Natal é encenado por jovens

A lapinha é o jeito singelo do povo simples do sertão reverenciar o nascimento de Jesus Cristo

Crato. Neste mês de dezembro, o Cariri se transforma num grande teatro da cultura popular. Reisados, lapinhas, presépios, pastoris são montados no recesso dos lares e nas ruas. É o jeito singelo do povo simples do sertão herdeiro de tradições ibéricas, indígenas e africanas, reverenciar o nascimento de Jesus Cristo. Cerca de 3 mil pessoas participaram do espetáculo "O Caminho de Belém", promovido pela Sociedade de Cultura Artísticas do Crato, na quadra Bicentenário. Cerca de 100 atores participaram da encenação, que destacou os principais momentos da promessa, vinda e revelação do Natal de Jesus.

A influência ancestral dos três principais mundos formadores da alma brasileira permanece pulsante na vida do sertanejo. O folclorista Cacá Araújo diz que a lapinha assume, neste contexto, uma espécie de demonstração da prevalência do Cristianismo sobre as crenças e religiões dos outros povos.

O escritor cratense J. de Figueiredo Filho, em seu "O Folclore no Cariri" (1960: p. 32) afirma que à lapinha, "de procedência lusitana, foi acrescentada muita cousa de fonte indígena ou africana, como os caboclos, a canção da formosa tapuia, ou temas inteiramente abrasileirados".

Uma das mais autênticas representações dessa cultura é a lapinha viva de Mazé de Luna, no Bairro Muriti. Os personagens do presépio (Jesus, Maria, José, pastores, reis magos, anjos, animais, índios e astros celestiais como a Lua, o Sol e as estrelas) são vividos por jovens da comunidade, que fazem do ato dramático uma forma de expressar o sentimento cristão.

O presépio é uma referência cristã que remete para o nascimento de Jesus na gruta de Belém, na companhia de José e Maria. Conta a Bíblia que, depois de muito tempo à procura de um lugar para albergar o casal, que se encontrava em viagem por motivo de recenseamento de toda a Galileia, José e Maria tiveram que pernoitar numa gruta ou cabana nas imediações de Belém. Segundo a escritura sagrada, Jesus nasceu numa manjedoura destinada a animais (no presépio, uma vaca e um burro) e foi reconhecido, no momento do nascimento, por pastores da região, avisados por um anjo e, dias mais tarde, por magos (ou reis) vindos do Oriente, guiados por uma estrela, que teriam oferecido ouro, incenso e mirra ao recém-nascido.

Todos estes símbolos são representados na lapinha viva de Mazé de Luna que, nesta semana, esta se apresentando em vários eventos da cidade. Além da lapinha, a família Luna coloca nas ruas o Reisado Decolores. Na sala da frente da residência da família foi montado um presépio, outra tradição natalina, que está presente na maioria das casas sertanejas. É o presépio de dona Celina, com mais de 50 anos de tradição.

Tornou-se costume em várias culturas montar um presépio quando é chegada a época de Natal. Variam em tamanho, alguns em miniatura, outros em tamanho real. O primeiro presépio do mundo teria sido montado em argila por São Francisco de Assis em 1223. Nesse ano, em vez de festejar a noite de Natal na Igreja, o Santo fê-lo na floresta de Greccio, para onde mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses que não conseguiam entender a história do nascimento de Jesus.

O costume espalhou-se por entre as principais catedrais, igrejas e mosteiros da Europa na Idade Média, começando a ser montado também nas casas de reis e nobres já no Renascimento. Em 1567, a duquesa de Amalfi mandou montar um presépio que tinha 116 figuras. Foi no Século XVIII que o costume de montar o presépio nas casas comuns se disseminou pela Europa e depois pelo mundo.

Tradição

"Estamos dando continuidade a uma tradição iniciada por meu pai, Dedé de Luna"
Mazé de Luna
Mestre de Reisado

"A Lapinha é uma tradição religiosa e uma forma de expressar o sentimento cristão"
Maria da Penha
Coordenadora do reisado

SIGNIFICADOS

Personagens que compõem o presépio

Crato.
O presépio é formado por vários personagens, que possuem um significado importante do nascimento de Jesus Cristo. Vale a pena conhecer cada uma delas e relembrar esse importante marco para os cristãos.

O primeiro deles é o Menino Jesus, o filho de Deus. Foi o escolhido para ser o salvador do povo; Maria, que é a mãe do filho de Deus. Do seu ventre, nasceu Jesus Cristo; José é o pai adotivo do menino Jesus, foi um homem judeu, provavelmente carpinteiro/ pedreiro.

O curral é o local simbolizado pelo presépio. Era onde se guardavam o gado. Por isso, no presépio, Jesus fica sobre as palhas, em uma manjedoura.

Esta manjedoura é um lugar de aconchego, onde Jesus ficou quando nasceu. É como se fosse o berço do salvador.

Simplicidade

O burro e o boi são os animais que representam a simplicidade do local onde Jesus nasceu. Jesus não nasceu em palácios, nem em lugares luxuosos, mas sim em meio aos animais.

Os anjos anunciam a chegada do filho de Deus aos pastores. Eles sabem que nasceu o Salvador. Já os pastores são homens do campo, que simbolizam a simplicidade do povo, já que Deus acolhe todos, sem se importar com sua condição social.

Estrela não é qualquer uma. Trata-se da estrela de Belém, aquela que se coloca no alto da árvore de Natal. Foi ela que guiou os três reis magos quando Jesus Cristo nasceu.

Reis magos

Os três reis magos são Melquior, Baltazar e Gaspar. Eram considerados sábios. Os três estavam no local onde Jesus nasceu. Vieram do Oriente conduzidos pela estrela. Chegaram à cidade de Belém, local de nascimento do menino, levando presentes de grande valor simbólico: mirra, ouro e incenso. A Igreja explica que o ouro representava a realeza, a mirra era símbolo da paixão e o incenso a oração.

Antônio Vicelmo
Repórter