Quase 60% dos eleitores não lembram em quem votaram para vereador

Indagados sobre a escolha de candidato feita em 2016 para a Câmara Municipal de Fortaleza, 59% dos entrevistados pelo Ibope não souberam responder. Para analistas, falta conhecimento sobre as funções do legislador

Escrito por Luana Barros ,
Legenda: Na Câmara Municipal de Fortaleza, 46 cadeiras estão em jogo neste pleito
Foto: José Leomar

Os fortalezenses devem escolher no dia 15 de novembro os candidatos que irão formar a próxima legislatura na Câmara Municipal. Contudo, segundo a pesquisa Ibope, a maioria dos eleitores da Capital tem memória curta quando se trata dos votos para o Parlamento. Apenas 35% dos entrevistados lembram em quem votaram para vereador em 2016, enquanto 59% não recordam qual candidato escolheram na ocasião para o cargo. 

O Ibope ouviu 805 eleitores entre o último domingo (1º) e ontem (3). O nível de confiança da pesquisa é de 95%. Isto quer dizer que a probabilidade de os resultados retratarem o atual momento eleitoral é de 95%, considerando a margem de erro.

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Mulheres e eleitores com nível superior são os que mais lembram qual foi o candidato escolhido para a Câmara dos Vereadores nas últimas eleições municipais – com índices de 40% e 43%, respectivamente. Por outro lado, 63% dos homens entrevistados não sabem a quem deram o voto para o Parlamento, enquanto 67% dos entrevistados que declaram ter até o Ensino Fundamental também admitem não lembrar a escolha. 

Cientista política e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares explica que a memória curta é algo comum nas eleições para o Legislativo. Entre as razões, está a falta de manutenção da proximidade entre vereador e bases eleitorais após o pleito. “Nem todos os mandatos mantêm uma relação próxima com esses eleitores”, afirma. 

A socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da UFC, Paula Vieira, faz avaliação semelhante. Para ela, falta comunicação entre parlamentar e os eleitores. “É mais difícil de acompanhar o vereador, é uma forma de informação que não é tão direta. Falta esse canal de comunicação com as comunidades ao longo do mandato”, explica. 

Função 

A pesquisa também indagou qual seria o trabalho que o vereador exerce durante o mandato de quatro anos. Os entrevistados puderam apontar a partir de uma cartela de opções quais funções eles acreditam que são desempenhadas pelos parlamentares. 

A fiscalização foi a atividade mais apontada pelos entrevistados como sendo de competência dos vereadores. Ao todo, 33% acreditam que fiscalizar as contas da Prefeitura seja um dos trabalhos do parlamentar, enquanto 27% apontaram a fiscalização de órgãos municipais como atividade da Câmara Municipal. 

Contudo, atividades que são de incumbência do Executivo também foram apontadas como sendo função dos vereadores. Dentre elas, aumentar o número de vagas na rede municipal de educação (20%), a implementação de escolas em tempo integral (19%) e a finalização de obras de ruas ou de escolas (15%). Obrigação, em grande parte, do Governo do Estado, o reforço do policiamento nos bairros da cidade também foi apontado por 22% dos entrevistados como uma das atividades dos parlamentares. 

Segundo Monalisa Soares, muitas vezes o próprio candidato induz o eleitor a um engano quanto às competências. “Existe a forma como estes agentes se colocam na cena pública, como eles se apresentam para os eleitores”, diz. Na propaganda, é possível observar “candidatos que falam muito dos aspectos que são atribuições do Executivo”. 

Paula Vieira acrescenta que a memória curta do eleitorado em relação à escolha dos vereadores estaria, inclusive, relacionada a esse desconhecimento. “Não é apenas por má fé que os candidatos dizem que vão fazer coisas que não são suas funções. É também por desconhecimento deles”. 

 

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