Pedal seguro

Altura do selim, como ser visto no trânsito e instruções para os primeiros pedais são algumas orientações que os especialistas trazem a quem está começando no ciclismo, em razão da mobilidade urbana, do lazer ou mesmo para sair do sedentarismo.

Foto: Banco de imagens

Com o amplo crescimento da malha cicloviária de Fortaleza nos últimos anos, o número de ciclistas tem aumentado na cidade. Se você é um ciclista iniciante ou tem vontade de começar a pedalar, saiba que não é só adquirir uma bicicleta e sair por aí com ela. É preciso ficar atento às leis de trânsito, a alguns detalhes quanto à própria bicicleta, aos acessórios, entre outros tópicos.

Conversamos com o profissional de Educação Física Dênio Coelho e com o servidor público Murilo Viana. Dênio, por meio da Escola do Ciclista (@escoladociclista), ensina desde pessoas que querem aprender a pedalar a quem deseja realizar uma cicloviagem. Murilo atua como voluntário da rede Bike Anjo  (@bikeanjofortaleza), rede de ciclistas que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse veículo nas cidades.

Aprendendo
Dênio e Murilo recomendam que as pessoas escolham locais tranquilos para aprender a pedalar, como um parque, uma praça ou no interior de um condomínio. Depois que já souber se equilibrar, conduzir a bicicleta, frear e fazer curvas, o próximo passo é buscar ruas calmas, com pouca circulação de carros, para começar a se habituar com o trânsito, que requer muito mais atenção, lembra Murilo.

Um bom lugar para começar a praticar é a Ciclofaixa de Lazer, que acontece aos domingos, na capital cearense (veja mais informações no quadro da página 26). Conforme for ganhando intimidade com o trânsito, o ideal é fazer trajetos curtos, como ir a uma padaria ou a uma farmácia perto de casa, sempre no mesmo sentido dos carros, frisa o voluntário da rede Bike Anjo. “Evite a todo custo andar na contramão, porque é extremamente perigoso”, reforça Dênio.

Legenda: "O olho humano vê mais o que muda de cor. Recomendo usar luzes que piscam. Blusa com reflexivos e faixas reflexivas também ajudam bastante à noite. Ou mesmo usar colete de segurança, que dá para ser muito bem visto, mesmo de longe”, afirma Dênio Coelho.
Foto: Thiago Ciel/ Divulgação

Primeiros pedais
“Depois você vai ampliando suas metas, aumentando as distâncias, tentando pegar uma via que seja mais movimentada. Para quem está começando e até quem não está, no dia a dia, procure ocupar mais ou menos um terço da faixa – quando não tiver ciclofaixa –, aí você vai entendendo a dinâmica do trânsito e aos poucos vai fazendo percursos maiores e atingindo seu objetivo”, pontua Murilo.

Dênio lembra dos pedais noturnos, já tradicionais em Fortaleza, ideais para ciclistas iniciantes. “Os da Unimed são pedais de 20km a 30km. Eles são muito bons para pessoas iniciantes, porque são grupos com batedores, tem pessoas que podem ajudar se a bicicleta quebrar. Se furar um pneu, colocam sua bicicleta no caminhão de apoio e você vai no carro de apoio. Depois, quando achar que esses estão fáceis, pode buscar grupos que fazem 50 a 60km”, aconselha o profissional de Educação Física.

Acessórios
No que diz respeito aos equipamentos, os entrevistados defendem que sinalizar a bicicleta para fazer com que ela e você sejam vistos é o mais importante. Para isso, lanternas frontais e traseiras são essenciais, principalmente se for pedalar à noite, quando é naturalmente mais difícil de os motoristas visualizarem os ciclistas.

“O olho humano vê mais o que muda de cor. Recomendo usar luzes que piscam. Blusa com reflexivos e faixas reflexivas também ajudam bastante à noite. Ou mesmo usar colete de segurança, que dá para ser muito bem visto, mesmo de longe”, afirma Dênio Coelho. Ele finaliza esse tópico falando do uso do capacete e de luvas, ambos para proteção, sobretudo em caso de queda.

Selim
Outro item importante é o selim. “Algumas pessoas acham que quanto mais largo o selim, maior é o conforto. Isso não é verdade, é uma lenda. Selim tem que encaixar com os ossos dos quadris, que a gente chama de ísquios. Eles têm que ficar pousados em cima do selim”, ensina o profissional.

