Trajetória inspiradora

Professora Raquel Felipe de Vasconcelos passou por várias decepções em concursos públicos até atingir a aprovação.

Legenda: Raquel, em pé, dando aula: muita paciência e dedicação até atingir o objetivo.
Foto: Foto: Acervo pessoal

Aprovada no concurso para professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) em 2010, a fortalezense Raquel Felipe de Vasconcelos, de 36 anos, diz ter vivido momentos de altos e baixos na “carreira” de concurseira, que começou há bastante tempo. Ela partilha um pouco da jornada vivenciada nesses anos, que passou por fases como o casamento, o início da maternidade, o divórcio e o novo casamento até chegar à aprovação no certame almejado. 

Raquel é professora de Educação Física, Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), doutoranda em Ciências Morfofuncionais pela Universidade Federal do Ceará (UFC), esposa e mãe. Para inspirar os concurseiros de plantão, ela conta sua história, repleta de lições aprendidas no período de preparação e durante os próprios exames.

Raquel Felipe de Vasconcelos, professora do IFCE, considera que sua história em concursos começou bem antes da vida profissional, já na preparação para o Vestibular, no ano 2000. Decidida a cursar Educação Física na UFC e seguir fazendo aulas de balé, ela se organizou para estudar muito. Isso incluía acordar às 5 horas para estudar antes de ir para a escola; estudar antes da aula de balé, após o turno escolar; e mais estudo antes de dormir, até 22 horas. A rotina lhe rendeu o 1º lugar no curso desejado. Dessa experiência, ela destaca as duas primeiras lições importantes que levou, posteriormente, para a preparação para concursos: meta e disciplina.

Dedicação
A segunda grande aprendizagem que Raquel (na foto acima, com a família) levou para os concursos veio no estudo para a seleção do Mestrado em Ciências Fisiológicas na Universidade Estadual do Ceará (Uece), em 2005, em que havia quase 100 concorrentes, quase todos médicos e dentistas. Mais uma vez, dedicação e disciplina foram fundamentais, inclusive para aprender sozinha os conteúdos que não tinha visto na graduação.

Fazer uma programação semanal dos conteúdos também foi bem importante para dar conta de tudo a tempo do exame (cerca de cinco meses).

Apesar de ter passado em 3º lugar nas provas, ela não passou na etapa da entrevista. “Outra lição importante: quando não for como você espera, viva a tristeza da decepção por pouco tempo. Transforme essa derrota em novas metas e siga em frente. O não, a decepção e o ‘não dar certo’ fortalecem”, argumenta. No ano seguinte, ela conseguiu a aprovação. Portanto, nada de desistir porque não deu certo na primeira vez. 

Paciência
Depois do mestrado, ela participou dos primeiros concursos para professora substituta na Universidade Federal do Ceará (UFC), nos quais passou em 2º lugar (com diferença de décimos para o primeiro colocado) e não foi chamada. Da lição “não será de primeira que entrarei”, nasceu a dica que ela deixa aos concurseiros: antes do seu concurso-alvo, faça pelo menos um outro antes para “tirar o nervoso” da estreia e trazer experiência para o seu objetivo maior.

Na sequência, Raquel Felipe de Vasconcelos participou de um certame para uma universidade particular, iniciando, assim, a vida docente na graduação. “A experiência de dar aula ajudou bastante nos concursos que viriam em seguida, já que as etapas dos meus concursos sempre envolviam uma fase em que eu deveria ministrar aula”, detalha.

Desafios
Quase três anos após essa aprovação, surgiu um concurso para professor na área dela na UFC e um no IFCE. “Escolhi como prioridade o IFCE, com a qual eu tinha maior identificação. Foquei mais nesse concurso. Nessa época, em 2010, tive que ter ainda mais disciplina e força de vontade, pois eu tinha acabado de ter minha filha”, expõe. “As mães sabem como os primeiros dias de vida de um bebê são cansativos. Eu tinha que conciliar os cuidados com a bebê com os estudos. Várias vezes eu dava de mamar segurando minha bebê com um braço, sentada na mesa, e no outro braço, as mãos na caneta e no caderno, reescrevendo várias vezes os resumos que eu preparava para estudar”, observa.

Em algumas noites, ela colocava a filha no berço, dormindo, e ficava dentro do banheiro no quarto da pequena, à meia luz, estudando enquanto esperava a próxima mamada. “Não foi fácil, foi muito cansativo. Mas eu sentia que aquele concurso seria meu e isso me dava força para não desistir”, afirma a mamãe.

Mesmo tendo estudado pouco o conteúdo para o exame da UFC e pensando em não ir para a prova, a mãe de Raquel não a deixou desistir. “Ela me deu força e me fez acreditar que eu deveria ir. Eu fui. Fiz boa prova, apesar de não ter atingido a nota para passar para a próxima fase. Mas fiquei orgulhosa de mim por ter conseguido apenas 0,5 abaixo da nota necessária, tendo estudado pouco aquele assunto. Mais uma experiência para a conta”, relembra.

Mas a meta principal estava por vir. O exame da primeira etapa do IFCE foi em Sobral. “Tive que levar minha filha com 1 mês de vida para fazer a prova comigo. Depois de horas de estrada (viajei de madrugada para fazer a prova de manhã), ainda precisei interromper a prova duas vezes para amamentar. Mas eu estava treinada a me manter concentrada mesmo com as distrações. Já havia treinado isso com a minha bebê em casa. Treino, treino, treino... é outro segredo para enfrentar concursos. Passei na primeira fase do IFCE em 3º lugar e na segunda fase consegui o resultado final de 1º lugar. Uma alegria enorme, que fez todo esforço (duro e longo) valer a pena”, conclui a concurseira vitoriosa.

Curiosidade
Em 2017, Raquel Felipe de Vasconcelos passou por mais um processo seletivo, para o Doutorado em Ciências Morfofuncionais na Faculdade de Medicina da UFC. Como só ficou sabendo que esse curso estava com inscrição aberta a três dias de encerrarem as inscrições, ela só teve o fim de semana para escrever o projeto. “Sentei sexta-feira e só levantei segunda-feira à tarde para entregar o projeto na UFC. Do zero, escrevi um projeto de doutorado em um fim de semana. Disso fica a lição de que você não pode deixar de acreditar em razão de outras variáveis, como, no caso, o tempo. Talvez o mais fácil fosse dizer ‘não vai dar tempo, não. Não vou nem tentar’. Mas eu não pensei assim. Eu pensei ‘eu vou tentar. Se não der, não deu’. E acabou dando muito certo, passei em 1º lugar”, afirma a professora. E em se tratando da preparação para o doutorado, Raquel ainda conciliou isso com as atividades de dar aula, pegando cerca de 8 horas semanais de estrada, já que era lotada no campus de Canindé.