Roberto Cláudio elenca avanços na Capital e diz que quer seguir na política; veja entrevista

Pedetista nega ser pré-candidato em 2022, mas destaca projetos nas áreas da Educação, Saúde e Mobilidade Urbana como legados após oito anos no cargo

Escrito por Inácio Aguiar e Letícia Lima , politica@svm.com.br
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Legenda: Roberto Cláudio aponta o desejo de seguir na vida pública, sinalizando disposição para a eleição de 2022
Foto: José Leomar

A dois dias de concluir a gestão à frente da Prefeitura de Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) destaca avanços nas áreas de Educação, Saúde e Mobilidade Urbana. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o gestor diz, ainda, que a capital cearense enfrenta uma segunda onda da Covid-19, mas que está dotada de uma estrutura maior, com equipamentos e profissionais, para atender à demanda, caso a situação se agrave.

Roberto Cláudio reconhece também que deveria ter dialogado mais com o setor econômico sobre a cobrança anual da taxa de alvará, que causou polêmica durante a gestão, e, ao falar sobre o futuro político, aponta o desejo de seguir na vida pública, sinalizando disposição para a eleição de 2022. Veja a entrevista:

Qual o balanço que o senhor faz ao fim desses oito anos de gestão à frente da Prefeitura? 

Eu diria que a gente deu prioridade orçamentária e política a algumas questões que são importantes numa cidade tão desigual quanto a nossa. Na Educação, a gente conseguiu ampliar matrículas, melhorar todos os indicadores de qualidade, da aprendizagem, tanto na alfabetização, como nos anos iniciais e finais, em Português e Matemática. Uma segunda dimensão importante é a ampliação da rede de saúde. Hoje, temos uma rede de 12 UPAs – seis do Estado e seis do município. E a gente também não tinha nenhuma policlínica de exames e consultas especializadas. A gente tem quatro policlínicas novas, todas estruturadas, com consultas médicas especializadas. Temos dois hospitais novos – IJF 2, Hospital da Criança – e ampliamos em mais de 500 leitos na rede pública municipal. E na mobilidade urbana, mudamos um pouco o foco da mobilidade, priorizando o transporte público para o trabalhador e o estudante, e modos mais sustentáveis, que é a bicicleta, que é a integração dos modais. Finalizamos a gestão com três indicadores importantes. Um deles foi um dado do IBGE, que demonstrou que Fortaleza, pela primeira vez, passa a ser o maior PIB do Nordeste. Outro dado importante veio do Unicef, que comparou 11 indicadores sociais de dez grandes centros urbanos, e Fortaleza teve o melhor resultado. E o terceiro indicador é o da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), baseado, inclusive, em indicadores do Tribunal de Contas da União, que são usados para comparar qualidade e governança. Nessa matriz de comparação, Fortaleza ficou como a primeira capital entre as nordestinas.

Com que estrutura pública de Saúde o senhor vai entregar a Prefeitura? Precisará ser aprimorada em caso de um surto da Covid-19? 

A gente espera que não aconteça, né? E há uma boa probabilidade de não acontecer. Hoje, a gente tem leitos hospitalares que a gente não tinha à época (do início) da pandemia. A gente tem, pelo menos, dois hospitais prontos, o IJF e o Hospital da Criança. Temos ampliações hospitalares que a gente não tinha também à época, então há uma rede estruturalmente preparada de leitos a mais. Temos também equipamentos em casa. Foram adquiridos respiradores, monitores, equipamentos fundamentais para assistência à pandemia. E temos profissionais com uma experiência acumulada, de protocolos, processos que foram estabelecidos. Há uma estrutura, hoje, fácil de ser mobilizada e já com uma experiência acumulada em como fazer essa mobilização sem que, por exemplo, seja preciso, como foi preciso, à época, porque então não tinha isso, o Hospital de Campanha do PV.

Tem possibilidade de uma segunda onda da Covid-19 em Fortaleza?

De alguma maneira, a gente já está vivenciando uma segunda onda de incidência de casos. Entretanto, ela não tem o mesmo paralelo de óbitos, há um cenário diferente da primeira onda. A primeira onda, obviamente, foi bem diferente, porque teve muito mais casos que a segunda. E a gente não tinha, à época, uma experiência de manejo que tem hoje, de diagnóstico, tratamento, indicação, fluxo de pacientes. O grupo demográfico mais alcançado neste segundo momento foi o menos alcançado no primeiro, que é a população mais jovem. Proporcionalmente, a população mais atingida é a que tem menos gravidade dos casos.

A cobrança anual do alvará foi medida que causou reação do setor. Qual o impacto nos cofres públicos? 

