Saída de Moro da Justiça divide opiniões entre políticos cearenses

Enquanto alguns apenas lamentaram o pedido de demissão do então ministro Sérgio Moro, outros cobram a abertura de uma CPI na Câmara dos Deputados para apurar a troca de acusações entre o presidente e o ex-auxiliar

Escrito por Redação , politica@svm.com.br
Legenda: Parlamentares da bancada divergem entre o tom dado a demissão do ministro, com alguns apenas lamentando e outros pedindo investigação
Foto: Foto: Agência Brasil

Em meio à crise sanitária e econômica provocada pelo avanço do novo coronavírus, a saída do ex-juiz Sérgio Moro do comando do Ministério da Justiça e as acusações trocadas entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) escancararam, também, uma crise política no centro do poder em Brasília. O assunto logo repercutiu no cenário político, com opositores e aliados dando o tom do agravamento da situação. No Ceará, não foi diferente.

O governador Camilo Santana (PT) apontou que, “mais grave que a mudança no Ministério da Justiça, são os fatores alegados pelo ministro para essa mudança. Órgãos de controle e investigação, como a Polícia Federal, devem estar blindados de interferências políticas e atuar sempre com autonomia e isenção”, escreveu, no Twitter.

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Na sexta-feira (24), o ex-ministro anunciou sua demissão e expôs pontos de tensão com presidente, alegando que o chefe do Executivo tentava interferir politicamente no comando da Polícia Federal ao exonerar Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação. Em pronunciamento, o presidente se defendeu, expondo várias divergências entre os dois e afirmando que Valeixo queria sair do cargo.

O secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), André Costa, se solidarizou com o ex-diretor geral da Instituição e disse que a PF “resistirá à politicagem”. “A Polícia Federal nunca sofreu tentativas de ingerência neste sentido e de tamanho vulto. Como Delegado da PF, solidarizo-me com nosso ex-diretor-geral”, afirmou.

Bancada federal

Ao mesmo tempo em que Moro se pronunciava, em entrevista coletiva, o senador Eduardo Girão (Podemos), defensor do presidente no Senado, realizou uma ‘live’ nas redes sociais para afirmar que a decisão do ex-ministro foi acertada diante das circunstâncias impostas.

Depois, em nota, ele classificou a saída de Moro do Governo como uma perda para o País. “A saída do ministro Sérgio Moro, neste momento, favorece o crime. Perde o País. Mas quem mais se enfraquece, no cenário atual, é o Governo Federal, já que grandes bandeiras que sustentaram a vitória do presidente em 2018 foram justamente a defesa da ética e a premissa de novas e boas práticas na política. A aproximação recente do Governo com o chamado ‘Centrão’ me preocupa”, disse, referindo-se a articulações do Planalto de olho na disputa pela Presidência da Câmara, em 2021. 

Líder da bancada cearense no Congresso, o deputado Domingos Neto (PSD) disse ter sido pego de surpresa e que o momento é “péssimo para instabilidades”. “Precisamos que as instituições nos passem solidez e segurança em meio à pandemia”, cobrou.

Já o deputado Capitão Wagner (Pros), um dos apoiadores da campanha do presidente e da indicação de Moro para o Governo, lamentou a saída do ministro.

Não poderíamos ter uma notícia tão boa para os corruptos. Um homem sério e corajoso que liderou a maior operação de combate à corrupção do Brasil deixa o Ministério da Justiça e Segurança Pública”, declarou.

Assim como Wagner, o deputado federal Roberto Pessoa (PSDB) classificou a saída do ex-ministro do Governo como “grave”. No entanto, disse torcer para que “tudo dê certo”. “A Polícia Federal é uma das instituições mais sérias e que deve continuar sendo isenta. Lembro que o Governo é mutável. O povo continua e com sua força inquestionável. O que nos resta é torcer para que dê tudo certo. Estamos todos no mesmo barco e em plena pandemia”.

Já Heitor Freire (PSL), que se afastou de Bolsonaro após ter sido apontado como responsável por gravar uma conversa com o presidente sobre substituição da liderança do partido na Câmara – o que negou –, deu outro tom à demissão, agradecendo ao ex-ministro pelo trabalho no Governo Bolsonaro. “Deixa um grande legado para o nosso País! Esperamos a nomeação de um novo representante da Pasta que tenha muito compromisso e responsabilidade”, ressaltou. 

Investigação

Nas redes sociais, Moro também foi alvo de críticas de parlamentares da bancada. Líder da Minoria na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT) afirmou que as declarações do ex-juiz revelaram uma “cumplicidade” anterior entre ele e Bolsonaro em relação a investigações que se aproximavam do Palácio do Planalto, como no caso envolvendo o motorista Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. “Ele silenciou”, disse Guimarães.

O petista também comentou o pronunciamento do presidente sobre a demissão do ex-ministro, o qual classificou como “sessão de terapia”, e cobrou investigação sobre as declarações dos dois. “É impressão minha ou Bolsonaro estava precisando desabafar? Bolsonaro disse que Moro condicionou a retirada do Valeixo à sua nomeação de ministro do STF. Tudo isso precisa ser investigado”, defendeu.

Os deputados Célio Studart (PV) e Denis Bezerra (PSB) também cobraram a abertura de uma investigação contra o presidente na Câmara para apurar as acusações feitas pelo ex-ministro. Os dois disseram que assinaram requerimento para abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis interferências de Bolsonaro na Polícia Federal. Conforme Denis, as 17 assinaturas necessárias já foram coletadas e o requerimento será apresentado ao presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Líder da Oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT) puxou o coro de “#ForaBolsonaro” nas redes sociais, destacando o que considerou mais grave no depoimento de Sérgio Moro. “Interferência política... Maurício Valeixo não queria sair da direção geral da PF e foi forçado a acatar a exoneração ‘a pedido’”, escreveu, no Twitter. 

Vice-presidente nacional do PDT, partido que protocolou pedido de impeachment contra Bolsonaro na quarta, o ex-ministro Ciro Gomes apontou, a partir da fala de Moro, crimes que teriam sido cometidos pelo presidente da República. “Só hoje já tivemos notícia de uma lista de artigos do Código Penal, além de crime de responsabilidade”.

Movimentos de direita

O vice-presidente do movimento Conexão Patriota, no Ceará, Roberto Barros reconheceu que a demissão de Moro deve afetar movimento pró-Bolsonaro. 
“Existe os defensores do ‘lavajatismo’ e do bolsonarismo. A gente entende que vai dar uma afetada, mas nosso apoio ao Governo vai continuar”, afirmou.

‘Porta dos fundos’

Bolsonarista, o deputado estadual Delegado Cavalcante (PSL) lamentou as declarações do ex-ministro e disse que Moro “entrou pela porta da frente no Governo e saiu pela porta dos fundos”. André Fernandes (PSL) também falou sobre a saída do ex-juiz. “Discordo de quem diz que Bolsonaro deu um tiro no 
próprio pé. Se houve ‘tiro no pé de Bolsonaro’, quem deu foi Sérgio Moro ao abandonar o barco em um momento tão crítico”.

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