O que esperar da reta final da campanha para o Governo do Ceará

Para projetar como serão os últimos dias da disputa, ao menos até o primeiro turno, o Diário do Nordeste ouviu cientistas políticos sobre as estratégias a serem adotadas pelos três candidatos mais competitivos ao Governo do Ceará

Os eleitores cearenses estão a menos de uma semana de eleger a nova composição dos parlamentos federais e estadual, além de definirem o rumo da disputa pelo comando do Governo do Ceará.

Para a reta final, a corrida até o cargo mais alto do Executivo estadual promete ser ainda mais acirrada e, de acordo com cientistas políticos, o eleitor pode esperar das campanhas algumas correções de rotas, agendas intensas na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e uso intenso da imagem de lideranças políticas nacionais.

Até aqui, comprovando as expectativas, a disputa entre Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT) tem sido uma das mais acirradas no Ceará. Para projetar como serão os últimos dias da disputa, ao menos até o primeiro turno, o Diário do Nordeste ouviu cientistas políticos sobre as estratégias a serem adotadas pelos três candidatos mais competitivos. 

“Com a profissionalização das campanhas, esses candidatos vão estar sempre mais atentos às demandas, aos anseios e, obviamente, direcionar propostas para temas específicos, para determinados segmentos ou mesmo para determinadas regiões, tudo com o intuito de capturar, ali, o voto daquele eleitor”, avalia Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Pesquisas eleitorais

Para ela, uma das principais ferramentas para medir essas demandas e anseios são as pesquisas eleitorais. Neste cenário, com uma disputa parelha, levar até os eleitores as propostas para demandas específicas de cada um pode garantir votos fundamentais a um postulante.

Na última quinta-feira (22), o Diário do Nordeste divulgou a terceira rodada da pesquisa Ipec para o Governo do Ceará. Os dados mostram uma disputa acirrada e completamente indefinida no Estado, o que exigirá ainda mais das campanhas.

Conforme o levantamento, o candidato do PT, Elmano de Freitas, cresceu oito pontos percentuais desde a pesquisa anterior, divulgada em 9 de setembro, recebendo apoio de 30% do eleitorado. Capitão Wagner, antes na liderança com 35%, tem agora 29%. 

Ele e o candidato petista estão tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Em terceiro lugar, está o pedetista Roberto Cláudio, com oscilação de 1 ponto percentual, de 21% para 22%

“A expectativa é de que esse tensionamento – que já vinha aparecendo – amplie ainda mais, principalmente em relação ao chumbo grosso que deve vir contra o Elmano. Roberto Cláudio deve ampliar essa artilharia, principalmente porque ele tem um perfil de eleitorado muito parecido com o do Elmano. E Capitão Wagner vai bater em quem tiver passando, em quem tiver crescendo, então é possível que ele amplie aí essa artilharia em relação ao Elmano”, aponta a pesquisadora.

Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), as pesquisas mais recentes e as próximas que serão realizadas no Estado terão um impacto significativo sobre o eleitorado e a militância.

“As pesquisas não determinam o voto, mas influenciam e criam tendências, movimentos, motivam ou desmotivam campanhas. Quando você está crescendo na pesquisa, isso anima, mobiliza a militância, ou seja, tem um impacto. Agora, quando um candidato está em queda, isso desmobiliza, dificulta para atrair aliados. Por isso as pesquisas são tão disputadas e acabam rendendo várias interpretações, porque elas têm esse fator de agregar ou desagregar”, conclui.

Capital, Região Metropolitana e Interior

É também tomando como base as pesquisas mais recentes que Cleyton Monte aponta uma tendência de acirramento da disputa pelo eleitorado da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Conforme a terceira rodada da pesquisa Ipec, houve uma mudança na disputa de forças na Grande Fortaleza. 

No levantamento, Roberto Cláudio soma 30% das intenções de voto, seguido por Capitão Wagner, com 28%, e Elmano, com 27%. Os dados correspondem aos 18 municípios que fazem parte dessa região do Estado: Caucaia, Maracanaú, Maranguape, Eusébio, Pacatuba, Guaiúba, Itaitinga, Aquiraz, Horizonte, Pacajus, Chorozinho, Pindoretama, Cascavel, São Gonçalo do Amarante, Paracuru, Paraipaba, São Luís do Curu e Trairi.

Considerando a margem de erro de três pontos para mais ou para menos, os três candidatos estão tecnicamente empatados no eleitorado da região.

“É a área mais disputada hoje, então os três candidatos vão investir lá, isso é muito claro porque temos uma situação de empate técnico entre Elmano, Roberto e Wagner (...) Há uma disputa especialmente acirrada em municípios importantes pelo tamanho dos colégios eleitorais, como Caucaia e Maracanaú”, aponta.

“Claro que os candidatos vão olhar para a Capital e para o Interior, mas certamente irão potencializar, nesta última semana, esse espaço da Região Metropolitana, porque é onde há uma grande concentração de votos, um grande número de influenciadores, formadores de opinião, além de ter um impacto também sobre o Interior”, conclui Monte. 

Padrinhos políticos

Os pesquisadores ainda apontaram o papel que lideranças políticas locais e nacionais podem ter na reta final da disputa. O assunto costuma ser recorrente em debates eleitorais entre os candidatos. Elmano de Freitas, por exemplo, tem colado sua imagem à do ex-presidente Lula (PT) e à do ex-governador Camilo Santana (PT). Na semana passada, inclusive, os dois cearenses gravaram vídeos com o ex-chefe do Executivo nacional para divulgar na reta final de campanha.

Ao mesmo tempo, Capitão Wagner e Roberto Cláudio trocam acusações de que escondem seus aliados nacionais, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), respectivamente. Para Monalisa Torres, isso deve ser explorado pelos adversários.

“Não espero, por exemplo, que Capitão Wagner explore esse alinhamento com Bolsonaro. É parte da estratégia, quando seu candidato a presidente ou aquele presidente com quem você está mais alinhado tem um desgaste maior, uma rejeição maior, a tendência é que se esconda esse nome”, afirma.

“Por outro lado, quando o seu padrinho ou aquele com quem você está alinhado é muito bem avaliado, a tendência é que você explore ele no seu palanque. Por isso fica clara a estratégia do Elmano, colado na figura de Lula e Camilo”, acrescenta.

“Já Roberto Cláudio ainda tenta puxar votos para Ciro porque sabe que é importante tentar fortalecer esse palanque pró-Ciro, mas não vejo o mesmo empenho como tem o Elmano com Lula, por exemplo”, conclui.

A análise é endossada por Cleyton Monte. Segundo o pesquisador, é possível que alguns aliados sejam deixados de lado na busca pelo voto para evitar desgastes com o eleitorado.

“Está muito claro que o apoio nacional que realmente agrega voto no Ceará é o ex-presidente Lula. Bolsonaro e Ciro estão estagnados em algumas regiões, não trazem nenhum diferencial. Em outras regiões, representam rejeição, como é o caso de Ciro na Região Metropolitana de Fortaleza”, explica.

“Nesta reta final de campanha, os candidatos que têm apoiadores que representam rejeição ou não agregam ao seu potencial eleitoral vão ser escondidos para não prejudicar”, conclui.