Maia e Guedes se reaproximam em nome de agenda econômica

Presidente da Câmara e ministro da Economia tiveram atritos ao longo da crise trazida pela pandemia, mas ensaiam reaproximação, motivada principalmente pela Reforma Tributária

Escrito por Folhapress ,
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, conversa com ministro da Economia, Paulo Guedes
Legenda: Após conversa por 3h em almoço na última quarta-feira (15), Rodrigo Maia e Paulo Guedes emitiram sinais positivos sobre entendimento em relação à agenda econômica
Foto: Agência Brasil

O ministro Paulo Guedes (Economia) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ensaiaram uma reaproximação nos últimos dias em busca de entendimento na agenda econômica, sobretudo na Reforma Tributária. A relação foi marcada por atritos durante a pandemia, com cobranças e disputa na formulação de medidas. Guedes se afastou após acumular incômodos com Maia desde o começo da crise do coronavírus e preferiu enviar assessores especiais da pasta para servirem de interlocutores em diferentes discussões do Congresso.


A primeira cobrança contundente de Maia foi em março, quando Guedes visitou o Congresso logo após o coronavírus ter sido declarado pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O presidente da Câmara criticou a proposta do ministro para reagir à crise, que seria o avanço na agenda de reformas.
"A crise é tão grande que a gente não tem direito de imaginar que o ministro da Economia de uma das maiores economias do mundo possa ter pensado de forma tão medíocre", disse Maia em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada em 13 de março. No mesmo dia, Guedes rebateu. "O presidente da Câmara está pedindo medidas? Em menos de 48 horas vamos soltar", disse. "Gostaria também que as principais lideranças políticas do país reagissem também com muita velocidade a nossas reformas para reforçar a saúde econômica do Brasil", cobrou o ministro.


A falta de avanço de propostas de interesse do ministério é uma das principais insatisfações de Guedes com Maia, segundo aliados. O ministro entende que mudanças legais, como em logística, energia e cabotagem, além da autonomia do Banco Central, poderiam ter avançado enquanto ele é cobrado por reformas.
Também marcou a relação o auxílio emergencial, cujo desenho Guedes afirma ter criado e que foi alvo de disputa entre Executivo e Legislativo. O ministro planejava um valor de R$ 200, antes de o Congresso analisar a proposta e pressionar pela ampliação do universo de pessoas atendidas, além de um valor mais alto (de R$ 500). Após conversa entre Guedes e o presidente Jair Bolsonaro, o Executivo elevou o valor para R$ 600. Para aliados do ministro, a discussão sobre os valores afetou o potencial de duração da política.


Aliados do ministro também interpretam que Maia interdita a proposta de Reforma Tributária de Guedes ao se colocar contra o novo imposto sobre pagamentos planejado pelo economista. Por isso o governo analisa alternativas para a ideia, como lançá-la em um pacote de empregos ou via Senado. Na reforma tributária, pelo menos há consenso entre os dois de que mudanças são necessárias. Por isso, houve a reaproximação. E quem garantiu o esforço foi o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Na quarta (15), ele reuniu Maia e Guedes para um almoço. Por três horas, conversaram para aparar arestas e discutir a pauta econômica.
Os dois lados emitiram sinais positivos depois da conversa. 

No Congresso, porém, o clima ainda é de desconfiança, pois há discordância em alguns assuntos, como em relação à criação do imposto sobre pagamentos. Um deputado que acompanha o assunto disse que é preciso esperar como vai evoluir a relação pelo menos até terça-feira (21), data que Guedes marcou no calendário para entregar a proposta do Gverno de Reforma Tributária, aguardada pelos congressistas desde o fim de 2019. Além disso, a instável relação entre Executivo e Legislativo está sujeita aos movimentos feitos no caminho para a eleição do novo presidente da Câmara, em fevereiro de 2021.


Apesar de os responsáveis pela articulação política do Palácio do Planalto dizerem que o governo não deve abraçar candidaturas, aliados de Maia destacam que não é segredo a aproximação de Bolsonaro com o líder do centrão na Casa, Arthur Lira (PP-AL). Lira tem levado o grupo, decisivo para qualquer votação na Casa, para o lado de Bolsonaro. Mas adversários de Lira lembram que, na política, fidelidade é algo "de ocasião". As assessorias do Ministério da Economia e da presidência da Câmara foram procuradas, mas não se manifestaram.

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