Muito pouco. E à época, pra ser honesto, em nenhum momento a gente sinalizou que o objetivo do alvará anual era arrecadar. O objetivo era cumprir uma tarefa mínima que é global. Só duas capitais do Brasil não tinham alvará anual: Fortaleza e Teresina. Então, tinha algo errado. Imagina se você tirasse algum alvará lá no Bom Jardim para fazer uma farmácia em 1980 e hoje, nesse mesmo imóvel, você tem uma farmácia, um posto de gasolina, um supermercado. O Município não tem essa informação, não tem essa obrigação, porque não é obrigado que o alvará seja anualizado. É o mínimo de controle urbano que os municípios fazem. Acho que o alvará anual é necessário, sim, e para se ter uma ideia a gente arrecadou, neste ano, pouco mais de R$ 6 milhões. O IPTU, neste ano, foi R$ 600 milhões (a arrecadação). O alvará inteiro arrecadou 1% do IPTU. Não representa praticamente nada em termos de arrecadação. Entretanto, se me perguntar se faria alguma coisa diferente do que fiz, possivelmente faria o alvará anual, porque é fundamental para garantir o controle urbano, mas poderia ter estabelecido diálogo mais aprofundado com as instituições, as entidades, explicação mais detalhada. (...) Dialoguei, mas, vendo o resultado, imagino que talvez precisasse decantar mais o diálogo. 

Prefeito, quando o senhor foi candidato em 2012, teve a presença do Cid Gomes (PDT), então governador, para fazer aquela apresentação. Passados oito anos, como o senhor enxerga seu capital político?

Mais que capital político, falaria de capital administrativo. Tive a oportunidade de ser prefeito muito jovem, graças a um conjunto de apoios de pessoas de muita credibilidade e que tinham resultados administrativos muito bem avaliados. Essas pessoas me apresentaram como alguém que daria continuidade a esse modelo administrativo que prioriza a educação pública, que valoriza os investimentos públicos e que entende que o papel do poder público é reduzir desigualdades. Essa mesma matriz que o Cid representava enquanto governador foi o projeto que me apresentou para tornar esse projeto concreto em Fortaleza.

Passados oito anos, olhando para esses indicadores, diria que conseguimos construir um capital administrativo que nos permitiu algum tipo de reconhecimento da população. Se comparar os oito anos, termino a gestão com a melhor avaliação.

O Ciro (Gomes) disse na última campanha que não participou diretamente da propaganda, por exemplo, e que a sua função, agora, é formar uma nova geração. Você se vê nessa nova geração? 

Acho que tem muita gente em cada quadrado. Você vê agora o Evandro Leitão, presidente da Assembleia, que é um novo quadro, talentosíssimo. Você vê o Antônio Henrique, que virou presidente da Câmara, no primeiro mandato se consolidou como liderança. Nós tivemos um conjunto de pré-candidatos. A gente lançou (na disputa pela indicação do candidato à Prefeitura de Fortaleza) o Idilvan (Alencar, deputado federal), o Ferruccio (Feitosa, secretário licenciado da Prefeitura), o Salmito (Filho, deputado estadual), o Samuel (Dias, secretário licenciado da Prefeitura), que viraram quadros jovens. No Executivo tem surgido (lideranças), graças a esse projeto político que tem como grande motivação melhorar a vida das pessoas, entender que o papel da política, do poder público, é trabalhar com eficiência, transparência e resultado. Menos com confusão, menos com retórica e mais mesmo com resultados.

O senhor é pré-candidato a governador em 2022? Qual vai ser o futuro político a partir de agora?

Não sou pré-candidato a nenhum cargo político. A minha motivação é pessoal. Vou tirar um tempo de alguns meses para estudar, ler, refletir sobre o que está acontecendo no Brasil, sobre o papel da política, o meu papel, inclusive, com militantes políticos. Mas tenho a convicção de que, no meu retorno, vou continuar na luta, na militância política. Essa é a minha vocação.

Entendo que a política feita de forma reta, construtiva, vai ter um papel central pra modificar a sociedade, fazer avançar a sociedade, melhorar a vida das pessoas, e esse é o caminho que quero continuar exercendo. As circunstâncias específicas da missão são do tempo, né? Do tempo, da condição. Não tenho nenhuma ambição individual ou específica para nenhum cargo. O único desejo que tenho é continuar militando e lutando na vida pública e aguardar desígnios também da vida, da política, de Deus. 

Hospital de campanha

Questionado sobre como avalia a estratégia do Hospital de Campanha do PV, Roberto Cláudio defendeu que o equipamento “cumpriu um papel extraordinário”. “O Hospital de Campanha foi uma estratégia de Fortaleza e uma estratégia do mundo”, disse. “Não foi só acertado fazê-lo, mas fazê-lo precocemente, porque ele ficou pronto exatamente com as semanas do agravamento da pandemia”, argumentou.

Ampliação estrutural

Ao detalhar o aumento da estrutura de equipamentos de saúde já existentes diante da pandemia, o prefeito citou ampliações hospitalares que não estavam prontas no início da crise sanitária. “Como os leitos do Antônio Bezerra, de UTI, sala de recuperação, os leitos do Frotinha da Parangaba, também que não estavam ainda prontos, e a ampliação também do Gonzaguinha da Barra, que a gente também não tinha pronto no início da pandemia”, listou.

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