Partidos da base e oposição reforçam estratégias para disputa na Capital

As exonerações feitas pelo grupo governista deram indicativos de como as lideranças pedetistas podem articular a formação de chapa. Em paralelo, lideranças de oposição e da base governista se movimentam no tabuleiro eleitoral

Escrito por Letícia Lima e Luana Barros ,
Por enquanto, discussão sobre candidaturas é fragmentada tanto na base como na oposição
Legenda: Por enquanto, discussão sobre candidaturas é fragmentada tanto na base como na oposição
Foto: Foto: José Leomar

As movimentações no grupo governista, com as exonerações de secretários municipais e estaduais, de olho na eleição da Capital, se estendem a outros partidos e acabam tendo reflexos também na oposição, para a disputa eleitoral. Apesar de a pandemia de Covid-19 afetar as tratativas, lideranças políticas articulam estratégias sobre ter ou não candidatura própria e definem alianças partidárias. 

É quase unanimidade entre agentes políticos do Estado que o cenário nacional não terá peso preponderante sobre as eleições regionais em 2020. Com um cenário político complexo, e diferente na construção de alianças em relação à conjuntura nacional ou de outros estados, a polarização deve ocorrer de maneira diversa da que vem ocorrendo em âmbito federal. 

Há lideranças políticas que defendem uma união entre forças identificadas à esquerda do espectro político, enquanto, à direita, também ocorrem articulações para uma aproximação. Contudo, essas tentativas têm encontrado pouco eco e as forças, de ambos os lados, seguem pulverizadas, com teses de candidaturas próprias. 

Aliança

No grupo governista, o PDT, liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, deve lançar um candidato próprio para a sucessão do prefeito Roberto Cláudio. No PT, aliado do grupo no Estado, até agora, o único nome colocado no diretório municipal da sigla é o da deputada federal Luizianne Lins. A exoneração de Nelson Martins (PT) a pedido do governador Camilo Santana (PT), além de declarações favoráveis de Ciro sobre uma possível aliança entre as siglas na Capital, reacenderam discussão sobre uma possível coalizão entre PDT e o PT na Capital. Contudo, essa tese não encontra apoio solidificado na sigla. 

O deputado Acrísio Sena, um dos petistas mais próximos do governador, defende que os partidos de centro-esquerda construam uma candidatura única. “Vai se concentrar um outro bloco mais de centro-direita com preponderância das teses conservadoras. O PT precisa pensar grande nessa hora. Zerar o processo e se dispor a construir uma candidatura única com PDT, PSB e PCdoB em Fortaleza”, defende. 

Presidente municipal do PT, o vereador Guilherme Sampaio, porém, reforça que a construção de estratégias eleitorais das duas siglas aponta para a direção oposta. “O que vem sendo construído até aqui, de maneira constante pelos dois partidos, é apresentação de candidatura própria por ambos”, ressalta.

Base

O MDB, da base governista no Estado, também ensaia ter candidato em Fortaleza. O nome do deputado federal Moses Rodrigues foi ventilado, assim como de deputados estaduais. Segundo o ex-senador Eunício Oliveira, que preside a legenda no Estado, o MDB está “livre” para construir posição. 

“Estamos muito tranquilos, porque não temos preconceito. Só quero dizer que o MDB está livre para ter candidatura própria e conversar com quem quer que queira conversar com o MDB”, explica. 

Na oposição, o deputado federal Capitão Wagner, pré-candidato em Fortaleza e presidente do Pros no Estado, tem costurado apoios com outros partidos – são cinco oficializados no seu arco de aliança, e o diálogo segue sendo feito com outras legendas. Entre elas está o PSL, cuja cúpula no Ceará se afastou do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto outras lideranças permaneceram com o apoio a ele. 

“A gente tem conversado com o PSL. Temos conversa avançada com o grupo mais próximo do Aliança pelo Brasil (no Ceará), dos deputados André Fernandes e Delegado Cavalcante. O meu desafio vai ser justamente construir sob o mesmo ambiente grupos que hoje são antagônicos”, explica. 

Apesar de tentar construir uma imagem de autonomia, descolada da figura de Bolsonaro, Wagner traça movimentos para atrair votos do campo da direita. “Mais do que natural, não havendo candidato do presidente, que pessoas possam nos apoiar”. 

