Legislativo Judiciário Executivo

Em Juazeiro, Moro se diz decepcionado com Bolsonaro, nega perseguição a Lula e critica Camilo

Ex-ministro chegou a Juazeiro do Norte no fim da manhã e ainda tem agenda prevista em Fortaleza nesta semana

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Moro recebeu apoio de aliados em Juazeiro do Norte
Legenda: Moro recebeu apoio de aliados em Juazeiro do Norte
Foto: Divulgação

Pela primeira vez no Ceará como pré-candidato à Presidência da República, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) falou sobre seus principais adversários nacionais. Ele diz ter se decepcionado com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e nega ter perseguido o ex-presidente Lula (PT) quando era juiz. O político ainda criticou a conduta do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), durante o motim da Polícia Militar.

Ele desembarcou, na manhã deste domingo (6), em Juazeiro do Norte, no Cariri. O ex-juiz, que também passará por Fortaleza, busca aproximação com o eleitorado cearense. No Estado, ele lançará ainda uma carta de compromisso com os evangélicos, tentando atrair essa fatia dos eleitores que foi decisiva em 2018.

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Moro exaltou a “proximidade com os cearenses" ao relembrar as duas crises na segurança pública do Estado em que atuou quando era ministro. “Na primeira, provocada pelo crime organizado, o Ministério veio socorrer o Estado. Debelamos a crise, tiramos lideranças criminosas para presídios federais, tanto que não ocorreram mais essas crises”, disse.

Motim da PM

Em seguida, ao citar o motim da Polícia Militar do Ceará (PMCE), ele criticou a conduta do governador Camilo Santana (PT). “Foi uma greve ilegal, havia uma reclamação, mas a greve não podia ocorrer. Viemos atender a população para que o Governo do Estado pudesse negociar, o que acho que não foi bem feito, porque gerou um desapontamento das forças policiais, o que refletiu nos índices de criminalidade em 2020 e 2021”, disse. 

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Moro chegou a Juazeiro do Norte por volta de 11 horas e foi recepcionado por eleitores no aeroporto. Quem também esperou o ex-ministro no local foi o prefeito da Cidade – e correligionário – Glêdson Bezerra (Podemos). O mandatário presenteou o visitante com um busto da imagem de Padre Cícero. O senador Eduardo Girão (Podemos) também compõe a comitiva.

Em seguida, o ex-juiz seguiu para a Colina do Horto, onde fica a Estátua de Padre Cícero, tradicional ponto turístico e religioso do Cariri. O local também virou parada – quase – obrigatória de políticos que visitam a região e buscam a aproximação com o eleitorado devoto do “Padim”.

Em busca dos eleitores

Desde o fim da semana passada, Moro está no Ceará. Ele já teve encontros com o senador Eduardo Girão, seu principal aliado no Ceará. A intenção de Moro é atrair mais aliados da região, que historicamente é alinhada a nomes como do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e do ex-presidente Lula (PT).

Moro disse que irá rebater durante a campanha a acusação de que agiu politicamente ao condenar o ex-presidente Lula. “A Lava Jato não foi só a prisão de Lula, ele foi só mais um entre diretores, gerentes e políticos inescrupulosos que foram presos”, afirmou. 

O ex-juiz disse ainda considerar que o Supremo Tribunal Federal (STF) cometeu “o grande erro do judiciário brasileiro” ao anular as sentenças contra o ex-presidente proferidas por ele. “Lula é, hoje, o símbolo da impunidade do Brasil”, disse. 

Ex-aliados

Sobre o ex-aliado e atual presidente, Moro disse não se arrepender de ter assumido o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

“A palavra é decepcionado, desapontado, mas arrependido, não. Era um presidente que dizia ser contra a corrupção, que faria reformas, faria outras alianças, mas não fez nada disso. O Brasil está estagnado, há pessoas sofrendo, passando fome, além dele ter desmantelado o combate à corrupção”, concluiu.

O ex-ministro também foi questionado sobre o motivo de não aceitar debates com o também pré-candidato Ciro Gomes. "Os reais adversários são Lula e Bolsonaro, queremos romper essa polarização", concluiu.

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Padre Cícero

A visita do ex-juiz ao Ceará ocorre também em um novo momento de desgaste de seu antigo aliado com a região. Na semana passada, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, o atual presidente chamou assessores de “pau de arara", expressão pejorativa para se referir aos nordestinos. 

O presidente também confundiu a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, com algum município pernambucano. "Falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero. Lá do Pernambuco, é isso mesmo? Que cidade que fica lá?", perguntou.

“Cheio de pau de arara aqui e não sabem em que cidade fica Padre Cícero?”, acrescentou o presidente. Ao ser informado de que a estátua fica em Juazeiro do Norte, ele concluiu. "Parabéns aí. Ceará, desculpa aí, Ceará", disse. 

Turbulência

Por outro lado, o próprio Moro enfrenta um momento de turbulência em sua pré-campanha. Ele é acusado de suposta sonegação de impostos sobre os pagamentos que recebeu da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pela administração judicial de empresas condenadas pela Lava Jato.

Moro rebateu que tenha recebido dinheiro de forma ilegal. “Já prestei todos os esclarecimentos sobre isso, mostrei os documentos, a regularidade de minha relação com a empresa privada. Jamais recebi dinheiro de empresa investigada”, disse. 

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Na última sexta-feira (4), O subprocurador-geral Lucas Furtado pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que declare a indisponibilidade de bens do ex-ministro por conta das suspeitas de crime. Em reação, senadores do Podemos – entre eles Eduardo Girão – acionaram a Procuradoria-Geral da República para investigar o sub procurador por abuso de poder.

Agenda no Ceará

Ao longo dos próximos dias, a previsão de aliados é de que Moro tenha uma agenda recheada de conversas com políticos e empresários cearenses, passando por municípios como Crato, Barbalha, Limoeiro do Norte, Morada Nova e Fortaleza.

Na Capital, o ex-juiz lança, na próxima terça-feira (8), o livro “Contra o Sistema da Corrupção”, no qual ele relata a experiência vivida na Lava Jato. 

Em Fortaleza, Moro também planeja lançar uma carta-compromisso com os evangélicos. No texto, o ex-ministro deve criticar as políticas de “ideologia de gênero” e se posicionar de forma contrária a flexibilizações na legislação sobre o aborto. A mensagem também deve ter um cunho de valorização da política e de combater a corrupção.

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