Veja a íntegra da decisão de Alexandre de Moraes que ordenou a prisão de Braga Netto

Documento aponta que o ex-ministro de Bolsonaro teve "papel de liderança, organização e financiamento" em tentativa de golpe

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(Atualizado às 11:45)

A decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) que ordenou a prisão preventiva do general Walter Souza Braga Netto neste sábado (14) aponta provas que  de que o ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro tentou obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.

O documento diz que foi o depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, em novembro, o responsável por apresentar elementos que relacionam o nome de Braga Netto às tentativas de impedir as investigações em curso. 

Cid disse que chegou a ser procurado por Braga Netto após fechar um acordo de delação premiada com a polícia e que o general tentou obter dados sigilosos sobre seu depoimento. 

Além disso, Alexandre de Moraes pontuou que a PF apresentou provas robustas de que o ex-ministro obteve e entregou recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro Alexandre de Moraes.

O ex-ministro da Defesa de Bolsonaro é alvo do inquérito que apura uma tentativa de golpe de estado. A PF também fez buscas na casa dele. Ele foi preso no Rio, em Copacabana; será entregue ao Comando Militar do Leste; e ficará sob custódia do Exército.

>> Acesse aqui a decisão do STF . 

Por que Braga Netto foi preso

A prisão é resultado do inquérito responsável pela investigação da tentativa de golpe de estado no Brasil após as eleições que resultaram na eleição de Lula como presidente em 2022.

Em novembro deste ano, 37 pessoas já foram indiciadas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o próprio Braga Netto, que é conhecido como arquiteto da trama. 

Conforme documento de 800 páginas, os indiciados teriam se estruturado por meio de uma divisão de tarefas, o que teria permitido a "individualização das condutas", assim como a verificação da existência de grupos entre eles. Com isso, seis grupos foram descobertos. Confira:

  • Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
  • Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado;
  • Núcleo Jurídico;
  • Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • Núcleo de Inteligência Paralela;
  • Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas. 

Veja a lista dos 37 indiciados:

  1. Ailton Gonçalves Moraes Barros
  2. Alexandre Castilho Bitencourt Da Silva
  3. Alexandre Rodrigues Ramagem
  4. Almir Garnier Santos
  5. Amauri Feres Saad
  6. Anderson Gustavo Torres
  7. Anderson Lima De Moura
  8. Angelo Martins Denicoli
  9. Augusto Heleno Ribeiro Pereira
  10. Bernardo Romao Correa Netto
  11. Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
  12. Carlos Giovani Delevati Pasini
  13. Cleverson Ney Magalhães
  14. Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira
  15. Fabrício Moreira De Bastos
  16. Filipe Garcia Martins
  17. Fernando Cerimedo
  18. Giancarlo Gomes Rodrigues
  19. Guilherme Marques De Almeida
  20. Hélio Ferreira Lima
  21. Jair Messias Bolsonaro
  22. José Eduardo De Oliveira E Silva
  23. Laercio Vergilio
  24. Marcelo Bormevet
  25. Marcelo Costa Câmara
  26. Mario Fernandes
  27. Mauro Cesar Barbosa Cid
  28. Nilton Diniz Rodrigues
  29. Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho
  30. Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira
  31. Rafael Martins De Oliveira
  32. Ronald Ferreira De Araujo Junior
  33. Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros
  34. Tércio Arnaud Tomaz
  35. Valdemar Costa Neto
  36. Walter Souza Braga Netto
  37. Wladimir Matos Soares 

Quem é Braga Netto

Natural de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Walter Souza Braga Netto nasceu no dia 11 de março de 1956. 

Ele se formou na Academia Militar das Agulhas Negras – mesma instituição onde o presidente Jair Bolsonaro é formado. O fato de virem da mesma academia das Forças Armadas já foi, inclusive, ressaltado pelo presidente como uma das semelhanças entre os dois. 

Foi alçado a General do Exército em 2009, ponto mais alto da hierarquia das Forças Armadas. Passou à reserva em 2019, quando foi convidado para o Ministério da Casa Civil, por indicação do General Luiz Eduardo Ramos, na época ministro da Secretaria de Governo. 

Braga Netto substituiu Ônix Lorenzoni, que foi para o comando da pasta de Desenvolvimento Regional. Em 2020, foi nomeado para comandar o comitê de crise do governo para o enfrentamento da pandemia de Covid-19. 

O objetivo era concentrar as ações do Palácio do Planalto no comitê e diminuir o protagonismo do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Na época, Mandetta vinha tomando decisões e tendo posicionamentos divergentes ao do presidente Bolsonaro. 

O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a abrir procedimento para apurar a conduta de Braga Netto, apontando indícios de "graves omissões" na condução feita por ele. 

A Casa Civil não foi o único ministério comandado pelo agora candidato a vice-presidente. Em 2021, ele passou ao comando do Ministério da Defesa. Já neste ano, antes de deixar o governo para concorrer na disputa eleitoral, ele atuou como assessor especial da presidência da República.  

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Veja a carreira do general Braga Netto

Braga Netto ingressou no curso de cavalaria da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1975. Formado na turma de 1978, ele tornou-se aspirante a oficial do Exército. 
 
Também passou pela Escola de Educação Física do Exército em 1981 e pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 1988. Também concluiu a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) entre 1993 e 1994.

Foi alçado ao cargo de General do Exército, posto mais alto da hierarquia das Forças Armadas, em 2009.

Ainda no Exército, ocupou alguns postos-chave no Brasil e no exterior. Em 2011, por exemplo, foi designado como adido de defesa junto à Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. 

Em 2013, foi designado como secretário de segurança presidencial e chefe da Casa Militar da Presidência da República, durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Também foi coordenador-geral da assessoria especial dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro, que aconteceram em 2016.

Durante o governo do ex-presidente Michel Temer, foi nomeado interventor da segurança pública no Rio de Janeiro, cargo que detinha responsabilidade pelas polícias civil, militar e pelos bombeiros da capital carioca. 

Braga Netto, inclusive, já tinha atuado antes na cidade. Ele ficou em evidência ao participar da ocupação do Complexo da Maré feita pelo Exército entre 2014 e 2015. Também comandou a 3ª Divisão do Exército e o Estado-Maior do Exército (EME). 

Passou à reserva do Exército no início do Governo Bolsonaro, quando foi convidado para chefiar a Casa Civil. Ele se filiou pela primeira vez em 2022, para concorrer ao cargo de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, integrando o PL, mesmo partido do atual presidente.