O presidente do PSL no Ceará, deputado federal Heitor Freire, afirma que há chances de se unir a Wagner na disputa, mas por enquanto aponta que ele também é pré-candidato. “Eu estou esperando acabar essa pandemia para a gente começar a fazer pesquisas e começar a saber de fato qual vai ser o rumo do PSL”, diz. 

O PSDB também aposta em candidatura própria, a do ex-deputado estadual Carlos Matos. Presidente do partido, Luiz Pontes diz que está “fechadíssimo” com o DEM, comandado no Ceará pelo empresário Chiquinho Feitosa. “Os partidos vão querer apresentar sua candidatura no primeiro turno e no segundo turno vai ter um entendimento, então a nossa ideia é ter o nosso candidato no primeiro turno. Todos os estados estão se preparando para 2022”, frisa.

Alternativas

O partido Novo, presidido no Estado pelo economista Célio Melo, também deve disputar a eleição em Fortaleza com o empresário Geraldo Luciano. O pré-candidato afirma que o partido não se unirá a outras siglas, pelo menos não no primeiro turno. “Essas alianças, muitas vezes, são feitas dentro de bases que nós não podemos fazer. Trocar apoio por secretaria, cargo comissionado, fundo eleitoral”, justifica. Geraldo diz estar conhecendo a realidade da cidade, conversando com técnicos e a população para apresentar propostas. 

Pré-candidato a prefeito pelo PV, o deputado federal Célio Studart considera que, nesta eleição, nomes que se coloquem como uma terceira via às candidaturas da situação e de oposição consolidadas devem ganhar força. “Devido à pandemia, esta campanha vai ser mais virtual. O peso das redes sociais vai contar mais do que nunca e os que têm capital político de eleições anteriores vão estar em vantagem”, acrescenta.

A pandemia tem tido grande impacto nas construções partidárias, aponta o pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza pelo Psol, deputado estadual Renato Roseno. Para ele, muitas questões vão estar presentes nas discussões eleitorais deste ano, que podem ser estendidas com a possibilidade de adiamento das eleições municipais. “Estamos debatendo, mas a primeira luta é (para) manter a democracia e manter as eleições. A agenda eleitoral, por razões óbvias, ficou para o segundo semestre”, ressalta.

Os focos da discussão eleitoral

O cenário eleitoral na disputa pelo Paço Municipal deve ser atravessado por diferentes discussões até o pleito. A pandemia do novo coronavírus deve estar no centro, trazendo consigo duas frentes de debates que podem ganhar força ao longo da campanha, avaliam cientistas políticos. 

A primeira delas diz respeito aos gastos realizados durante o período de enfrentamento à doença na Capital e no Estado. “O debate deve retornar à questão da corrupção e do uso irregular de dinheiro público, em um cenário de polarização que ainda tem algum eco do que foram as eleições de 2018”, aponta a professora de Teoria Política na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres. 

No caso do pré-candidato Capitão Wagner (PROS), a construção do arco de alianças políticas para o pleito deste ano, inclusive, passa pela aproximação com partidos que possuem este discurso anti-corrupção e que se identificam com pautas mais conservadoras, com apoio de lideranças que integram a bancada religiosa no Estado. 

Outra estratégia de Wagner, acrescenta o cientista político Cleyton Monte, tem sido o descolamento do bolsonarismo. Segundo o pesquisador, o movimento de apoio ao presidente Jair Bolsonaro encontra resistência em Fortaleza, diferente de outras capitais brasileiras. 

A segunda temática que deve ter destaque nas discussões eleitorais é o protagonismo das lideranças políticas no enfrentamento à pandemia de Covid-19, aponta Monalisa Torres. “A opção por um nome técnico, alguém que tenha se mostrado um bom gestor neste momento de pandemia, talvez seja o preferido”, projeta.

A discussão para estas eleições também deve passar pelo arranjo de forças para 2022. Com Roberto Cláudio sendo apontado como possível nome para a sucessão do Governo Estadual, Samuel Dias poderia também ser afetado. 

“Roberto Cláudio teria que ceder um aliado seu de primeira ordem para um nome mais distante e que seja apoiado por toda a coligação, para ter apoio daqui há dois anos”, aponta Monte. “É um equilíbrio sempre tenso, de não deixar que nenhuma liderança se sobreponha demais. Esse é o grande desafio dos Ferreira Gomes para estas eleições”, concorda Torres.

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