Ambiente poético

A procura por obras de arte estampando paredes residenciais tem aumentado em Fortaleza. Saiba mais sobre o tema a seguir.

Há quem chame de murais internos, pintura em ambiente residencial ou simplesmente intervenção. Mas o fato é que a procura por obras de arte estampando paredes residenciais tem aumentado em Fortaleza, afirma o artista visual cearense André Nódoa (@nodoa_). “Vejo que a raiz do aumento da procura por murais internos foram os festivais de arte urbana em Fortaleza − como o Festival Além da Rua e o Festival Concreto −, que lotaram a capital de pinturas incríveis, com artistas de diferentes estilos.

Com isso, é possível ter mais contato com a arte e, por consequência, com os artistas muralistas. Muda tudo ter acesso frequente e de graça a grandes murais espalhados pela capital. Além de a cidade ganhar história, forma e vida, os murais acabam alimentando ideias para arquitetos e pessoas criativas, que chamam os mesmos artistas que viram na rua para pintarem paredes de suas próprias casas”, comenta André Nódoa.

Arte em casa

A pintura em ambiente residencial é só uma opção do que é possível se fazer quando a ideia é colocar arte em casa. O importante é colocar algo que se comunique com você, frisa o artista visual André Nódoa. “A casa é um ambiente sagrado. Tudo que for colocado lá olha para nós de volta, fala com e sobre a gente”, expõe o profissional.

A artista visual e escritora cearense Raisa Christina (@raisa.christina) tem opinião similar. Ela diz que, na residência, é fundamental que haja uma espécie de simpatia, identificação ou mesmo um carinho dos moradores para com a intervenção, pois esta se torna mais um “habitante” da casa, “alguém” com quem se passa a conviver diariamente, num processo de familiaridade. “Sem dúvida, a presença da obra impõe um dado, um gesto, uma marca muito particular na composição do espaço, além de produzir memória”, observa a profissional.

Identificação

Por isso, André Nódoa defende que o mais importante é o cliente chamar um artista cujo trabalho acompanha e que faça sentido ter em casa. Para isso, Raisa Christina sugere que se procure conhecer o trabalho de artistas, indo a exposições em ambientes formais e informais de arte, participando de falas abertas com artistas sobre seus processos criativos e pesquisando portfólios nas redes.

“Em algum momento, talvez haja um encanto ou uma identificação profunda com certa obra, e é a partir daí que pode ocorrer um primeiro contato mais direto com o artista. Acho estranho quando alguém faz o caminho inverso: propõe que o artista se adapte ao seu desejo ou ideia subjetiva, excluindo qualquer possibilidade de diálogo com a linguagem própria dele”, indica Raisa Christina.

André Nódoa cita que o primeiro contato com o artista costuma ser feito por meio das redes sociais ou por e-mail. Ele ressalta a importância de pesquisar um pouco sobre o profissional, ver quais foram suas últimas produções. “Depois disso é só entrar em contato, tendo as medidas e as fotos da parede que vai receber a pintura”, sinaliza.

Processo

“Cada artista tem uma forma de trabalhar. Para mim, a primeira coisa que precisa ser vista é o tamanho da parede. Depois disso, peço para me enviarem quais obras minhas podem servir de referência para o projeto. A partir daí, temos uma conversa e mando o desenho para ser aprovado dias antes de a pintura ser feita”, explica Nódoa. Raisa opina que deve haver uma negociação por parte do artista e de quem o contrata. “Ambos decidem juntos o que será pintado. É comum que o artista faça antes uma espécie de projeto ou esboço da intervenção, com um orçamento, para que o contratante possa aprovar ou não, assim como para sugerir ou ajustar detalhes”, descreve a profissional.
Afinal, colocar uma obra de arte na sua casa, seja qual for, é um processo muito pessoal, e cada um tem uma forma de ver o mundo, detalha Nódoa. “É imensamente inspirador encontrar pessoas que investem em artistas locais, adquirindo obras, participando de eventos e divulgando nossas produções”, finaliza Raisa Christina.

Ambientes

Normalmente as pessoas querem algo na sala ou em alguma área externa, mas é possível se pintar em qualquer espaço, pontua André Nódoa. Raisa Christina relata que não há regras quanto a em qual cômodo é possível colocar uma pintura desse estilo. “Contudo, a maioria das pessoas prefere que a intervenção aconteça na sala, por uma questão de visibilidade, em algum ambiente externo, como numa varanda ou jardim, ou mesmo no quarto, quando se trata de um trabalho mais intimista”, avalia a artista visual e escritora. “O ideal é que se contrate o artista quando já há uma identificação com a poética de seu trabalho – método, traço, cores e temas. O artista não é um decorador, um designer de interiores ou um simples técnico que vai reproduzir qualquer imagem. Ele cria dentro de seu próprio repertório estético e afetivo. Então, a pessoa que o contrata deve levar esses aspectos em consideração quando quer negociar um projeto de intervenção autoral. Há artistas que trabalham, além do desenho e da pintura, com objetos também e podem, sim, criar intervenções para além da bidimensionalidade”, detalha Raisa Christina.


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