Sem coligação, partidos contam os votos para eleição de vereador

A expectativa é que o quociente eleitoral chegue a até 30 mil votos por sigla para eleger um vereador na Capital. Pré-candidatos estipulam uma previsão do quanto irão precisar para ter sucesso, inclusive nos próprios partidos

Escrito por Wagner Mendes , wagner.mendes@svm.com.br
Legenda: As eleições municipais têm motivado discursos no plenário da Câmara Municipal, mas também são pauta de movimentações nos bastidores
Foto: Camila Lima

A matemática nunca esteve tão presente numa pré-campanha eleitoral. Na ponta do lápis, pré-candidatos a uma vaga de vereador em Fortaleza contabilizam os riscos e as possibilidades. Em uma eleição diferente, não apenas por conta da pandemia de Covid-19, mas também pela ausência das coligações proporcionais, para a disputa de cargos no Poder Legislativo, aflora um clima de apreensão, insegurança e até de otimismo para quem foi derrotado no pleito passado.

Essa será a primeira eleição municipal na qual os partidos não poderão formalizar aliança para a disputa do Legislativo. Isso quer dizer que as legendas terão que correr atrás de votos lançando nomes que representem diversos campos temáticos na Cidade. É também uma oportunidade para apostar na força do partido com os votos de legenda.

No PDT, maior partido do Ceará, que elegeu 11 vereadores na Capital em 2016, o que representa 1/4 das cadeiras da Câmara Municipal, a meta é chegar a 13 parlamentares eleitos na disputa de novembro. Nos bastidores, a insegurança entre pedetistas fica por conta da quantidade de pré-candidatos que podem ultrapassar, nas urnas, a marca de mais de dez mil votos. Na contabilidade de alguns parlamentares, são ao menos 22 futuros candidatos com esse potencial. Quase metade deve ficar de fora do Legislativo na avaliação mais otimista.

Apostas

"Eu acho que o PDT faz 13 vereadores tranquilo porque é o partido do Governo e, historicamente, o partido do Governo sempre faz mais, e levando em consideração a eleição anterior, quando fez 11, e que não foram contados os votos de dois candidatos", aposta o experiente vereador Carlos Mesquita (PDT).

Segundo ele, cada candidato pedetista vai precisar, pelo menos, de oito mil votos para se firmar vereador em Fortaleza. Os números calculados pelo parlamentar vêm da experiência de 28 anos no Legislativo Municipal. "Acho que o corte (para eleição) vai ser em torno de oito mil a oito mil e duzentos votos. E pode ter certeza que já fiz todos os cálculos, botei os 28 anos de mandato que tenho na conta, associei tudo à Era Bolsonaro e a esse novo modelo de escolher o prefeito", garante.

Outro pedetista, vereador Iraguassú Filho, acredita que o coeficiente eleitoral, neste ano, fique em torno de 25 mil votos. Ou seja, a quantidade mínima que cada partido terá que obter para eleger um vereador na capital cearense. "A gente sabe que há mais concorrentes e que têm potencial grande de voto. Quanto mais voto a chapa tiver, mais vagas teremos", avalia.

Base

Com a aproximação do início da campanha, o clima de acirramento e expectativa nos bastidores se repete também em outros partidos da base governista. Historicamente, o PCdoB, por exemplo, conseguiu fazer um vereador em Fortaleza nas últimas legislaturas. Único parlamentar do partido na Câmara atualmente, Evaldo Lima lembra as passagens dos ex-vereadores que representaram o PCdoB na Casa Legislativa, como Inácio Arruda, Lula Morais, Eliana Gomes e Chico Lopes.

"A nossa expectativa é que nós consigamos avançar nessa representação para romper com essa solidão de uma representação apenas", projeta o vereador. Alcançar a meta para deixar a "solidão" no Parlamento, porém, não é fácil. A legenda avalia que precisa atingir entre 45 mil e 50 mil votos para garantir dois assentos. Para isso, Evaldo argumenta que os correligionários apostam em nomes de sindicalistas, professores, médicos, servidores públicos, mulheres, intelectuais, entre outros para ampliar a bancada.

