Haddad: 'Com Ciro, a virada será mais fácil'

Petista fez aceno para pedetista, que chega amanhã da Europa, em Fortaleza

Escrito por Estadão Conteúdo ,

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira, 25, no Recife, que "com Ciro (Gomes) a virada será mais fácil". Em mais um aceno ao pedetista, o ex-prefeito de São Paulo disse que é hora de esquecer as arestas.

A expectativa é de que Ciro chegue a Fortaleza, amanhã (26), mas o pedetista não fez qualquer aceno a Haddad no segundo turno, frustrando as expectativas do PT.

"Até minha mulher está com ciúme do Ciro de tanto aceno que eu faço para ele. Eu vou continuar fazendo aceno porque eu gosto do Brasil acima de tudo. Não é com arrogância que nós vamos enfrentar o desafio que está posto. Vamos fazer um governo amplo, de unidade nacional, democrático e policial", disse Haddad, em entrevista coletiva pouco antes de um ato político no Recife.

A três dias do segundo turno das eleições, o petista iniciou a última viagem pelo Nordeste. Do Recife, Haddad deve ir à Paraíba e à Bahia antes de encerrar a campanha em São Paulo. O petista disse estar confiante na vitória. Segundo ele, há uma tendência de virada que começou pelo Sudeste.

O Datafolha divulgou nesta quinta-feira (25), sua pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República nas eleições 2018. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem 56% das intenções de voto, enquanto seu adversário, Fernando Haddad (PT), aparece com 44%. Na comparação com o último Datafolha, a diferença entre os candidatos diminuiu de 18 pontos porcentuais para 12 pontos em uma semana.

Ibope

Haddad minimizou, no Recife, as declarações dadas mais cedo pelo presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, para quem somente um "tsunami" pode fazer Bolsonaro não ser eleito no próximo domingo. 

"O diretor do Ibope tem o direito de ter a opinião dele, assim com o diretor do Vox Populi também tem", desconversou o petista, que concedeu coletiva de imprensa transmitida nas redes sociais do partido. "Se vocês fizerem a mesma entrevista com o diretor da Vox Populi, vão ouvir coisas diferentes."

Mobilização

"Se você vai votar nulo, vamos conversar?" Diante de pesquisas desfavoráveis e dos embates inflamados e infrutíferos das redes sociais, pequenos grupos de apoiadores de Haddad estão indo para ruas e praças para tentar reverter votos nulos e conquistar indecisos. A ideia, que está se espalhando por cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio Grande do Sul, é romper a "bolha" ideológica e travar conversas olho no olho, livres de paixões e baseadas em informações de fontes confiáveis em que se mostrem, por um lado, posturas reprováveis de Bolsonaro e, por outro, bons projetos do candidato petista.

No Rio, a jornalista Maria Eduarda Mattar, de 38 anos, deu o ponto de partida no Largo do Machado, na zona sul da capital, no feriado do dia 12. Com quatro amigos, levou uma placa que oferecia escuta atenta a quem planeja anular o voto. Chegando lá encontrou um casal que fazia o mesmo, e exibia um cartaz com os dizeres: "Em dúvida sobre o segundo turno?" Durante 1h30, Maria Eduarda e os amigos mostraram vídeos e tiraram dúvidas sobre falas de Bolsonaro referindo-se pejorativamente a negros e pessoas LGBT.

"Eu estava cansada de ver o discurso belicoso crescer nas redes sociais. Falar olho no olho e usar bons argumentos é algo que faz muita diferença. Fiquei muito tempo com cada um e acho que convenci três pessoas", acredita a jornalista, que trabalha com projetos sociais. "O 'nós e eles' não está dando certo. Percebi que muitas pessoas não sabem que o Bolsonaro já falou coisas tão radicais". A jornalista compartilhou sua experiência no Facebook e viu sua iniciativa se disseminar. 

Em Porto Alegre, a psicóloga Helen Barbosa, de 37 anos, também aderiu e foi para o Parque da Redenção. "Vi o post no Facebook e resolvi fazer o mesmo porque queremos o acolhimento. Não temos a lógica da panfletagem. As pessoas estão sendo engolidas pelas fake news", justificou Helen.

A arquiteta Ana Cosentino, de 32 anos, de Belo Horizonte, e amigos estiveram numa feira de artesanato com o mesmo objetivo. "As pessoas querem ser ouvidas. A maioria se informa através do WhatsApp. Focamos no risco que o Bolsonaro traz, a possibilidade de perda de direitos e o armamento da população."

30 milhões 

Os grupos se sentem motivados pelo fato de a abstenção no primeiro turno ter sido recorde - quase 30 milhões de pessoas no País, ou 20,3% do eleitorado, o maior índice desde 1998 - e de os votos nulos e brancos terem somado 8,79%; por sua vez, os resultados das pesquisas eleitorais, que mostram manutenção da vantagem de Bolsonaro, não os tiram das ruas, garantiu o pedagogo Rodrigo Vinco, de 30 anos, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Ele está na organização de um conjunto de 50 pessoas que ocupou o calçadão comercial da cidade com a mesma abordagem. "A grande maioria é de professores. Usamos a paciência que temos no nosso dia a dia com alunos. Muita gente deixou de ir votar no primeiro turno. Temos que mostrar que os mandatos do Bolsonaro como deputado não representam as mudanças que ele promete, e expor as realizações do Haddad como prefeito de São Paulo. Esse movimento é totalmente espontâneo e é contra a epidemia de fake news", esclareceu.

No Instagram, o perfil "Vira Voto", com mais de 250 mil seguidores, reúne histórias bem-sucedidas de votos novos a Haddad, em banquinhas que oferecem fatias de bolo e brigadeiro, em conversas em botecos, em corridas de Uber e até em ligações com atendentes de operadoras de telefonia.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.