Ambiente integrado

Mário Gurjão, idealizador da Plataforma Inova Mundo, explica o conceito de ecossistema empreendedor e aponta os pontos fortes no Ceará.

Compreender o empreendedorismo no Estado do Ceará passa, necessariamente, pelo entendimento do conceito de ecossistema empreendedor. Adaptando um conceito utilizado, inicialmente, pela biologia, os especialistas conseguem analisar determinado território a partir de alguns itens que formam sua economia e identificar onde é preciso trabalhar mais, quais são os pontos desafiadores e os que já estão mais fortalecidos. "No caso do Ceará, o aspecto que está em melhores condições é, sem sombra de dúvidas, nossa cultura empreendedora", aponta Mário Gurjão, idealizador da Plataforma Inova Mundo. Por outro lado, "a criação de um ambiente integrado de acesso ao capital e apoio metodológico, associada à política pública de simplificação, pode de fato mudar o cenário em médio prazo", cita o especialista, em relação a alguns dos pontos mais frágeis do nosso Estado.

O conceito de ecossistema empreendedor foi idealizado na Babson College, uma das mais conceituadas escolas privadas de negócios, fundada em 1919 e localizada em Massachusetts, nos Estados Unidos. Por esse modelo, o ecossistema empreendedor é formado por seis pilares: políticas públicas, capital financeiro, cultura empreendedora, instituições de suporte, recursos humanos e mercados. "O desenvolvimento equilibrado desses eixos é o que torna o ambiente mais ou menos propício aos negócios", explica Mário Gurjão (foto abaixo).

mario gurjão

Na visão do idealizador da Plataforma Inova Mundo, o Estado do Ceará ainda está aprendendo a perceber e trabalhar com esse conceito, de modo a tornar o ambiente de negócios mais próspero e inovador. "Esse termo nem sequer era pronunciado fora das universidades, cinco anos atrás. Ele vem sendo adotado pelo mundo dos negócios, que requer, cada vez mais, uma visão ampliada e sistêmica. Alguns pilares, como os das políticas públicas, das instituições de suporte e do capital financeiro, necessitam de uma presença forte do Estado para se desenvolverem, principalmente nos primeiros anos de estruturação", aponta Mário Gurjão.

Fortalecer
Conforme a interpretação do especialista, para alcançar um nível de desenvolvimento e competitividade que possa aproximá-lo dos grandes mercados, o Ceará ainda precisa resolver muitos entraves, como a burocracia para a obtenção de capital, para a abertura de empresas, para a importação de equipamentos e a internacionalização. "Precisamos rever aspectos regulatórios no que tange à tributação e às relações trabalhistas nas startups. Não dá para uniformizar tudo e querer inovar por meio da adoção de velhas práticas", aponta Mário Gurjão.

No entanto, alguns dos nossos pontos fortes devem ser ainda mais incentivados, como a cultura empreendedora, que deve continuar recebendo investimentos. "O Ceará tem uma agenda intensa de eventos em diferentes formatos, o que indica, por um lado, que há mais pessoas interessadas em temas como empreendedorismo, inovação e sustentabilidade e, por outro, que o conhecimento está sendo mais difundido. Isso é fundamental. Governo, Academia e setor empresarial protagonizam uma série de iniciativas nesse sentido", ressalta Mário Gurjão.

Potencial
De acordo com o idealizador da Plataforma Inova Mundo, apesar de tantos desafios, já existem programas, projetos e pesquisas em andamento visando o aproveitamento do ecossistema empreendedor cearense. "Há muitas iniciativas: palestras, workshops, hackathons, cursos, programas de desenvolvimento de negócios, editais de apoio à pesquisa, editais de apoio a novos negócios, programas universitários de extensão, ofertas de disciplina nas graduações, mestrados e doutorados, entre outras", enumera o especialista. 

Com o tempo, e contando com o apoio dos órgãos governamentais, Mário Gurjão projeta que o Ceará pode ter muitos ganhos. "Essas ações podem se integrar num modelo maior que permita ganho de tempo, redução de desperdício, ganho de escala, potencialização do conhecimento existente e efetividade, traduzida no aumento de negócios intensivos em tecnologia e que gerem riqueza para o nosso Estado", observa. "Precisamos aprovar a Lei Estadual de Inovação, integrar programas e projetos, qualificar melhor as ofertas de projetos para editais, capacitar os empreendedores em gestão, aproximar as pesquisas do mercado, financiar a entrada de produtos inovadores no mercado, reduzir a burocracia, recompor progressivamente os recursos do Fundo de Inovação Tecnológica, aprimorar as metodologias de desenvolvimento de negócios, formar rede de investidores locais, entre outras coisas", completa. 

O conceito de ecossistema empreendedor pode ser bem aproveitado por empresários dos mais variados portes, trazendo vantagens para os negócios. "Àqueles que estão começando um negócio, sugiro se integrar mais a esse ambiente, visitar os espaços de coworking, programas universitários e eventos para conhecer pessoas, trocar experiências e ganhar conhecimento", aconselha Mário Gurjão. "Empresários que já possuem alguns anos de atividade podem se beneficiar por meio da interação com a comunidade de startups, aceleradoras e acompanhando editais de fomento e programas de apoio técnico das instituições de suporte, locais e nacionais. Grandes empresas estão diversificando o seu portifólio com programas de inovação aberta, conexão com startups e estruturação de processos internos de pesquisa e desenvolvimento", explica o idealizador da Plataforma Inova Mundo.

Saiba mais
Por definição, o ecossistema é um ambiente auto-organizado, que conta com a presença de uma série de atores e que são unidos com um determinado fim. Da mesma maneira como ocorre na biologia, também na economia a forma como esse ecossistema se apresenta determina se ele é mais ou menos competitivo e quantas lacunas possui. Suas partes podem ser assim definidas:

1 - Políticas públicas: papel das políticas governamentais de apoio e incentivo ao empreendedorismo (diminuição da burocracia, criação e implantação de leis etc.);

2 - Capital financeiro: recursos financeiros acessíveis aos empreendedores, em especial o capital de risco, em que o investidor também assume parte do risco;

3 - Cultura empreendedora: abertura à experimentação e adoção de inovações ainda não totalmente consolidadas, tolerância à falha e uma atitude próempreendedorismo; 

4 - Instituições de suporte: também chamadas de instituições de fomento, são entidades não governamentais de apoio aos empreendedores, profissionais de suporte especializados (em startups, por exemplo) e condições de infraestrutura;

5 - Mercado: amplo panorama que abrange as redes formadas pelos empreendedores e o próprio mercado consumidor em geral;

6 - Recursos humanos: inclui a capacitação de empreendedores e a oferta de trabalhadores qualificados para os empreendimentos, abrangendo universidades, faculdades, cursos ligados ao empreendedorismo e à inovação etc.