Durante a visita dos deputados da CPI que investiga a participação ou não de associações militares no motim da PM em 2020 no Ceará, o presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), Ceyber Araújo, disse nesta terça-feira (24) que os trabalhos na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) são uma "situação constrangedora". A instituição foi a terceira a receber a presença dos parlamentares, que começaram a visitar as associações ainda na semana passada.
Primeiro a depor na CPI na condição de convidado em abril, Cleyber disse ainda que a instituição deve se concentrar na prestação de contas aos membros associados, e voltou a negar que a APS tenha participado ou ajudado a financiar a paralisação dos militares há dois anos.
"A gente não tem que prestar conta a deputado, o deputado não é associado e não faz parte do conselho fiscal. A nossa prestação é com quem paga a associação", disparou o militar. A Ida à APS havia sido programada para a semana passada, mas não ocorreu após falha na comunicação.
Críticas ao relator
Ele também criticou os trabalhos do relator Elmano Freitas (PT), e indicou que os trabalhos na AL-CE seguem uma "narrativa" já pré-estabelecida. "A gente entende que é uma CPI política. Infelizmente, estamos passando por essa situação que é sim constrangedora", disse ainda o presidente, na presença dos deputados.
Elmano, por sua vez, afirmou que o relatório está sendo construído e que os deputados irão fazer algumas reuniões para discutir. "Mas é possível que tenhamos algum depoimento, vai depender de algumas avaliações de documentos que estamos analisando", disse o petista.
"A minha missão é investigar, tendo constrangimento ou não eu devo investigar. Aqui eu não percebi nenhum tipo de constrangimento, posso dizer que fui muito bem recebido. Foi apresentado o trabalho da APS e considero que aqui tem trabalhos importantes", completou Elmano Freitas.
O presidente da CPI, deputado Salmito Filho (PDT), não participou da visita à APS, mas comentou sobre a fala do presidente.
"Se ele disse isso, eu lamento. Nenhum outro presidente fez esse tipo de menção [...]. É o papel da CPI investigar para ir separando o joio do trigo".
Único membro titular da oposição, o deputado Soldado Noélio (UB) avaliou que a visitar poderia ser a oportunidade de mostrar de perto o trabalho da associação.
"Importante a visita para que os deputados possam ver in loco o grande trabalho que é desenvolvido por todas as entidades", argumentou.
"Matadouro"
Ainda como parte da agenda desta terça-feira, os deputados visitaram a sede da Associação dos Oficiais da PM e do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Assof).
A comitiva foi recebida pelo presidente coronel Homero Catunda que, quando prestou depoimento na CPI no início de maio, comparou o motim de militares de 2020 a um "matadouro".
"A Associação muito se preocupa com o proceder do associado. Nós jamais iríamos conduzir nossos associados para matadouro. Nós jamais iremos ser a favor de qualquer conduta contrária à lei e à Constituição Federal", ressaltou o coronel.
Ao comentar a visita, o militar repetiu a fala, e disse que, na ocasião do depoimento, apenas disse "o que o coração sentia".
"Tendo a consciência das consequências catastróficas pra vida do profissional, a perda do seu emprego [...] levar o militar para um evento desse é conduzir para o matadouro mesmo", reforçou o presidente.