Da vivência à ciência

Escolas Waldorf têm currículo permeado por arte e seguem pedagogia de abordagem holística. A partir das experiências vividas é que se chega à teoria em cada ano escolar.

Foto: Wagner Kiyanitza/ Divulgação

Uma escola onde não há aulas de informática, não se usa borracha, nem caneta esferográfica, mas sim caneta tinteiro. Um local em que os alunos fazem pão semanalmente com o professor e, além das disciplinas previstas pelo MEC (Ministério da Educação), os estudantes têm um currículo com jardinagem, botânica, astronomia, mineralogia, pintura e flauta e ainda há espaço para brincadeira de roda, canto, declamação de poesia, preparação e encenação de peças de teatro, tricô de dedo, história da arte, violino, crochê, entre outras práticas. Tudo isso coordenado por um processo pedagógico ao longo dos anos.

Essas são algumas caraterísticas da Escola Waldorf Micael Fortaleza, que existe há 27 anos e atualmente se localiza no bairro Luciano Cavalcante. Com 298 alunos no Ensino Infantil e no Ensino Fundamental, o educandário é uma das 48 escolas brasileiras afiliadas à Federação das Escolas Waldorf no Brasil (FEWB).

Antroposofia
O colégio fortalezense, bem como os outros estabelecimentos educacionais que seguem a pedagogia Waldorf em quase 80 países, têm caraterísticas similares, explica o pedagogo Márcio Bento, professor da Escola Waldorf Micael Fortaleza. Ele conta que essa pedagogia foi idealizada pelo filósofo europeu Rudolf Steiner (1861 – 1925). Ela surgiu em 1919, em Stuttgart (Alemanha), junto com a inauguração da primeira escola Waldorf, abrigada num prédio onde funcionava uma fábrica de cigarros Waldorf-Astória, daí a origem do nome. Em 2019, portanto, celebra-se o centenário da pedagogia Waldorf no mundo.

Segundo Márcio Bento, a obra filosófica completa de Steiner tem mais de 350 volumes e trata da antroposofia (do grego, “conhecimento do ser humano” ou “sabedoria humana”). “A pedagogia Waldorf é uma sessão da obra antroposófica. Tem medicina antroposófica, movimento antroposófico, música antroposófica, tudo criado por Steiner”, ensina Márcio Bento, professor da pedagogia Waldorf há 13 anos e que se relaciona com a antroposofia desde a década de 1990.

Foto: Wagner Kiyanitza/ Divulgação

Pedagogia holística
Márcio argumenta que a linha mestra de todo o processo pedagógico Waldorf é ir da prática à teoria, da vivência à ciência. Para isso, o ideal é haver um jardim para cada sala. Quase como se fosse uma sala ao ar livre e uma sala de tijolos, concreto e cimento. Dessa forma, é possível plantar, cultivar horta, brincar bastante e seguir o currículo previsto pela pedagogia centenária. Dá para pular corda na aula de matemática, enquanto se estuda a tabuada, por exemplo, e assim aprender pelo brincar.

"O que tem de muito diferente na escola Waldorf é que todo o currículo é permeado por arte. Do mesmo jeito que o Ensino Infantil é voltado para o movimento do brincar da criança, o Ensino Fundamental é permeado por arte. E a experimentação continua no Ensino Médio, mas com uma exigência muito maior. Não temos interesse de fazer artistas, mas a arte é um meio pelo qual a gente ensina. Tudo se transforma em arte na escola Waldorf, e as crianças curtem muito todo esse processo”, descreve Márcio Bento.