias”, conforme destacou Zé Helder, a demanda, nesta semana, voltou a crescer no interior cearense em comparação com a semana anterior. A constatação deste aumento é do presidente da Aprece, Júnior Castro.  

Segundo ele, além dos problemas de logística já citados, a White Martins, maior empresa produtora de oxigênio atuante do Ceará, “não ampliou a oferta para as unidades que fazem o envase do gás e, por isso, algumas empresas [de menor porte] precisam buscar o produto no Rio de Janeiro, por exemplo”.

Essa necessidade de deslocamento ao sudeste brasileiro reflete na morosidade da reposição do estoque. Conforme Castro, “são seis dias para ida e retorno, incluindo a demora no abastecimento dos cilindros”. Um longo tempo que, muitas vezes, o paciente não tem.     

Aumento no consumo 

Nesta última semana, ainda de acordo com o representante da Aprece, o consumo de oxigênio aumentou em várias cidades. “Três vezes [em uns municípios] e, em outros, até oito vezes. São cidades pequenas, médias e até grandes”. Apesar da revelação, Júnior Castro optou em não nominar as cidades. “Não dá para indicar a quantidade porque é uma situação variável a cada dia”, justificou. 

O secretário da Saúde de Paracuru, Ângelo Nóbrega, confirma que “a crise de escassez de oxigênio ainda existe” e corrobora que não há conforto nos estoques do insumo. O gestor observa que as secretarias da Saúde enfrentam “uma guerra diária” para obter o oxigênio e garantir a manutenção do estoque.  

 

A ausência de “conforto” e o estado permanente de alerta, segundo Ângelo Nóbrega, advém da variação diária de demanda. Como o vírus é imprevisível, em dado momento as internações podem estar controladas e, no dia seguinte, pode existir uma crescente de internações.  

“[A garantia do estoque] vai depender da quantidade de pacientes graves que necessitam de um consumo maior de oxigênio”, reforça. Segundo ele, a situação é mais delicada nos hospitais de menor porte que não estão “estruturados para enfrentar uma demanda que triplicou na pandemia”.   

O vice-presidente da Aprece, Zé Helder, acrescenta que, além da situação não estar regularizada, “a maioria dos hospitais no Interior trabalha no limite”. Os números sintetizam esse cenário. Segundo Júnior Castro, “há hospitais municipais que usavam o estoque de cilindros de oxigênio em até 15 dias, antes da pandemia, mas agora chega a utilizar em apenas um ou dois dias”. 

Articulação 

Para assegurar a manutenção do estoque e evitar que o insumo acabe – o que se tornaria fatal para muitos pacientes – a Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado e a Aprece estão “em articulação constante para socorrer às cidades por demanda urgente de oxigênio”, destacou Castro. 

Na manhã desta quarta-feira (31), o presidente da Associação dos Municípios do Ceará visitou uma das empresas que fazem o envasamento de cilindros de oxigênio, em Fortaleza, com o objetivo de dar celeridade ao atendimento às demandas de hospitais do Interior. “Há problemas em alguns municípios, mas isso vem sendo tratado pela Sesa e a Aprece”, pontua Júnior. 

“Temos casos em que o fornecedor não atende um hospital em determinado dia e o gestor é pego de surpresa, no meio da noite, e então nos liga para fazermos a logística para doação dos cilindros e reposição”, finaliza Castro.

Além das articulações da Sesa e Aprece, o Ministério Público do Estado recomenda aos prefeitos que  esclareçam como está sendo feito o controle do estoque de oxigênio, "observando qual é o órgão da Secretaria da Saúde responsável pela gerência do estoque; como o controle se dá em hospitais e UPAs; como funciona o fluxo de informações das unidades de saúde com a pasta da área e de que forma esse controle é fiscalizado pela Secretaria de Saúde". Essas informações, segundo Eneas, são úteis para garantir a manutenção do estoque. 

Cidades em que o MPCE já emitiu recomendação:

  • Abaiara
  • Acarape
  • Acaraú
  • Acopiara
  • Amontada
  • Aracati
  • Ararendá
  • Aurora
  • Banabuiú
  • Barbalha
  • Barroquinha
  • Baturité
  • Bela Cruz
  • Boa Viagem
  • Camocim
  • Campos Sales
  • Canindé
  • Caridade
  • Caririaçu
  • Cascavel
  • Catarina
  • Caucaia
  • Chaval
  • Choró
  • Crato
  • Croatá
  • Cruz
  • Deputado Irapuan Pinheiro
  • Ereré
  • Eusébio
  • Fortaleza
  • Frecheirinha
  • Graça
  • Granjeiro
  • Groaíras
  • Guaraciaba do Norte
  • Guaramiranga
  • Hidrolândia
  • Horizonte
  • Ibaretama
  • Ibiapina
  • Ibicuitinga
  • Icó
  • Iguatu
  • Independência
  • Ipaporanga
  • Ipueiras
  • Iracema
  • Itaitinga
  • Itapajé
  • Itapipoca
  • Itapiúna
  • Jaguaribe
  • Jardim
  • Jati
  • Jijoca de Jericoacoara
  • Juazeiro do Norte
  • Madalena
  • Maranguape
  • Mauriti
  • Milagres
  • Milhã
  • Miraíma
  • Mombaça
  • Monsenhor Tabosa
  • Morada Nova
  • Orós
  • Pacoti
  • Paracuru
  • Paramoti
  • Pedra Branca
  • Penaforte
  • Piquet Carneiro
  • Pindoretama
  • Poranga
  • Porteiras
  • Quixadá
  • Quixeramobim
  • Quiterianópolis
  • Quixelô
  • Saboeiro
  • Salitre
  • Santana do Acaraú
  • Santana do Cariri
  • São Benedito
  • São Gonçalo do Amarante
  • São João do Jaguaribe
  • São Luis do Curu
  • Sobral
  • Solonópole
  • Tabuleiro do Norte
  • Tamboril
  • Umirim