Fora do Senado em 2019, Eunício faz balanço do mandato

Senador sinaliza que continuará na política, reforça apoio a Camilo e diz que pretende priorizar a família

Escrito por Carol Curvello ,

Encerrando seu mandato na Presidência do Senado, após derrota considerada, até então, pouco provável nas urnas, o senador Eunício Oliveira (MDB) diz que vai “cuidar da família”, mas sinaliza que pretende seguir fazendo política, mesmo sem ocupar cargo.

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, na Presidência do Senado, o parlamentar diz que o partido vai apoiar a nova gestão Camilo Santana, independentemente da ocupação de cargos. Relembra, ainda, a última campanha eleitoral. Segundo ele, “algumas pessoas não cumpriram compromissos assumidos” e mais do que isso “jogaram contra”.

Eunício fez balanço dos 20 anos de vida pública, oito anos como senador, sendo dois como presidente do Congresso Nacional. Ele enumera os recursos que liberou para o Ceará, quando diz chegar a R$ 18 bilhões, e garante que não discriminou “ninguém” por conta de questões políticas ou ideológicas.

Em relação ao governo federal, Eunício diz que atuou para que o novo governo participasse da discussão em torno do Orçamento 2019. Mesmo tendo pautado o projeto do aumento salarial dos ministros do STF, Eunício argumenta que “livrou” o governo de “pautas-bombas”. E disse esperar que o presidente eleito não discrimine o Nordeste, pois “é uma das regiões que mais precisam do governo”.

Qual balanço o senhor faz da sua trajetória como presidente do Senado?
Nesses dois anos, aprovamos mais matérias do que nos seis anos de legislaturas passadas. Tivemos matérias polêmicas e momentos difíceis, pois assumi a presidência logo após o impeachment, um momento tenso na Casa. Conseguimos conciliar sempre buscando a convergência. Apreciamos mais de 652 matérias, entre as quais cito o Estatuto da Juventude, a Lei Seca com regras mais rígidas e o novo Código Florestal. Além disso, aprovamos diversas medidas de combate à violência, em defesa das mulheres, dos trabalhadores e dos micro e pequenos empresários. Aprovamos o Orçamento Geral da União e no aspecto de orçamento cumprimos fielmente a Constituição, votamos todas as matérias importantes como abuso de autoridade, lei que regula as Agências do Brasil e a PEC dos Gastos, que fui relator, e prevê que nenhum governante pode gastar mais do que arrecada.

Em relação ao Ceará, o que foi liberado de fato no Governo Federal?
Alocamos quase R$ 18 bilhões para o Estado do Ceará entre empréstimos e investimentos. Conseguimos dar celeridade na obra da Transposição do São Francisco que será inaugurada no dia 27 e 28 de dezembro. Liberamos recursos para conclusão do VLT, para linha leste do Metrofor, entregamos quase 27 mil unidades de casas populares, conseguimos liberar recursos para o abastecimento de água no Interior. Garantimos a implantação de quatro cursos de Medicina no Ceará e a construção do Centro Integrado de Inteligência para melhorar a Segurança. Enfim, tivemos o cuidado de deixar verbas para 2019 e 2020 de uma forma que nenhum governante modifique o destino desses recursos. Tive o privilégio de ser o único senador da história do Brasil que conseguiu alocar recursos para todos os municípios do meu Estado. Na último dia, liberamos R$ 600 milhões para Fortaleza, R$ 400 milhões para o governo do Estado, R$ 70 milhões por ano para custeio do hospital de Quixeramobim (Sertão Central)”.

É natural ajudar naquilo que eu puder ao Ceará, mas agora terei uma obrigação muito menor, porque não terei mandato a partir do dia 1º de fevereiro

Pouco mais de dois meses depois, que avaliação faz das eleições deste ano?
Saio tranquilo. Sou democrata, aceito resultado das Eleições, respeito a decisão do eleitor que é quem nos coloca e nos tira daqui. Respeito a opção e espero que alguém que venha para o meu lugar trabalhe muito mais do que eu trabalhei pelo Ceará. Cumprimos tudo que combinamos na aliança (com o grupo político do governador Camilo Santana). Lamento que alguns não tenham cumprido e até trabalharam contra. Mesmo assim, nunca discriminei ninguém por conta disso.

Como o senhor prevê a relação do Governo de Jair Bolsonaro com o Estado do Ceará e a região Nordeste?
Espero que o presidente eleito seja o presidente de todos os brasileiros. Pautas bombas que chegaram a minha mesa nenhuma foi votada como a do FGTs e da moradia popular, ficou em regime de urgência e não votei porque entendo que embora não tenha votado em Bolsonaro, sou democrata e na hora que a população escolheu o presidente ele é o presidente do País. Espero que ele pense dessa forma. Mesmo o Nordeste não tendo dado a maioria a ele, (a Região) precisa dos governantes. Espero que aconteça a ampliação de mais recursos e o equilibro das regiões, que o Nordeste seja incluído nessa perspectiva (de investimentos).

Em relação à indicação de cargos no governo do Camilo, podemos esperar participação sua ou do MDB?
Não tenho preocupação na montagem do governador Camilo. Me dediquei 24 horas à vida pública pra fazer o ‘dever de casa’. Nunca fiz política em busca de cargos, mas da busca de desenvolvimento. O Camilo não precisa se preocupar com o MDB e nem comigo. Fizemos uma aliança com ele e cumprimos tudo o que foi prometido, liberei recursos e tenho a convicção de que ele vai montar um governo pra gerir bem o Ceará e bem os recursos. Se o MDB será contemplado ou não, não me preocupo. A minha preocupação é que ele faça uma gestão melhor ainda do que a última. O MDB irá apoiá-lo e não medirei esforços para ajudar o governador. A questão de cargos e secretários cabe exclusivamente a ele. Ele me perguntou sobre a montagem e eu disse que ele deve fazer 100% o que achar melhor de forma conciliadora.

Planos para o futuro e para as próximas eleições?
Entrei na política sem precisar e nem depender de ninguém. Nunca fiz proselitismo, nunca recebi um único centavo das verbas indenizatórias. Me dediquei 24 horas em 20 anos. Tem tanta coisa pra fazer, sabia? Vou cuidar dos meus netos, dos meus animais. Depois dos 65 anos, quero curtir as 24 horas que o dia tem, porque na política você é consumido por tantas demandas que você até esquece de almoçar ou tomar café. É natural ajudar naquilo que eu puder ao Ceará, mas agora terei uma obrigação muito menor, porque não terei mandato a partir do dia 1º de fevereiro. Não sei se voltarei para as empresas, vou viajar e curtir um pouco a vida.

Saiba mais
Derrota nas urnas para Luis Eduardo Girão

Favorito à reeleição, o senador Eunício Oliveira (MDB) acabou não repetindo o mesmo sucesso das urnas de 2010. O parlamentar cearense, que se tornou presidente do Senado com a bênção de Renan Calheiros, foi derrotado por apenas 0,16% dos votos válidos. A disputa eleitoral foi marcada por uma guerra judicial contra Luis Eduardo Girão (Pros). A vitória de um nome da oposição surpreendeu a classe política local. Eunício tinha projetos de ser governador do Estado, mas, depois de ser derrotado por Camilo Santana (PT) em 2014, preferiu se manter influente em Brasília, o que acabou não acontecendo.

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