Nordeste concentra maior parte do plantel

A expectativa é que o Brasil exporte 500 toneladas de carne em 2007. O Ceará é destaque no setor

Sobral. A criação de avestruz vem ganhando força no Brasil. Prova disso é a evolução da estrutiocultura industrial brasileira que só no quesito “produção de carne”, cresceu 706% de 2005 para 2006, segundo dados da Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (Acab). Diante do crescimento, não é difícil entender o interesse do mercado externo pela cultura. A Acab estimativa que, este ano, o Brasil chegue a exportar 500 toneladas de carne da ave.

Oito estados concentram 80% do plantel brasileiro — Goiás, São Paulo, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Ceará. O Nordeste é a região que detém a maior fatia das 426.190 avestruzes hoje existentes — 32,6% —, afirma a Acab em pesquisa. Ou seja, quase 138.950 aves estão na região. Dessas, 10% pertencem ao Ceará que, em hierarquia de criação, só perde para Bahia (43%), Alagoas (15%) e Pernambuco (12%).

Complexo empresarial que vem contribuindo para essa expressividade nordestina é o Aravestruz Nordeste S/A, instalado na localidade de Patos, em Sobral. Composto de frigorífico, fazenda, fábrica de ração, central de incubação e, em breve, curtume, o Complexo, de julho de 2006 até agora, já exportou 2.500 peças de couro de avestruz, sendo R$ 700 cada, para países como Estados Unidos, México e Alemanha.

“Recebemos muitas propostas comerciais. Toda semana, os compradores internacionais ligam para nós em busca da ave”, afirma o proprietário do Complexo, Maurício Lupifieri, mostrando que a procura não se restringe à pele da ave. Entre as propostas encaminhadas, diz ele, estão as de 10 mil aves para a Espanha, 20 mil para a Bélgica, cerca de 100 mil para a Suíça, 55 mil para a Holanda e 110 mil para o Togo, no oeste do continente africano.

Segundo o empresário, o potencial do frigorífico, em funcionamento há apenas 12 meses, é de 60 mil aves abatidas por ano, com capacidade de estocagem de 30 toneladas de carne. “Somos o único do Nordeste específico de avestruz com selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)”, diz.

Além da certificação do SIF, o frigorífico foi construído dentro dos padrões de exigência internacional, acrescenta o fiscal federal agropecuário do Mapa, Robervan Diniz Gondim, que acompanhou um dos abates ocorridos no frigorífico. Pelo menos uma vez por semana há abate, diz Lupifieri. Acompanham ainda o trabalho, dois agentes de inspeção. “O frigorífico só funciona com o acompanhamento da equipe do Ministério”, garante Robervan.

A tendência mundial pelo consumo de alimentos saudáveis — em nutrientes, a carne de avestruz está à frente do frango, peru, boi e porco — e por práticas ambientais sustentáveis reforçam a atividade da estrutiocultura (criação de avestruz). Mas o que brilha os olhos dos compradores externos é o fato de praticamente tudo se aproveitar da avestruz.

Utilidades variadas

As unhas da ave, segundo o empresário, são aproveitadas na Índia, por exemplo, como afrodisíaco. “Eles transformam a unha em pó e misturam à comida ou à bebida”. O bico é bom para botões. Com o couro, fazem-se sapatos, cintos, carteiras e diversos outros acessórios de vestuário. As plumas podem ser aproveitadas na confecção de fantasias carnavalescas ou em espanadores. Os ovos não férteis podem virar peças variadas do artesanato.

Até na reabilitação de pessoas com problemas motores, o avestruz pode ajudar, garante o proprietário do Complexo. Seria a “estrutioterapia” — modalidade de fisioterapia em que se utilizam, em vez de cavalos, avestruzes na montaria. “Fizemos essa experiência em São Paulo e as crianças da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) ficaram encantadas”. Diante dos benefícios, ele acredita que “a cultura do avestruz pode mudar o semi-árido nordestino”.

LUDMILA WANBERGNA
Repórter

SAIBA MAIS

Calorias
A avestruz está no topo da tabela nutricional. Só para se ter uma idéia, são 96,6 calorias contra 135 do peru, 140 do frango, 240 do boi e 275 do porco.

Criadores
São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Bahia, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal e Rio Grande do Sul concentram 80% dos criadores brasileiros.

Ranking
A região Nordeste apresenta a maior densidade de criatórios. Das 10 primeiras posições, oito são ocupadas por estados da região.

Mercado
A Aravestruz nasceu em Araçatuba, interior de São Paulo, em 1997. Em 2006, veio para o Nordeste.

Mais informações:
Escritório do Complexo Aravestruz Nordeste S/A em
Av. Barão de Studart, 1.100, Aldeota, Fortaleza (CE)
(85) 3263.2261
Em Sobral, (88) 3366-9701
www.aravestruz.com.br