Ambiente integrado

Economista Alex Araújo aponta as razões que favorecem o empreendedorismo no Ceará.

Com cenário de condições favoráveis ao empreendedorismo, o Ceará contabilizou quase 130 mil empresas ativas no mercado em 2016, conforme a pesquisa Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo, divulgada no fim do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o segundo maior número dentre os Estados do Nordeste, ficando atrás apenas da Bahia (224.976).

Segundo o estudo, as atividades econômicas que mais se destacaram nas entradas de empresas no mercado em nível nacional foram: comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas, com 243,6 mil empresas (37,6%); atividades profissionais, científicas e técnicas, com 53,9 mil (8,3%); atividades administrativas e serviços complementares, com 49,3 mil (7,6%); alojamento e alimentação, com 44,6 mil (6,9%); e construção, com 44,4 mil (6,8%).

alex araújo

Crescimento 
O economista Alex Araújo (foto acima), Gerente de Microcrédito do Banco do Nordeste (BNB), pontua que, nos últimos anos, o empreendedorismo ganhou muita força no Ceará. Ele diz que, atualmente, passamos por um momento de reestruturação da economia do Estado. “Tivemos, no fim dos anos 90, grande foco na industrialização, o que gerou toda uma economia em torno disso. Hoje, estamos em uma nova onda, muito concentrada no setor de serviços, em que há incorporação de Fortaleza como uma metrópole de grande influência em termos regionais, e o comércio é um dos protagonistas”, analisa. 

Ele comenta que isso possibilitou o desenvolvimento de novas empresas, sobretudo as mais ligadas ao setor informal, a exemplo da indústria  de confecção no Ceará, que começou na Rua José Avelino e hoje vive um processo de retransformação do polo de confecções, com diversos outros pontos de venda. Ele cita ainda a dinâmica muito própria que o negócio de turismo tem, e os polos de saúde e educação, que também criaram dinâmicas próprias pelo Estado. 

A região das cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (Crajubar), ao integrar serviços e comércio, é um dos exemplos lembrados pelo gestor. “Então você tem uma dinâmica econômica favorável para o surgimento de novas empresas, com uma cara muito ligada ao setor terciário, diferente do que foi no fim dos anos 90. Desta vez, está muito ligada ao setor de serviços, e aproveita a conexão com polos regionais de comércio, como Quixadá, Iguatu, Juazeiro do Norte, Sobral e Itapipoca, que são polos de grande força”, frisa o Gerente de Microcrédito do BNB.

Renovação
Além disso, há, cada vez mais, um maior número de jovens iniciando atividades empreendedoras. Estes configuram um perfil inovador de empreendedor, com mais escolaridade, muito mais abertura para negócios diferentes, principalmente com temática digital, afirma o gestor. “A gente vê a cidade de Fortaleza se adequando muito a esse ambiente, com vários espaços compartilhados. Temos vocação histórica para o empreendedor, e a gente vê hoje uma renovação desse movimento com os novos empreendedores que estão entrando”, avalia o economista. São jovens em torno de 20 anos, das gerações X e Y, muito ativos no mercado.  “A gente vê uma profusão de empreendedores jovens, com vários negócios ligados à indústria criativa, no Ceará como um todo e Fortaleza em particular”, destaca.  

Adaptação
Alex Araújo comenta que os principais fatores que motivam as pessoas a empreenderem são, de um lado, a necessidade, e de outro, a vocação, tal como divide a pesquisa internacional Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Realizada no País pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a pesquisa GEM mede o nível de empreendedorismo em diferentes nações.

O economista cita que no Ceará, assim como acontece no Brasil, de forma geral, existe mais ou menos uma média dos dois grupos de empreendedores. Entre os que empreendem por vocação estão profissionais liberais, pequenos lojistas e pequenos industriais, pessoas que têm o desejo de trabalhar por conta própria, de ser seu próprio patrão, e buscam a atividade empreendedora como forma de realização profissional, observa o economista. Já os que empreendem por necessidade são pessoas que o fazem para fugir de questões de sazonalidade nos empregos e na economia, porque precisam trabalhar.

“O que é particular do Ceará nesse cenário, e isso tem ganho destaque nos últimos anos, é que, por conta da histórica escassez de emprego vivida no Estado – também em razão da industrialização tardia e com muita gente associada às atividades de agricultura –, sempre tivemos uma disponibilidade muito grande para nos adequarmos a outras atividades, inclusive as por conta própria”, sinaliza Alex Araújo. 

Não é à toa a brincadeira de dizer que se encontra cearense trabalhando em qualquer lugar do mundo, lembra. “Os cearenses se adaptam bem e essa característica é muito forte. Tanto que, no programa de microcrédito do Banco do Nordeste (BNB), o Ceará é onde o BNB tem o maior número de clientes”, revela o economista.

Dados nacionais
. Em 2016, no total de empresas ativas no Brasil, a taxa de sobrevivência foi de 85,5%; a taxa de entrada, 14,5%; e a taxa de saída, 16,1%. Ressalta-se que 97,7% do pessoal ocupado assalariado estava nas empresas sobreviventes; 2,3%, nas empresas entrantes; e 1,6%, nas empresas que saíram do mercado.

. Em relação ao comércio, a reparação de veículos automotores e motocicletas foi a seção que registrou os maiores aumentos absolutos de pessoal ocupado assalariado, tanto vinculado às entradas (227,3 mil) como relacionado às saídas (146,2 mil), assinalando a atividade com o maior ganho absoluto neste aspecto (81,1 mil). 

. Do total de 660,9 mil empresas que nasceram em 2011, 492,8 mil (75,2%) sobreviveram em 2012; 462,2 mil (64,5%), até 2013; 346,8 mil (52,5%), até 2014; 300,2 mil (45,4%), até 2015; e 251,1 mil (38%), até 2016. Assim, após cinco anos da entrada no mercado, verifica-se que 38% das empresas entrantes em 2011 sobreviveram até 2016.

. Com relação às taxas de sobrevivência das empresas que foram abertas de 2008 a 2016, num período de até 5 anos após o seu surgimento, foi possível observar que as taxas de novas empresas em 2008 apresentaram sempre valores superiores. 

. Em 2016, as empresas de alto crescimento foram responsáveis por R$ 183,1 bilhões de valor adicionado bruto, o que corresponde a 9,7% do valor gerado pelas empresas com 10 ou mais pessoas assalariadas.

FONTE: Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo 2016, pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de 2018.