Oposição

O vereador de oposição, Julierme Sena, acredita que o Pros deve eleger entre cinco e seis vereadores em Fortaleza neste ano. O otimismo, contudo, precisa ser confirmado com cada nome atingindo de seis a oito mil votos, de acordo com o parlamentar.

"(Na chapa) Têm pessoas fortes que já foram vereadoras, que têm trabalhos em vários segmentos, que representam categorias. O grupo está muito coeso", garante. Julierme espera que entre dez e 15 candidatos da legenda disputem voto a voto as vagas a serem conquistadas pelo partido em novembro. A aposta também é que a eleição para o cargo majoritário contribua para os votos de legenda.

No PSDB, por sua vez, serão 45 candidatos disputando duas ou três vagas que a sigla pretende conquistar no Legislativo. Já na contagem para garantir a reeleição, o vereador Plácido Filho diz que vai precisar somar entre cinco e seis mil votos para garantir a vaga na próxima legislatura.

Cenários

Já os petistas esperam dobrar o número de eleitos no pleito de 2016, quando apenas Acrísio Sena e Guilherme Sampaio conquistaram as cadeiras na Câmara. Ronivaldo Maia, que ficou na suplência, explica que a "derrota" do partido ocorreu em um momento delicado do ponto de vista eleitoral, no auge das críticas à legenda, e no ano do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Passado o momento mais difícil, na visão de petistas, o cenário é outro, e pode ajudar nessa expectativa. "A estimativa é que o último (eleito) do PT entre com cinco mil votos. É por isso que a expectativa de todos nós é de tirar seis mil votos para não correr riscos. O cenário está muito bom para o PT, estamos com uma das melhores chapas", considera Ronivaldo, que voltou ao Parlamento após Acrísio Sena ser eleito deputado estadual na eleição de 2018.

De acordo com o vereador, o PT aposta também nos votos de legenda por conta da futura candidatura da deputada federal Luizianne Lins ao Executivo Municipal. A meta é conquistar marca semelhante a 2012, quando o PT obteve 54 mil votos de legenda.

Convenções no fim do prazo

Embora tenha começado nesta segunda-feira (31) o período para as convenções partidárias para a eleição municipal de novembro deste ano, nenhuma sigla oficializou no primeiro dia o nome de um candidato em Fortaleza.

A maioria das legendas se organiza para oficializar os registros apenas no fim do prazo, que se encerra em 16 de setembro.

A postergação dos eventos de lançamento das candidaturas tem relação direta com os últimos movimentos de aliança. Conforme publicado pelo Diário do Nordeste na edição de domingo (30), a maioria dos partidos ainda conversa entre si na tentativa de fechar acordos para a disputa do Executivo.

Apesar de decreto do Governo do Estado publicado, no último sábado (29), liberando a realização de eventos com até 100 pessoas na Capital a partir do dia 14 de setembro, muitas siglas em Fortaleza devem organizar os eventos de modo virtual.

Há casos de grandes agremiações em que o número de correligionários e convidados nos eventos passa de 500 pessoas. Por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as transmissões ao vivo não poderão contar com apresentação de artistas, remunerados ou não.

Se no Legislativo não há mais a possibilidade de coligação, de acordo com as novas regras eleitorais, no Executivo as alianças ainda são fundamentais para o fortalecimento de uma candidatura ao Paço Municipal.

Nesta segunda, pelo menos dois partidos anunciaram as datas das convenções: Solidariedade e PCdoB. A convenção do Solidariedade em Fortaleza, que tem o deputado Heitor Férrer como pré-candidato a prefeito, deve ser realizada em 15 de setembro, às vésperas do fim do prazo. Um ofício foi encaminhado ontem à direção nacional da sigla, solicitando deferimento à data que irá oficializar as candidaturas.

"Em política tudo é possível, mas a nossa decisão é de ter candidatura própria em Fortaleza", declarou, por sua vez, Francinet Cunha, presidente do PCdoB em Fortaleza, sobre a possibilidade de alianças no primeiro turno. Apesar de ter o professor Anízio Melo como pré-candidato a prefeito, o partido defende uma união da esquerda na Capital. A sigla agendou a convenção municipal para 16 de setembro.

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