Legenda: "A altura considerada ideal para ter uma pedalada legal é você, em pé, com a bicicleta ao lado, e ter o selim na altura da sua cintura”, indica Murilo Viana.
Foto: Thiago Gadelha/ Divulgação

“Para quem está começando, é ideal que a pessoa sente no selim e consiga ficar com os dois pés fixos no chão. Essa não é a posição ideal, pois prejudica um pouco a pedalada se o selim estiver muito baixo, mas dá segurança a quem está aprendendo, caso seja necessário colocar os dois pés no chão. Aos poucos, a pessoa vai conseguindo aumentar a altura do selim. A altura considerada ideal para ter uma pedalada legal é você, em pé, com a bicicleta ao lado, e ter o selim na altura da sua cintura”, indica Murilo Viana.

Leis de trânsito
Murilo Viana comenta que o Código de Trânsito Brasileiro dá prioridade no trânsito aos pedestres e aos ciclistas com relação aos condutores de veículos motorizados. “Então se um ciclista e um carro querem fazer uma conversão para o mesmo lado, o carro tem que esperar o ciclista fazer a conversão para somente depois disso ele fazer. Na prática, isso acontece? Nem sempre. Mas você tem que ter consciência de que a lei lhe privilegia e tentar achar um meio termo”, argumenta o voluntário da rede Bike Anjo. Ele destaca ainda que os ciclistas não podem pedalar em calçadas.

Dênio sugere que, ao adquirir uma bicicleta, a pessoa deve verificar na internet quais são os direitos e os deveres dos ciclistas. Entre os direitos, ele menciona que o ciclista tem a preferência sobre o carro. Quanto aos deveres, cita o respeito ao pedestre. “Evitar ao máximo estar na ciclovia se você não está de bicicleta. Esse é o primeiro passo para quem é pedestre”, observa o professor de ciclismo. Aprender a fazer gestos com os braços para sinalizar antes de fazer conversão também é fundamental, acrescenta.

Bicicleta ideal
Antes de adquirir sua própria bicicleta, Dênio Coelho recomenda que as pessoas façam um bike fit, serviço que ele define como uma análise biomecânica do corpo para encaixá-lo na bicicleta ideal. “Não devemos considerar só o tamanho da altura do selim: tem o avanço do selim para frente e para trás, a distância do guidão, o tamanho do teu braço e do teu tronco, entre outras medidas. Tiramos essas medidas de acordo com a flexibilidade articular da pessoa. Até o tamanho do selim influencia”, pontua o profissional de Educação Física.

A quem não puder procurar um bikefitter – o ideal seria um profissional de educação física ou um fisioterapeuta – antes de comprar a bicicleta, ele aconselha a buscar um bike fit gratuito na internet. Nele, não há análise da flexibilidade articular, por exemplo. Mas, com as medidas que você mesmo pode conferir e preencher no site ou no aplicativo, a plataforma calcula e dá o tamanho de uma bicicleta próxima do ideal para você, expõe o professor de ciclismo. “Então, você tem tendência a errar menos”, arremata.

Ciclofaixa de Lazer
Uma faixa exclusiva para se locomover de bicicleta em algumas das principais vias da capital cearense, sempre aos domingos, das 7h às 13h. Essa é a ideia da Ciclofaixa de Lazer, idealizada em dezembro de 2014 pela Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), por meio do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (PAITT).

Durante os trajetos, a Ciclofaixa de Lazer conta com acompanhamento e suporte da Guarda Municipal, da Autarquia Municipal de Transporte e Cidadania (AMC) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), oferecendo conforto e segurança aos participantes. Além disso, no ponto de apoio localizado no Parque do Cocó, costuma-se disponibilizar aluguel de bicicletas para quem quiser participar do evento.

Segundo a Prefeitura Municipal de Fortaleza, o evento conta com a participação de cerca de 4 mil pessoas por edição, consolidando-se como uma importante opção de lazer, esporte e cultura aos domingos na capital. A Ciclofaixa de Lazer chegou à 254ª edição em novembro deste ano. Ótima opção para quem quer começar a pedalar, indicam os entrevistados.